Cartola, adeus!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de dezembro de 1980
E o bom Cartola se foi. Na madrugada de domingo, o querido e imenso Agenor de Oliveira, poeta maior, foi reforçar o time celestial que, como tão bem disse o amigo Alceu Schwaab, está ficando cada vez melhor que o time cá de baixo. Por telefone, o parceiro e padrinho de Cartola, Herminio Belo de Carvalho, nos comunicou, ontem ao amanhecer, a morte do autor de "As Rosas Não Falam". O que acrescentar frente a uma pessoa tão maravilhosa quanto Cartola, que tivemos a felicidade de conviver, mesmo que rapidamente, nas vezes em que aqui esteve? Na correspondência da semana, o último bilhete do amigo. Datado de 16 de novembro, o seu poema "Anjo Mau", impresso a 11 de outubro para comemorar o 72º aniversário, junto com uma dedicatória: "Amigo do peito. Que saudades meu velho amigo. Quando nos veremos? Já que não é possível em pessoa, valoroso crítico curitibano, mando-te uma obra para teu arquivo. Teu amigo Cartola".
O poema
Eu queria que Jesus
Um dia à terra voltasse
Mas temo que muita gente
Na cruz de novo o pregasse.
De que cratera saíste
Em que lamaçal brotaste -
Por que fizeste tão mal
Nos lugares que passaste?
Porque este olhar satânico
Que força mal te conduz?
Eu noto ficas em Pânico
Quando deparas a cruz!
Por que disfarças um sorriso
Quando vês alguém no leito
Em bom som dizes "coitado"
Depois sussurras "bem feito".
Porque não foges pra's trevas
Igual a um cão acuado?
[Embrenha-te no infinito
E deixa-nos sossegados.
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