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Aramis

Viaje no tempo musical de Simone a Adoniran Barbosa

Como é época de arriscar o mínimo e mostrar competência administrativa, as gravadoras estão remexendo seus arquivos e reciclando suas reedições. Para tanto buscam gente competente, capaz de montar discos básicos ou então promover fiéis reedições - como os históricos três álbuns básicos de João Gilberto ou cinco LPs de Milton Nascimento conforme a EMI-Odeon fez há algumas semanas - e que merecerão registro especial nos próximos dias. A Polygram, com a experiência de Roberto Menescal, que a dirigiu artisticamente por quase 20 anos, também tem feito relançamentos excelentes - como sempre em versões de fita cromo e também CDs, aproveitando o mercado que cresce cada vez mais. Francisco Rodrigues, tão competente na área de marketing promocional como produtor, está sabendo aproveitar o imenso acervo nacional e internacional da EMI-Odeon, para qual passou após anos de atuação na CBS - nesta, com Maurício Quadrio fazendo os relançamentos. No último pacote EMI-odeon, estão dois álbuns importantíssimos em termos de revisões de obras de uma intérprete - Simone - e de um compositor - Adoniran Barbosa. Num projeto associado a SBT, "Do Meu Jeito", em dois elepês, mostra cinco anos dourados da carreira de Simone (Bittencourt de Oliveira, Salvador, 25/12/1949). Crescendo num ambiente musical - o pai havia sido cantor de ópera e a mãe tocava piano - Simone foi campeã de basquete chegando a integrar a seleção brasileira, da qual foi afastada as vésperas de um campeonato mundial por contusão no tornozelo. Em 1962, depois de ouvi-la cantar entre amigos uma música de Roberto Carlos, Moacir Machado assinou um contrato de quatro anos - renovado posteriormente - e a 20 de março de 1973 iniciava a gravação de seu primeiro LP (que, temos orgulho, fomos os primeiros a elogiar aqui em O Estado). Em outubro do mesmo ano, o olhar clínico de Hermínio Bello de Carvalho a incluiu, ao lado de João D'Aquino no violão, no espetáculo "Panorama Brasileiro", apresentado na Feira Brazil Export, em Bruxelas e no Olympia, de Paris. Dai em diante ninguém mais segurou a cantora, hoje uma superstar com público dos mais fiéis. Na montagem dos dois LPs para "Do Meu Jeito" estão 28 músicas lançadas entre 1975/80, que cobrem um período bastante definido de nossa melhor MPB, especialmente em composições de Milton Nascimento, Chico Buarque, Ivan Lins - Vitor Martins e Gonzaguinha, entre os nomes mais famosos. Mas também outros autores que Simone revalorizou - como o paulista Lucio Cardim (1932-1988), com seu clássico "Matriz ou Filial", a dupla Sueli Costa-Cacaso (Antônio Carlos de Brito, 1943-1987), com "Face a Face" e "Medo de Amar nº 2", os mineiros Borges ("Para Lennon e McCartney", "Tudo que Você Podia Ser"), Maurício Tapajós-Aldir Blanc ("Estou Voltando") e, naturalmente, Geraldo Vandré ("Prá Não Dizer que Não Falei de Flores"). Num cuidado que poucas reedições tem, ao lado de cada faixa, na capa, há data de gravação, localizando-a em seu momento histórico artístico. Adoniran Barbosa (João Rubinato, Valinhos, SP-6/8/1910 - São Paulo, 23/11/1982) teve durante anos Os Demônios da Garoa como principal intérprete de sua música alegre, irônica, sociologicamente das mais interessantes. Personalidade fascinante, ator, comediante, criador daquilo que se pode chamar de "samba paulista", Adoniran teve, nos últimos anos de sua vida, a felicidade de ver um de seus melhores amigos, Pelão (J. C. Botezelli) produzir dois históricos álbuns, com os melhores intérpretes dando notáveis (re)criações de suas grandes músicas. Posteriormente outros projetos - inclusive um de Aretuza Garibaldi, da Sigla/Som Livre, voltarem-se para a mesma fonte, mas os álbuns produzidos por Pelão foram os melhores. E deste material, basicamente, foram extraídas algumas faixas para "prova de Carinho", que com texto de contracapa do produtor Fernando Faro e também detalhando as datas de cada gravação, reúne 30 grandes momentos musicais de sua carreira. Naturalmente, a maioria das faixas são com os Demônios da Garoa. Em gravações que vão desde a marcante "Saudosa Maloca", passando por "Tocar na Banda", "O Samba do Arnesto", "Samba Italiano". Com o próprio Adoniran temos "Vide Verso Meu Endereço", "Envelhecer é uma Arte", "Bom Dia, Tristeza" (sua única parceria com Vinícius de Moraes), "Prova de Carinho", "Torresmo à Milanesa", "Iracema", "Tiro ao Alvaro", "Despejo na Favela", "Viaduto Santa Efigênia" - estas sete em interpretações divididas com Vania Carvalho, Carlinhos Vergueiro/Clementina de Jesus ("Torresmo..."). clara Nunes ("Iracema"), Elis Regina ("Tiro..."), Djavan, Gonzaguinha e, por último, "Viaduto Santa Efigênia", novamente com seu amigo Carlinhos Vergueiro. Fechando o lado B, sua gravação feita 7 de janeiro de 1974 daquela que foi, o grande sucesso no Carnaval do IV Centenário do Rio de Janeiro: "Trem das Onze". Adoniran completaria no dia 7 de agosto seus 80 anos. Merecia maior número de homenagens mas com este álbum, Francisco Rodrigues fez com que a Odeon, ao menos, lembrasse um pouco de sua imensa contribuição à MPB. Como há necessidade de contrabalançar produções culturalmente mais significativas - mas nem sempre com retorno imediato - com produtos de fácil consumo, Francisco Rodrigues também cuida de montar discos-marketing de custo mínimo e vendagem certa nos balcões de ofertas. É o caso de "Dance! Década Explosiva", montando hits dançáveis, sem interrupção, para utilização especialmente nas discotheques e festas de embalo, com hits como "My Pleage of Love", "My Sweet Lord", "Satisfaction", "Let's Twist Aain", "Nice and Slow", "Tutti Frutti", entre outros produtos que foram lançados não apenas numa década, mas ao longo dos últimos 20 anos - o que continua rendendo direitos aos seus autores.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
16/09/1990

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