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Aramis

Vídeo independente amplia cada vez mais a realidade

A necessária abertura também para o vídeo, fez com que a Jornada de Cinema da Bahia - a exemplo do que acontece no FestRio - passasse a oferecer múltiplos programas. Assim, mesmo sendo ainda uma promoção modesta dentro de sua realidade, as sessões se multiplicaram, com os vídeos agrupados tanto na área competitiva como informativa - distribuídas no auditório do Instituto Goethe, como no salão Atlântico do Hotel da Bahia (ao menos nos primeiros dias, pois, na segunda-feira a aparelhagem ali instalada pifou). De diferentes metragens, com temática variada, os vídeos trazidos a Salvador mostram as potencialidades deste novo veículo na realização tanto de obras de ficção como, especialmente, documentários. Um amplo espaço seria necessário para descrever os vídeos com diferentes propostas de seus autores - mas todos, basicamente, voltados à domumentação da realidade. Na área competitiva, a premiação maior foi para "Saúde", realizado pelos pernambucanos Germano Filho, Luiz Lourenço e Pedro Aarão, uma abordagem em 30 minutos sobre as relações sociais que condicionam a vida do trabalhador na camada popular, sua organização em torno das necessidades e a discussão dos "Sistemas de Saúde". Obteve o prêmio Walter da Silveira (o nome é em homenagem ao mais respeitado crítico de cinema da Bahia, já falecido) no valor de Cz$ 100.000,00. Entre os 23 vídeos em competição (quatro dos quais estrangeiros), houve outras premiações. Assim "Raça Negra", 22 minutos, de Nilson Araújo, com uma abordagem da situação do negro durante a escravidão e o trabalho moderno do negro em particular, recebeu o Tatu de Ouro pelo "melhor enfoque afro-latino-americano". Delma Lóes, que como atriz chegou a ser explorada em pornô-chanchadas há alguns anos mas que, a exemplo de Marlene França, tem se revelado uma realizadora de garra, apresentou um emocionante vídeo de 50 minutos no qual discute uma nova mulher e um novo homem dentro de um mundo também mais humano, com uma linguagem humorística, através de depoimentos de profissionais de vários campos de atividade humana: "Nossas Vidas" recebeu o Tatu de Prata de melhor direção. "Ganchos 888... e Deu Boi na Cabeça", no qual Gilberto Motta documenta em 17'28" os confrontos ocorridos durante a Semana Santa entre os adeptos da farra do boi em Santa Catarina - especialmetne na localidade de Ganchos, foco principal da resistência farrista, também teve seus méritos destacados. Recebeu menção honrosa. xxx Democraticamente, mesmo os vídeos que não foram selecionados para a mostra competitiva também tiveram exibições em mostras informativas. Assim, "O Painel do Iguaçu", de Valêncio Xavier - mostrando a obra que seu amigo Poty Lazzarotto realizou há poucos meses -, "Em Cena: Meio Ambiente", "Catumbi: Uma Tradição Negra", "Teatro Municipal: Um Espetáculo Carioca" e "Vernissage". Igualmente, os filmes não selecionados, mas enviados à Jornada, também tiveram exibição informativa. Foi o caso de "Querida Menina", de Nivaldo Lopes (Bolinha) e "Ah... Essa é Boa!!!", de Paulo José Friebe - da turma do Balão Mágico, de Curitiba. xxx Se mesmo os filmes 35mm, de longa-metragem, levados a festivais, encontram muitas vezes dificuldades de chegarem aos circuitos normais, o que dizer dos vídeos independentes, principalmente tratando de assuntos políticos e polêmicos? Isto faz com que espaços que se abrem - como o FestRio (cuja amostragem de vídeos é das maiores do mundo) e agora também em Salvador, signifiquem uma das poucas chances de se conhecer trabalhos importantes, mostrando as potencialidades do VHS, NTSC, PAL-M ou outros sistemas que vêm sendo utilizados pelos videomakers. Pela sua própria nova tecnologia, a exibição pública de vídeos - exigindo telões, aparelhos especiais (e nem sempre disponíveis) exige dos organizadores destes eventos um novo tipo de assessoramento. Numa das noites da Jornada, preocupado com os múltiplos programas desenvolvidos - e exigindo uma intensa movimentação de operadores e aparelhos - Guido Araújo comentava com Bernardo Verobow, da cinemateca de São Paulo: - "O vídeo é uma opção maravilhosa mas acho que os velhos projetores de 16mm, com todas suas dificuldades, ainda davam menos trabalhos na organização de um festival. LEGENDA FOTO - Pedro Aarão, no centro, dirige uma seqüência do vídeo "Saúde", Prêmio Walter da Silveira. Aarão, 35 anos, residiu em Curitiba em 1977, aqui trabalhando na montagem de "A Árvore dos Mamulengos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/09/1988

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