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Aramis

As visões do Nordeste nas cordas de Tapajós

Paraense de Santarém, Sebastião Tapajós, 48 anos, não liga quando por erro de impressão consta das notícias de que é paranaense e não paraense. Afinal, desde que veio a Curitiba pela primeira vez - e lá se vão mais de 15 anos - o bom Tião fez tantos amigos entre nós que por muito tempo fez de um apartamento no Guaíra Palace Hotel a sua moradia oficial no Brasil, entre viagens internacionais. Amigo tão maravilhoso como virtuose no violão, Sebastião Tapajós fez uma carreira artística reconhecida primeiramente no Exterior para só nestes últimos anos se fixar no Brasil - para o que contou muito o casamento e o nascimento de seu primeiro filho. Primeiro foi a Argentina que o teve por muito tempo, depois a Europa. Anualmente, tem o mínimo de duas excursões na Alemanha e outros países, sempre com casas lotadas. De volta a Curitiba, seja para fazer shows ou, especialmente, curtir reuniões com amigos e parceiros queridos - como os dois Gersons - o Fisbein (hoje um próspero empresário da construção civil, mas que continua bom de violão e poesia) e Biartetz, ex-BADEP, agora com o difícil desafio de fazer o Paiol, tal como um Fênix, reviver das cinzas que a incompetência da Fundação Cultural o lançou nos últimos anos. Há outros amigos e parceiros queridos, que fazem também o bom Tião sempre alongar suas temporadas curitibanas - como o Gio, virtuoso das cordas, dono de uma academia - e que com ele muito aprendeu. Sem falar no poeta e agitador cultural Heitor Valente. Sebastião está agora lançando um novo disco. Ou melhor, mais do que um elepê, um verdadeiro álbum-de-arte: "Visões do Nordeste", no qual além do disco com Sebastião mostrando ritmos maravilhosos, acrescentou dez reproduções de pinturas holandesas de Franz Post e Albert Eckhourt, nesta produção definida pela L'Art Produções Artísticas como "uma homenagem aos 350 anos da vinda de Maurício de Nassau ao Brasil". Lauro Henrique Alves Pinto, produtor do belíssimo álbum - candidato seguro a entrar entre as melhores produções fonográficas do ano - lembra que "a História do Brasil ainda nos deve uma reparação pelo fato de mostrar, na permanência dos holandeses em nosso país, nos séculos XVI e XVII, apenas o lado perverso de um invasor herege. A brilhante obra civilizatória que, por influência de Nassau transformou o Brasil de 1940 na terra mais exuberante de toda a América, foi metodicamente destruída e pacientemente eliminada da memória nacional". O projeto deste álbum começou como um brinde de fim de ano do Banco Holandês em 1986. Explica o produtor Lauro Henrique: - "Fizemos um estudo sobre as influências que a missão civilizadora do conde Maurício de Nassau teria exercido sobre as manifestações populares do Nordeste, tão ricas e tão peculiares, dentro do Brasil. Descobrimos que a música do Nordeste, tal como ela é hoje, tem muito a ver com aquele passado tão esquecido de nossa História. Toda a arte, silenciosa e estática, que as caravelas do ilustre holandês nos trouxe, ganhou sentido, alma e movimento graças ao povo místico, bravo, fantasioso e comunicativo que ali habitava. Assim, "Visões do Nordeste" procura mostrar isso. Sebastião usou temas originais do século XVII e canções do folclore, dando, naturalmente, uma "tinta" contemporânea. "Mulher Rendeira", o clássico tema de raízes folclóricas mas que foi internacionalizada há 35 anos na trilha de "O Cangaceiro", é revisitado por Tapajós, que incluiu também o desafio "Violões do Nordeste", "Engenho de Humaitá", além de Maracatu, Dundu, Frevo, Capoeira, entre outros ritmos. "Visões do Nordeste", é o segundo elepê de Sebastião Tapajós gravado pela L'Art, etiqueta fundada pelo pianista Arthur Moreira Lima, e que há 3 anos editou "Romanza", considerado um dos melhores elepês instrumentais de 1984. Tapajós, mais de 30 discos gravados em vários países, premiações e um reconhecimento da crítica e do público, mantém a simplicidade que caracteriza os grandes talentos. Explica: - "A musicalidade contida nestes ritmos expressa os sentimentos mais intimistas do povo brasileiro. É fascinante pelo fato de ter uma construção melódica e harmônica, bastante clara e definida, diferente da usada no restante do país, possivelmente uma decorrência da influência holandesa". Tratando-se de uma produção independente, sem distribuição nas lojas, "Visões do Nordeste" (Cz$ 330,00) pode ser encomendada pelo reembolso, por carta (Rua Dr. Garnier, 143, CEP 20971, Rio de Janeiro) ou por telefone (281.3736). LEGENDA FOTO - Gravuras holandesas e o som do Nordeste numa realização de arte de Sebastião Tapajós.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/08/1987

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