Login do usuário

Aramis

Um festival (consagrado) em cenário europeu

Apesar de um orçamento menor que os Cr$ 200 milhões que o governo do Distrito Federal investiu no XXIV Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (3 a 10 de julho), Gramado inicia amanhã a 19ª edição de seu XIX Festival. Premiações menores que de Brasília - que também ofereceu o estímulo de Cr$ 5 milhões de aluguel para os filmes inéditos que lá concorreram - não reduziram o interesse dos realizadores pelo festival que acontece desde 1972 numa das mais acolhedoras cidades turísticas do Brasil. Ao contrário, o número de longas, médias e curtas inscritos foi tão grande que a comissão de seleção passou 13 dias, entre 2 a 14 de julho, reunindo-se na Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre, para definir os títulos que irão compor a mostra competitiva que começa amanhã à noite, no cine Embaixador. Oito longas, onze curtas e dois médias em 35mm - mais 7 curtas e dois médias em 16mm estarão disputando trinta Kikitos, o troféu em madeira que a artista Elizabeth Rosenfeld criou há 18 anos e que o artesão Xiko (Osvaldo Silva Marques) executa anualmente e que hoje é tão valioso para o cinema brasileiro como o Oscar. "Ter um Kikito na galeria de troféus é sempre uma prova de qualidade" costuma comentar o gaúcho Carlos Reichenbach, 46 anos, cineasta radicado em São Paulo e que passou a ser o mais valorizado no Brasil depois que seus filmes "Filme-Demência" e "Anjos do Arrabalde (As professoras)" trouxeram vários Kikitos nas edições de 1985/86. Um festival de fôlego Criado como uma modesta semana do cinema brasileiro, em janeiro de 1972, por iniciativa do decano da crítica cinematográfica gaúcha, o respeitadíssimo J. P. Gastal, do "Correio do Povo" - hoje aposentado o festival evoluiu a partir de sua quinta edição, graças especialmente à estrutura ampliada que Esdras Rubin, um capixaba que trocou o Rio de Janeiro (onde passou a juventude) pelo frio gramadense, lhe deu quando passou a colaborar na organização. As administrações municipais sentiram, as potencialidades do evento solidificar a imagem de Gramado como pólo-turístico na região serrana do Rio Grande do Sul, de forma que o evento passou a se constituir no principal ponto de seu calendário turístico. Administração municipal, apoio do governo do Estado - e também da Assembléia Legislativa que instituiu uma premiação anual para as melhores realizações de cineastas gaúchos e, principalmente, a integração comunitária - da rede hoteleira, restaurantes, serviços, o rico artesanato da região etc. - atraem milhares de visitantes - entre os quais de 200 a 300 nomes ligados ao cinema, teatro e televisão - para um festival dos mais agradáveis. Das primeiras edições centradas no aprazível Hotel Serra Azul, o evento deslocou-se em parte para o Hotel Serrano, que construiu um moderníssimo centro de convenções - ocupado durante toso o ano - e que com uma grande sala de projeção permite que os filmes em competição, curtas e médias, 16mm, ali sejam mostrados. O cine Embaixador, pertencente a uma sociedade de moradores da cidade, foi ampliado na administração passada mas mesmo assim continua a ser pequeno para receber as milhares de pessoas que disputam os lugares nas noites do festival. "Seria impossível ter uma sala que comportasse todos os espectadores interessados", comenta Esdras Rubin, que apoiado por uma competente equipe busca disciplinar a distribuição dos lugares, entre convites e carnês vendidos antecipadamente. Os filmes são reprisados nas manhãs, aumentando a possibilidade de serem vistos e, a partir de 1989, um antiga fábrica foi reciclada como Centro Cultural abrigando auditórios nos quais também ocorrem eventos paralelos. O festival de filmes em super-8, que como competição teve em Gramado o seu maior centro de resistência, foi realizado até o ano passado - e agora, como esta bitola desapareceu - (substituída pelo vídeo) - a competição acabou. Mas os "sobreviventes" que ainda tenham conseguido fazer filmes em super-8 poderão mostrar seus trabalhos - assim como videastas também terão aparelhagem para exibir seus trabalhos. Aliás, mesmo evitando abrir seus espaços para o vídeo como espaço competitivo (em Canela, cidade vizinha, no mês de agosto, acontece o III Vídeo Market e IV Festival de Vídeo), Gramado, como outros festivais (Brasília, Natal, Salvador, RioCine) não deixa de possibilitar que trabalhos diversos possam ser apreciados em horários alternativos. Inclusive, um dos canais internos do magnífico Hotel Serrano - um dos estabelecimentos mais bem administrados do país - será reservado este ano para que os videastas, produtores, distribuidores etc., que levarem produções possam exibi-las à vontade. O fotógrafo e videomaker Osval Dias de Siqueira Filho (Tiomkim), do Museu da Imagem e do Som e coordenador do grupo "Vídeo Vive", um dos poucos paranaenses convidados para o evento, ali estará levando uma dezena de trabalhos em vídeo realizados em Curitiba entre 1989/91 (*). O frio que aquece Com os convidados distribuídos não só nos hotéis Serrano - sede do festival e Serra Azul (no qual acontece a festa de encerramento), mas beneficiando toda a ampla rede hoteleira - já com sua capacidade lotada há semanas, devido às reservas de milhares de pessoas que afluem para a cidade, Gramado tem um faturamento de mais de um milhão de dólares durante o festival - representado pelos gastos que são feitos em hotéis, restaurantes, lojas de artesanato - madeira, pedras, couro etc. - indústria de roupas, malharias etc., serviços de turismo etc. A região é belíssima, há ótimos restaurantes - famosos especialmente pelos pratos de inverno (fondues, sopas etc), casas de lanches e uma população que sabe ver o festival de cinema não como um evento que consome recursos oficiais, mas - o que é importante - que dá à cidade uma projeção que nenhuma campanha publicitária igualaria - e, principalmente, trazendo benefícios diretos e indiretos - empregos, atividades especializadas e recursos financeiros para que a cada ano o festival cresça ainda mais. O prefeito Nelson Dinibier é o mais entusiasta do evento, ao lado do secretário de Turismo, o empresário José Mauro Netto, 42 anos. Supervisionando todos os preparativos - iniciados há mais de 90 dias - o secretário Netto procura fazer com que o evento supere este ano o sucesso dos anteriores. Para isto, além da experiência de uma equipe das mais ajustadas e a competência de Esdras Rubin - o grande "diretor técnico" do evento, tem aquilo que considera o mais importante: "O entusiasmo de todos que se envolvem neste festival - desde os participantes, em mostras competitivas, a população que mais uma vez, sabe a importância deste festival para a promoção de nossa cidade". Nota (*) A mostra "Vídeo Vive", já exibida no auditório do Instituto Goethe e que será levada também a outras cidades, é formada pelos trabalhos de Tiomkim ("Cenas de um sonho selvagem"), Carlos Tulio ("Barras"), Paulo Munhoz ("Campo de Força"), Werner Schulmann ("Volk"), Fernando Severo ("Instruções para subir uma escada"), Beto Carminati ("Welcome to Paradise", premiado no Fest-Maringá-90), e "Valêncio Xavier & Equipe" ("Blade Runner, o vídeo").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/08/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br