A vida de Miller e o livro de Virginia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de julho de 1989
O brasileiro está cada vez mais querendo saber da vida alheia. E das pessoas importantes. O que é ótimo!
Nunca se publicaram tantas biografias, memórias, depoimentos, relatos pessoais, nas mais diversas áreas, como agora. Quanto mais apimentado, melhor para as vendas. Embora nenhuma editora tenha ainda se atrevido a lançar as biografias "não oficiais" de Elvis Presley e John Lennon nos quais Albert Goldman deita e rola em maldades sobre estes dois ídolos da juventude dos anos 50/60, não faltam biografias de atores, atrizes, escritores, homens de sucesso, maestros, etc.
Entre tantos livros que, de uma forma ou de outra, ajudam a conhecer melhor gente famosa - e trazem revelações importantes, há trabalhos de realce maior. É o caso da muito esperada autobiografia de Arthur Miller ("Uma Vida", tradução de Raul de Sá Barbosa, 555 páginas, editora Guanabara) e do volume dedicado a escritora Virginia Woolf na série "Escritores de Sempre", por Monique Natham (José Olympio Editora, tradução de Léo Schilafman, 210 páginas).
xxx
Para uma (grande) faixa de leitores, o que mais interessaria nas memórias de Arthur Miller seria a descrição de sua vida com Marilyn Monroe (1926-1962) com quem foi casado num importante período que, de certa forma, retratou (com alguma crueldade) em sua peça "Depois da Queda". Mas Arthur Miller (Nova Iorque, 17/10/1915) é um intelectual de uma grande dimensão (e também um cavalheiro) de forma que não iria calcar o depoimento de sua vida apenas em torno de uma de suas esposas - de quem fala com ternura e amor. Um dos maiores nomes do teatro contemporâneo, autor de peças corajosas e sociais ("Todos São meus Filhos", 1947; "A Morte do Caixeiro Viajante", 1951; "As Feiticeiras de Salém / The Crucible", 1955; "Panorama Visto da Ponte", 1955) nas quais denunciou inclusive o macartismo (do qual foi vítima), a leitura das memórias de Miller é fascinante. Um texto nem sempre fácil, evitando os lugares comuns, traz, entretanto, a dimensão de um dos grandes intelectuais de nossa época - com uma obra que sempre ofereceu elementos de reflexão - e que continua atualíssima. Em outubro, quando da temporada de "O Preço", no Guaíra, o público poderá sentir mais uma vez como Miller é um extraordinário autor.
xxx
Com o volume dedicado a Virgínia Woolf (Londres, 1882 - Sussex, 1941), a José Olympio dá continuidade a série "Escritores de Sempre", que já lançou "Sartre", "Becket" e "Proust". Inteligente e esclarecedor, o livro de Monique Natham - publicado originalmente na França, em 1956 - traça com perspicácia o universo fascinante da autora de "Orlando Furiosa" e investiga sobre sua vida e obra, montando, com precisão, esses elementos.
Enviar novo comentário