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Vídeo Trade, o ano zero do vídeo sem pirataria

Na segunda-feira, 7, logo pela manhã, Cyro Del Nero, 57 anos, principal executivo da I Vídeo Trade Show manteve contatos com a direção do Paulistur e da Fundação Bienal de São Paulo. Razão: conseguir uma área de, no mínimo, 16 mil metros quadrados, para a II Vídeo Trade Show. Bastaram os dois primeiros dias da mostra - que se encerra, nesta quarta-feira, 9 de março - para provar o sucesso de uma idéia "que existia latente e foi concretizada no momento exato" como explica Del Nero, que além de cenógrafo e diretor de arte, também é um homem de exposições, tendo inclusive organizado o stand do Brasil na Feira Mundial de Osaka, no Japão, em 1970. Inaugurada na noite de sexta-feira, 4, já no sábado, aberto ao público a partir das 10 horas da manhã, no limitado espaço circular do Palácio das Convenções do Anhembi, houve nada menos que 8 mil visitantes-pagantes. Somando-se aos milhares de convidados - entre proprietários de locadoras e distribuidores, autoridades e imprensa, o número de pessoas que superlotaram a Feira, em seus três primeiros dias ultrapassou a 50 mil pessoas até segunda-feira. Somando-se ao interesse popular que tornava difícil caminhar entre os stands espalhados por uma área de cinco mil metros quadrados - num calor de mais de 35º - havia o que mais interessava aos expositores, justificando o investimento feito por cada um: muitos negócios. Em cada stand de distribuidoras, fitas de donos de locadoras, vindos de vários Estados e, especialmente do interior de São Paulo, compravam pacotes de filmes, entre os já lançados anteriormente e, especialmente para esta ocasião. Mas não eram apenas as distribuidoras de vídeos que mostravam suas mercadorias: seis fabricantes de videocassete, cinco de fitas virgens, além de produtos ligados a nova tecnologia do vídeo - desde suportes de aparelhos de televisão até antenas parabólicas - mais atrações especiais, como o Vídeo Wall - em tempos de tecnologia a vedete para o público. A hora da feira Diretor de arte do filme "Quincas Borba", de Roberto Santos (1927-1987), Cyro Del Nero esteve em abril do ano passado no XV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado. Ali, se de um lado teve a frustração de ver a fria recepção do filme que Santos havia realizado sobre o romance de Machado de Assis (a tal ponto que, ao voltar do Festival, sofreu um ataque cardíaco e morreu no aeroporto de Cumbica, em SP), Cyro Del Nero sentiu "que era a hora e a vez de fazer uma feira só de vídeo". Gramado começou, nos últimos dois anos, a abrigar de maneira tímida - algumas empresas ligadas ao vídeo, mas pela própria falta de infraestrutura que possibilite a expansão do Festival (em si, já, o mais importante do País), não havia interesse de seus organizadores em estimular a participação do vídeo. Homem inteligente, experiente, Cyro Del Nero sentiu que era o momento certo: nem bem voltou do Festival, convocou dois amigos, J. D'Avila e Gilberto da Silva, criou o JGC empreendimentos e buscando pessoas das mais capazes - Yuko Suzuki na parte executiva, Antônio Carlos Raelle no setor de vendas e Moracy do Val para a direção de marketing, o projeto deslanchou. Um investimento total de US$ 1.500.000 - entre a locação do espaço, infraestrutura, promoção etc. - compensou plenamente: 160 expositores reunidos durante cinco dias numa grande feira de negócios na área do entretenimento que mais vem crescendo no Brasil - o vídeo. Vídeo, ano zero Como dizia o próprio Cyro Del Nero, na tarde de domingo, para um grupo de jornalistas especializados em cinema e vídeo, "a partir de agora estamos no ano zero do vídeo em termos empresariais". Os cinco primeiros anos - em que o mercado começou a ser implantado, foi a época da pirataria, da guerra-de-foice, da improvisação. A partir de agora, "só ficará no setor quem seja do ramo, quem se disponha a se profissionalizar". E a Vídeo Trade Show foi a primeira oportunidade, real, de aferição do mercado, ainda com dados insuficientes - e sofrendo, naturalmente de muitos aspectos herdados da fase de pirataria. Existem hoje, registrados no Concine, 200 empresas distribuidoras - ou seja, que oficialmente devem atuar na produção e distribuição de vídeos legalizados. Del Nero reconhece: - É um número elevado, irreal. Evidentemente que sofrerá uma redução, pois há muitas pessoas que pensam que basta ter um material VHS para disputar o mercado. Deste total ficarão apenas as empresas com melhor estrutura, capazes de saberem equilibrar o marketing e a real existência do mercado. Aníbal da Cruz João Filho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Vídeo Comunicação, anunciava, eufórico, na abertura da Vídeo Trade Show, que o Ministério do Trabalho havia aprovado, há poucos dias, autorização para transformação da ABEVC em sindicato patronal. Dono de duas das maiores locadoras em São Paulo - Estado no qual estão mais de 3.500 das seis mil locadoras oficialmente existentes, Aníbal Filho dizia: - É a prova de que o setor está adulto. Tanto é que os empregados das empresas de vídeo comunicação também irão organizar-se em sindicatos. O jornalista Luiz Carlos Franco, 34 anos, ex-diretor cultural da "Folha da Tarde", há oito meses editando o "Vídeo Business" e proprietário da agência "Gente de Propaganda/Primeira Página", responsável pela divulgação da Vídeo Trade Show, analisa outro aspecto do boom do vídeo: a proliferação de publicações especializadas. - O crescimento é grande e entre jornais e revistas, já há quase 20 títulos. Também haverá um enxugamento entre as publicações, pois o mercado, publicitariamente, não comporta um número tão grande. Entretanto, vale este crescimento pelo interesse renovado em termos de cinema. Idêntica opinião é de José Augusto Iwersen, 42 anos, curitibano, pioneiro dirigente cineclubista e exibidor de arte em Curitiba (cine Riviera), cineasta, hoje editor da revista "Cine Vídeo". - O mercado de vídeo trouxe um renascimento das imagens - com o cinema sendo descoberto por uma nova e exigente geração - ao mesmo tempo que cutuca os cinemaníacos. Tudo isto, fez com que, neste final de século, aquela lanterna mágica dos irmãos Lumière readquirisse uma nova luminosidade e encantamento. LEGENDA FOTO 1 - Desenhos com os 3 patetas ganharam uma promoção especial: quem diria que Ulysses Guimarães faria o público redescobrir os esquecidos trapalhões? LEGENDA FOTO 2 - Revistas de vídeo se multiplicam. Um curitibano, José Augusto Iwersen, edita em São Paulo a "Cine Vídeo" - com circulação ascendente. LEGENDA FOTO 3 - Antes da série "Rocky", Stallone fez um filme pornográfico, agora lançado no Brasil. Foi um dos mais vendidos na Vídeo Show.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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09/03/1988

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