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Aramis

O moinho de Ivens

Ivens de Jesus Fontoura poderia preencher o item "profissão" nas fichas que assina com quase uma dúzia de palavras. Afinal, se basicamente é professor universitário – na Escola de Música e Belas Artes e no curso de Comunicação Visual da Universidade Federal do Paraná – sua criatividade nunca o permitiu ficar apenas no simples magistério. Quando estudante, Ivens se deu ao luxo de fazer – e passar- em cinco vestibulares, formando-se em Educação Física, Belas Artes e Filosofia – deixando, apenas por falta de tempo, de concluir os cursos de arquitetura e direito. Como artista plástico Ivens tem sempre inovado. Busca novas formas de compor seus trabalhos, propõe novos materiais e desenvolveu uma linha de criação – usando papéis cortados que permitem múltiplas fórmulas que mereceria até uma patente. Como designer já criou quase uma dezena de símbolos, marcas, cartazes e programações visuais, muitas premiadas nacionalmente. Ao lado da esposa, a igualmente múltipla e talentosa Márcia Simões, Ivens também se voltou à fotografia e ao cinema – e um curta metragem que rondou há 8 anos, focalizando o roteiro de uma das últimas colônias de Santa Felicidade que não abandona(va) a carroça puxada por dois velhos cavalos, no centro da cidade – está como um documento sociológico de uma época. É necessário recordar um pouco do perfil de Ivens para entender muito do que faz. Ao saber que um velho moinho de milho, movido a água pelo Rio Barigüi, estava sendo desmanchado nas proximidades de Araucária, Ivens se propôs a salvá-lo. Passou semanas convencendo o dono da empresa que demolia o centenário moinho de sua importância histórica e , finalmente, conseguiu adquiri-lo por Cr$ 40 mil. Gastou mais de 60 mil para transportá-lo até a Rua Amazonas Marcondes, na Colônia Argelina, onde o guardou cuidadosamente – peça por peça. Fez mais: recolheu terra do local onde estava o moinho, restos de farinha ali preparado e outros pequenos objetos – que no futuro vão compor um pouco da sua memória. E para remontar o moinho de fubá, Ivens modificou o projeto de sua casa atelier – reservando todo o térreo-porão para abrigar as duas imensas rodas, as engrenagens, a moagem – enfim, numa reconstituição perfeita. xxx Evidentemente que algum tempo vai se passar até que Ivens possa concluir a sua casa atelier com o moinho em seu interior. A construção da mesma está sendo feita dentro de seu orçamento de professor e designer, ou seja, a custa de muitas economias. Mas o bom gosto, o capricho e a seriedade que caracterizam todos os seus projetos fazem que, desde já, o moinho de fubá – segundo as primeiras pesquisas foi construído há cerca de 150 anos, por antepassados da família Todeschini, terá, em suas mãos, uma preservação que deveria ser a do Patrimônio Histórico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
19/01/1982

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