Um Senhor Talento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de outubro de 1987
Com o libanês nome de João Mansur Lufti, este paulista de Marília, canceriano do dia 15 de julho de 1933, ganhou há 23 anos, de seu amigo Aloysio de Oliveira a definição precisa no título do disco que fez no histórico elenco: "Um Senhor Talento".
Realmente, poucos artistas brasileiros tem uma obra tão coerente, digna e marcante como Sérgio Ricardo - pseudônimo artístico que adotou quando tinha 18 anos e começou a trabalhar nas primeiras telenovelas produzidas em São Paulo. Antes havia sido discotecário de uma rádio pertencente a um tio, em Santos e, posteriormente foi pianista da noite (quando gravou um elepê que nem ele possui) e iniciava uma carreira de compositor, que eclodiria com a gravação de "Bouquet de Isabel", na voz de Maysa.
Com "Zelão", alcançaria o sucesso em seu primeiro elepê ("Não Gosto Mais de Mim", 1961) que ficou como clássico da Bossa Nova intimista, embora não tivesse se integrado ao grupo da Zona Sul que fez a BN aparecer no início dos anos 60. Em seu segundo lp ("Depois do Amor"), seria apenas o intérprete e a partir de "Um Senhor Talento" passaria cada vez mais ao social e participativo - o que o levaria, nos últimos 15 anos, a ser praticamente marginalizado do esquema de consumo e produção.
Irmão de Dib Lufti - um dos mestres da fotografia, Sérgio sempre foi apaixonado por cinema - e às suas letras, são extremamente fotográficas - tendo, já em 1962, realizado o curta "Menino da Calça Branca". Fez outros curtas e três longas - "Este Mundo é Meu", "Juliana do Amor Perdido" e "A Noite do Espantalho" e há 14 anos sonha em transpor ao cinema as imagens de "Zelão", sua música mais conhecida.
Para o grande público, Sérgio é o autor de "Beto Bom de Bola", quando no Festival de MPB da Record, há exatamente 20 anos, irritado pela brutalidade do público, quebrou o violão no palco e ganhou a manchete folclórica das "Notícias Populares": "Violada no Auditório". Realmente, Sérgio é um talento maior - artística e politicamente, da maior coerência e dignidade - e que, ao se dispor a montar "Estória de João Joana" com o Ballet Guaíra, dará ao grupo de dança da Fundação Teatro Guaíra a dimensão nacional que o mesmo precisa recuperar.
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