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Aramis

Bach & Beethoven

A Polygram e a CBS continuam em saborosa (e de excelentes dividendos para os colecionadores) disputa para ver quem lança os melhores discos nos catálogos eruditos e jazzistico, enquanto a Barclay (ex-Ariola) também belisca o mercado, com ótimas produções. Graças a essa concorrência, a cada mês novos e bons álbuns chegam às lojas, numa desafio aos orçamentos de quem curte a música instrumental dos grandes mestres ou as criações jazzísticas mais importantes. Ainda bem, pois como importados passando dos Cr$ 35 mil, não há entusiasmo que resista as cifras... Por autores, vamos a alguns rápidos registros de lançamentos feitos nas últimas semanas. JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750) - é sempre um autor-base para as grandes interpretações. E a consagrada Academy Of. St. Martin-In-The Fields, regida por Heinz Holliger, gravou o seu concerto em dó menor para violino, oboé, cordas e contínuo tendo como solista Heinz Holliger (oboé) e Gidon Kremer (violino). Na mesma gravação há ainda o Oratório da Páscoa de Bach, que só recebeu sua forma definitiva em torno de 1730, enquanto que a cantata do qual ele provém data de 1725. Neste mesmo Ip (Philips, 7337311, série Digital), temos duas outras belíssimas peças: os concertos em sol menor por oboé, violino e orquestra: e o em fá maior para violino e dois coros, de Antônio Vivaldi (1668-1741). Jean Pierre Rampal, o maior virtuose da flauta - e que há dois anos fez um inesquecível recital em Curitiba, sob regência de seu colega o amigo Norton Morozowicz, e o solista de três obras de Bach, acompanhado pela orquestra Ars Redi-viva de Praga, regida por Milan Munclinger. São três concertos para flauta, cordas e baixo e contínuo de Bach, cuja importância é lembrada pelo maestro Munclinger na contracapa do elepe: "esta gravação tem um duplo objetivo: fazer ouvir em uma versão sem dúvida mais próxima do original obras concertantes de qualidade compostas por Bach, é verdade, mas que só chegaram até nós sob a forma de transições realizadas posteriormente, seja como concertos para teclado, seja como movimento de cantatas. Segundo objetivo: pôr à disposição de meu amigo Rampal, além da célebre abertura (ou suíte) em si menor e de duas obras nas quais a flauta aparece como elemento de um trio concertante, verdadeiros concertos de solistas tirados da música de Bach". Além de Rampal, três outros notáveis instrumentistas, todos checos, participam como solistas: o violoncelista Frantisek Sláma, o violonista Frantisek Posta e o cravista Josef Hála. Aos três concertos, foi acrescentando ainda a Sinfonia da cantata "Non sa che sia dolore" (Não sabe o que seja a dor). Um [álbum] - incluído na CBS Records Masterworks, que Maurício Quadrio coordena com tanta eficiência - que oferece não apenas um enriquecimento da literatura para flauta da época barroca graças a obras originais ou supostamente da autoria de Bach, mas também, para o ouvinte, uma visão de penetração na oficina do compositor e portanto um melhor conhecimento da obra e da personalidade deste grande mestre. LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) - tem nada menos do que cinco novos álbuns com diferentes momentos de sua obra. De princípio, duas de suas mais consagradas sinfonias A n.º 3, em Mi Bemol Maior, Opus 55 - a chamada "Heróica", com a Filarmônica de Nova Yorque, sob regência de Zubin Mehta; a Vitória de Wellington, Opus 91, com a Orquestra Filarmônica e o Coro da Ópera de Viena, regência de Lorin Maazel. Contam os mais informados musicólogos que muita especulação extramusical tem envolvido sempre a Sinfonia n.º 3, a célebre "Heróica", que teria sido inspirada por uma sugestão feita a Beethoven pelo general Bernardotte, embaixador da França em Viena, de que o compositor fizesse uma honraria a Napoleão em música. Isso foi em 1798, mas só em 1803 é que Beethoven (sempre um grande republicano e, na época, admirador de Napoleão) voltou-se para o projeto - concluindo-a na primavera do ano seguinte. Entretanto, quando Napoleão se proclamou Imperador da França, Beethoven, enfurecido, deu um novo nome complementar a sua obra: "Composta para celebrar a memória de um grande homem" - como saiu ao ser [publicado], 16 anos depois. De qualquer forma, nascia uma obra imortal, de dimensões incomuns: a incrível multiplicidade do tema inicial do primeiro movimento e nada menos que sete temas que forma o segundo motivo. No segundo movimento há o extenso desdobrar-se na melodia da marcha fúnebre; no Scherzo o longo, sussurrante começo e o súbito fortíssimo; no final, a grandiosa série de variações sinfônicas. Outra obra de Beethoven, de inspiração militar é "A Vitória de Wellington", estreada a 8 de dezembro de 1813, composta para comemorar uma vitória de guerra. No caso, o vencido era Jeronimo Bonaparte, irmão de Napoleão, e a batalha teve lugar a 27/6/1813, quando o futuro Duque de Wellington, à frente das tropas britânicas, portuguesas e espanholas bateu os exércitos franceses em Vitória, na Espanha, durante as guerras da península. A gravação desta obra - com a Filarmônica de Viena, sob regência de Lorin Maazel, é o complemento a clássica Abertura 1812, opus 49, de Tchaikowsky - escrita para comemorar outra derrota dos exércitos napoleônicos, ocorrida em 1812, quando a imperador francês pretendeu dominar o Império Russo. Já o Trio Beaux Arts - formado por Menahem Presler (piano), Isidore Cohen (violino) e Bernard Greenhouse (violoncelo), nos traz numa curiosa redução para piano-violino-violoncelo, nada menos que a Segunda Sinfonia de Beethoven. Nesta mesma gravação (Philips, Digital), há também um "Movimento" do Allegretto para violino, violoncelo e piano, que Beethoven provavelmente compôs em 1784 - mas é uma obra recente: só em 1955 foi encontrada esta peça, de feitura convencional com seus apenas 24 compassos. Na série CBS Masterworks, temos as Sonatas n.º 3 e 5 para violoncelo e piano, interpretadas por Yo-Yo Ma e Emanuel Ax, respectivamente. No século XVIII, a Sonata em duo era considerada basicamente uma sonata de teclado com instrumento melódico "acompanhante"; consequentemente, Beethoven designou suas cinco Sonatas de violoncelo como "Sonatas para Pianoforte e Violoncelo". A Sonata n.º 3, em lá maior, opus 69, data dos anos especialmente fecundos que se seguiram ao começo do que se chama de "segundo período" do compositor (1807/08). Já a Sonata n.º 5, em Ré Maior, opus 102, é a única entre as cinco que possui um movimento lento de ampla concepção. Finalmente, temos dois elepes com pianistas: o Concerto para piano e Orquestra n.º 1, em dó maior, opus 15, na interpretação de Maurício Pollini e a Orquestra Filarmônica de Viena, sob regência de Eugen Jochum. E com o concertista Emil Gilels, as duas sonatas para piano - de números 3 e 15. Em lançamento de Deutsche Grammphon/Polygram, complementam este banquete de qualidade para os admiradores de Beethoven.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
25
18/11/1984

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