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Aramis

Visões de 12 cidades abre mostra de cinema

Que ninguém se surpreenda no domingo, quando da abertura da extensão curitibana da XIV Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Cine Ritz, 19h30), quando for apresentado um dos 12 realizadores do filme que abrirá a promoção. Alto, barbudo, possivelmente com uma sacola de plástico numa das mãos - que já passou a fazer parte de seu logotipo, já que jamais larga esta "porta-utilidades" - Carlos (Oscar) Reichenbach, 45 anos, gaúcho de Porto Alegre mas paulista por opção, estará com o produtor Dick Rijnecke para a única exibição de um projeto que o inclui entre os mais festejados realizadores internacionais: "City Lights". Financiados pela Fundação "City Life" - criada exclusivamente para desenvolver o projeto de fazer com que cada cineasta oferecesse uma visão de sua cidade, com total liberdade (a única exigência foi a de que todos os episódios fizessem direta ou simbolicamente uma abordagem do naufrágio do navio inglês Titanic, que ocorreu em 14/4/1912), visou prestigiar 12 diretores que tiveram seus trabalhos revelados pelo Festival de Rotterdan. Reichenbach, apaixonado por cinema desde os 10 anos, formado pela Escola de Cinema de São Paulo e que por anos foi marginalizado como cineasta da Boca-do-Lixo ("Sonhos da Vida", "M da Minha Mão", "Lilian M: Relatório Confidencial", "Sede de Amar", "Império do Desejo"), passou a ser conhecido como cineasta inventivo e profundo, a partir do Festival de Gramado de 1983, que lhe deu uma menção honrosa por "Extremos do Prazer", atribuindo-lhe prêmios em 1985 por "Filme Demência" e consagrando-se finalmente, em 1986, com seu lírico "Anjos do Arrabaldde" (As Professoras). Convidado a participar do Festival de Rotterdan, se tornou um cineasta-cult, com mostras em Paris e elogios de "Cahiers du Cinéma". Assim, quando surgiu o projeto de se fazer um filme com jovens cineastas de várias partes do mundo, foi lembrado para o episódio sobre o Brasil. Escolheu, naturalmente, São Paulo ("Disorder in Progress") para mostrar sua visão urbana. Em janeiro, "City Life" abriu o Festival de Rotterdan e posteriormente foi exibido no Festival de Berlim. Agora, seu produtor Dick Rijnecke trouxe uma cópia (sem legendas), que terá apenas uma exibição em Curitiba. Felizmente, houve bom senso e este filme com episódios diferentes, mas abordando cidades tão diversas como Houston ("Unheavenly City", de Eugle Pennell), Varsóvia ("Seven Days in a Week", de Kryzstof Kieslowski), Buenos Aires ("A Short Story About Nothing", de Alejandro Agresti), Budapeste ("The Last Boat", de Bela Tarr), entre outros, substituirá o pesado e difícil "Mahbehara", de Peter Brook, que com quase três horas de duração, terá apenas duas projeções: na noite de segunda-feira, 5, e no encerramento da mostra (22). "City Life" também é um filme longo: os doze episódios dividem-se em duas partes, totalizando quatro horas. Poucos dos realizadores escolhidos para este projeto são conhecidos. O mais cultuado é o polônes Kryzstof Kieslowski que, no ano passado, teve "Decálogo" (incluindo "Não Matarás", escolhido o melhor da mostra de cinematografias desconhecidas, como o senegalês Ousmane William M'Baye ("Dakar-Clando") e o indiano Mrinal Sen ("Calcutá, My Eldorado"). A Espanha foi representada por José-Luis Guerin ("Eulália-Marta-April 1988"), Alemanha por Gabor Altorjay (Hamburgo, "Polshift"), a Itália por Clemens Klopfenstein ("Stones, Storm and Water in Arcadia", Bevagna) e a URSS por Tato Kotshvili ("Thou Shalt Not Speak Evil", Tbisili, URSS).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
02/11/1990

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