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Aramis

Villa-Lobos lembrado com ótimas produções

O centenário de Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 5/3/1887-17/11/1959) felizmente não foi esquecido. Uma programação que se estenderá até o final do ano, não só no Brasil mas no exterior, incluiu milhares de concertos com suas obras, publicações, conferências, etc. Em termos fonográficos, as gravadoras brasileiras tem se mostrado tímidas, mas em compensação, empresas particulares, já no ano passado, fizeram investimentos em álbuns homenageando a grande Villa. A Coca Cola realizou o "Tom & Villa", enquanto que a Ângulo, construtora de São Paulo (responsável pelas obras de restauração do Teatro Municipal naquela capital) possibilitou que o grande Pelão (João Carlos Botezelli) realizasse um dos mais bonitos álbuns já idealizados em homenagem ao autor de "Bachianas Brasileiras" - e que deverá ter edição no exterior. Considerando as ligações de Villa-Lobos com o popular. Pelão pensou num álbum em que instrumentistas populares - mas todos de excelente nível - gravassem suas peças. O resultado foi ótimo, conforme aqui já registramos há meses, mas que não custa repetir. Assim, os violonistas João de Aquino e Maurício Carrilho gravaram as "Bachianas nº 4", enquanto Deo Rian, solista de bandolim, deu ao "Choro nº 1", uma leitura nova. Toinho Alves, do Quinteto Violado, com sua voz marcante torna inesquecível as "Bachianas nº 5". Já Zé Gomes, executante de rabeca, gravou a modinha "Seresta nº 5", enquanto o violonista Roberto Correa recria, na viola caipira a "Bachianas nº 2", Joel Nascimento, um dos grandes bandolistas brasileiros, deu vida nova a "impressões Seresteiras", enquanto a "Mazurca" foi gravada por Almir Sater e o "Schottish" (da Suíte Popular Brasileira) mostra todo o virtuosismo de Rafael Rebello ao violão. Dois integrantes da Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco (que está com um elepê na praça, pelo Som da Gente), João Lira e Adelmo, interpretam o "Choro nº 4". O GRANDE PROJETO Com uma tradição de apoiar grandes projetos culturais que vem de há muitos anos antes de se falar em Lei Sarney - a Fundação Emílio Odebrecht, ligada à Companhia Brasileira de Projetos e Obras, fez a mais ambiciosa homenagem a Villa-Lobos: dois elepês e um livro de Luis Fernando Horta. Assim como já havia produzido o álbum em homenagem a Dorival Caymmi, há dois anos - com dois elepês (um deles com arranjos de Radamês Gnatalli, num de seus últimos trabalhos), lançado numa caixa junto com o belo livro "Som/ Imagem/ Magia", das pesquisadoras Marilia T. Barbosa e Vera de Alencar, em projeto coordenado pelo competentíssimo Jairo Severiano (hoje, o mais ativo realizador de livros e discos culturais, na área da MPB), a Fundação Emílio Odebrecht realizou uma homenagem à altura do talento de Villa-Lobos. Luiz Paulo Horta, jornalista e compositor erudito, escreveu o livro em edição bilingüe (português/ inglês), com dezenas de ilustrações e informações preciosas sobre Villa-Lobos, inclusive toda sua obra. No álbum duplo, que acompanha a caixa-livro, a parte sonora não poderia ser melhor. No lado A do disco um, Turibio Santos, diretor do Museu Villa-Lobos, o maior divulgador da obra do compositor nos dias de hoje, executa "Choros nº 1", "Valsa-Choro", "Mazurka-Choro", "Gavota-Choro", "Prelúdio nº 2", e "Estudo nº 1". No lado dois do disco, o pianista Miguel Proença interpreta "Valsa da Dor", "Três Cirandas", "Impressões Seresteiras" e "Festa no Sertão". O disco dois, traz obra com formações maiores. Para interpretar os "Choros nº 7" (Settemino), foram reunidos Carlo Rato (flauta), Kléber Veiga (oboé), Paulo Moura (sax alto), José Botelho (clarineta), Noel Devos (fagote), Giancarlo Pareschi (violino), Watson Clis (violoncelo) e Hugo Tagnin (tam-tamb), sob a regência de Mário Tavares. "Dois Choros (Bis), que completa a face do disco, reúne o violinista Giancarlo Pareschi e o violoncelista Watson Clis. Finalmente, no lado B do disco dois, o próprio Villa-Lobos, rege a Orquestra Nacional da Radiodifusão da França, nas "Bachianas nº 5 e 9". Encerrando, um fonograma emocionante: breve depoimento de Villa, gravado em 1951, em João Pessoa. xxx Enquanto as gravadoras não se animam a produzir discos com novas gravações da obra de Villa, a CBS ao menos reedita dois Quartetos de Cordas de Villa, os de números 1 e 5, na interpretação do Quarteto Brasileiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Quarteto da UFRJ era formado por ocasião destas gravações por Santino Parpinelli (violino), Henrique Nirenberg (viola), Jacques Niremberg (violino) e Eugen Ranevsky (violoncelo). Até a capa deste relançamento não é original: foi aproveitado um cromo colorido do Quarteto, que ilustrava um outro disco também gravado na CBS, mas com peças de outros autores inclusive composições do curitibano Alceu Bochino, titular da nossa Sinfônica. De qualquer forma, isto não importa: tudo que se reedite e produza da obra do grande Villa se justifica. Nesta reedição, ótimo texto de contracapa é do especialista Zito Baptista Filho no qual detalha a importância dos Quartetos 1,5 e 16 de Villa-Lobos, obras datadas de 1915, 1931 e 1956, respectivamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
17/05/1987

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