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Aramis

A continuidade faz com que nível cresça cada vez mais

Fazendo questão de colocar a gravata antes de iniciar a rápida entrevista coletiva ("é uma questão de ritual, cumpramos pois!"), o maestro Eleazar de Carvalho, mostrava-se sobretudo bem humorado e satisfeito com o resultado do Festival. Para quem, como ele, já regeu as maiores sinfônicas do mundo inúmeras vezes e teve entre seus alunos nomes internacionais como o de Seizo Ozawa e Cláudio Abbado, o Festival de Campos do Jordão é sua menina dos olhos. Há 15 anos, ao ser convidado para dirigí-lo, aceitou com a condição de poder aplicar o modelo do festival de Tanglewood, cidade de Lenox, Estado de Massachusetts, EUA, criado por seu mestre, Sergei Koussewitzki (1876-1951) - o fundador do Berkshire Festival, promovido pela Sinfônica de Boston. Existem vários festivais de música erudita - o de Teresópolis, cronologicamente o mais antigo do Brasil; de Ouro Preto; de música contemporânea de Santos; o de Londrina (capengando na administração Richa), e o finado Festival de Curitiba (sobre o qual falaremos amanhã). O de Campos do Jordão, entretanto, tem na sua continuidade, nível dos concertos e resultados obtidos, o que obtém maior repercussão. O secretário Jorge Cunha Lima, que no ano passado havia prometido a construção de uma ala de apartamentos para os bolsistas, este ano ao entregar esta obra, foi praticamente intimado a um novo desafio: a ampliação dos espaços didáticos para o Festival, do que a reforma do antigo cine Albernesse, já faz parte. Pela atenção que Jorge Cunha Lima dá ao Festival, o próprio maestro Eleazar, durante a entrevista, lançou a sua continuidade no cargo, "independente do governo que vier, pois o Festival não pode parar". João Marcos Coelho, 40 anos, jornalista, crítico musical do mais alto conceito, explica a motivação que faz Cunha Lima se integrar ao Festival com tanto afinco: - "Ele é um homem do ramo cultural. Gosta do que faz e portanto isto complementa o seu trabalho". A redução do número de bolsistas - de 400 (no ano passado) para 120 não foi apenas por razões orçamentárias. "Possibilitamos, assim, a participação dos músicos mais preparados, de nível mais elevado, para o máximo aproveitamento das aulas" explicou o maestro Eleazar, que embora, pessoalmente, não seja contrário, a presença de muitos alunos, acredita que para isto há necessidade de condições físicas. Inclusive de salas de aula apropriadas, a serem construídas já para o próximo Festival. Entre os bolsistas, uma presença marcante foi dos nisseis. Em diferentes instrumentos, os filhos de japoneses mostram também na música a raça em tantos campos de tecnologia e ciência. Experiente analista musical, acompanhando há anos o Festival de Campos do Jordão, João Marcos Coelho salienta a competência dos nisseis, por si só já responsáveis pelo ótimo rendimento não só da orquestra, mas também das várias outras formações - quarteto de cordas, trios, duos, etc. - que, ao longo das três semanas do curso, fizeram apresentações com ótimos resultados. Um corpo de professores de alto nível - entre os quais a violonista curitibana Maria Esther Brandão (agora Watanabe, com seu casamento com o violinista Koiti Watanabe) - ofereceu nada menos que 90 horas (45 por semana), "o que equivale a mais de dois anos de um curso regular, de uma hora de aula por semana" explicava Eleazar. Assim, 28 professores dedicaram-se aos 120 alunos, distribuídos entre 34 violinos, 14 violas, 12 violoncelos, 10 contrabaixos, 5 flautas, 5 oboés, 5 clarinetes, 5 fagotes, 6 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, uma tuba, 2 tímpanos, 5 percussionistas e 8 pianistas destinados às obras do repertório de música de câmera. Para o maestro Eleazar, "aprendizado; e um acontecimento paralelo à "festa" musical no qual se reúnem jovens estudantes numa ação comunitária que se nutre de amizade e de amor comum pela arte e têm a privilegiada oportunidade de dialogar, durante um mês, com mestres e artistas - executantes de repercussão internacional". Satisfeito e orgulhoso dos resultados, Eleazar enfatizou este aspecto do Festival: a preparação de novos virtuoses para a música erudita, através de cursos que se fortalecem como verdadeiros estágios de pós-graduação, pelo que oferecem aos jovens musicistas. Só isto, em si, já justificaria o Festival de Inverno de Campos do Jordão, hoje, mais do que nunca, uma promoção cultural consagrada e que prova de como uma boa administração cultural pode realizar um grande evento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
30/07/1986

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