A categoria de "Fedra" começa pelos programas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de outubro de 1986
Uma das explorações que mais irrita o espectador de teatro é a venda das chamadas "revistas-programas", que oferecidas a Cz$ 50,00, limitam-se a trazer alguns dados do espetáculo entre muita publicidade. Para quem já gasta de Cz$ 140,00 a Cz$ 300,00 pelo ingresso - mais o estacionamento do carro, um custo adicional que eleva a ida ao teatro para um casal ao redor de Cz$ 500,00.
Entretanto, como há certos espetáculos que justificam o preço do ingresso, há também os produtores que têm a dignidade de oferecerem revistas-programas que valem o que custam. Quem for assistir a "Fedra" de Racine (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, 30 de outubro a 2 de novembro) será duplamente gratificado: a peça é uma das melhores já apresentadas em Curitiba e a revista-programa vale muito mais do que os Cz$ 20,00 que custa.
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Falar da importância de Fernanda Montenegro dentro do teatro brasileiro é chover no molhado. Melhor atriz de nossos palcos, de uma dignidade sem par na vida artística, Fernanda é sinônimo de qualidade artística. Ao longo de quase quatro décadas, Fernanda Montenegro sempre esteve presente nas melhores montagens - sejam comédias ("Computa, Computador, Computa", "O Amante de Madame Vidal", "A Mulher de Todos Nós"), dramas ("A Mais Sólida Mansão", "O Interrogatório", "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant"), no cinema ("Em Família", "Tudo Bem", "Eles Não Usam Black-Tie") e na televisão - desde os tempos do Grande Teatro Tupy às telenovelas de sucesso do momento.
A montagem de "Fedra" de Jean Racine (12/12/1639 - 1/4/1699) foi um projeto longamente curtido, e que resultou do encontro de muitos talentos: diretor Augusto Boal, Millor Fernandes (tradutor), cenógrafo-figurinista Hélio Eichbauer, produtor Fernando Torres e um elenco excelente - Edson Celulari, Wanda Kosmos, Joyce de Oliveira, Cássia Kiss, Betty Erthal, Jonas Mello e Linneu Dias.
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A revista-programa de "Fedra" é mais do que uma simples publicação informativa para se ler antes do espetáculo começar. Com 70 páginas, papel da melhor qualidade, traz textos que ajudam o espectador a penetrar na complexidade dos personagens desta tragédia escrita em 1677, considerada uma das obras primas do teatro clássico francês - baseado num mito da antiguidade grega, cuja primeira versão teatral conhecida, intitulada "Hipólito", data de 428 a.C. e é de autoria de Eurípedes. No século I a.C., em Roma, Sêneca escreveu uma "Fedra" que também ficou na história da dramaturgia. No cinema, em 1960, o cineasta Jules Dassin, modernizou a tragédia, num filme estrelado por Melina Mercouri - na época, sua esposa, hoje a Ministra da Cultura da Grécia.
Além de textos sobre os artistas que participam da montagem, há um minidicionário sobre "Os Divinos e Humanos em Fedra", e "A Geografia de Fedra", fundamentais para se entender melhor toda a estrutura desta peça que depois de lotar auditórios no Rio e São Paulo, está agora percorrendo as principais capitais brasileiras, numa temporada administrada eficientemente por Verinha Walflor.
LEGENDA FOTO - Fernanda Montenegro, o maior nome do teatro brasileiro, em "Fedra", a partir de hoje no Teatro Guaíra.
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