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Aramis

Chico diz como se faz um elepê independente

Chico Mário não foi o primeiro produtor de um disco independente no Brasil. Mas é o primeiro a escrever um livro a respeito. Excluindo-se o pioneirismo de Cornélio Pires (1884-1958), que em 1929, irritado pela insensibilidade do todo poderoso Mr. Evans, diretor da RCA Victor em São Paulo, em gravar música sertaneja, bancou a produção dos primeiros 78 rpm com a sua "Série Caipira" (que vendeu tanto, convencendo a própria RCA a entrar no gênero), pode-se dizer que a opção dos próprios compositores e intérpretes e instrumentista fazerem seus discos começou, organizadamente, em 1977, com a decisão do pianista Antonio Adolfo em realizar o seu "Feito em Casa", inaugurando o seu selo Artesanal. O exemplo de Antonio Adolfo frutificou e nestes nove anos mais de 500 elepês e compactos (talvez até mais) apareceram por todo o Brasil. Apesar das tentativas, não existe um catálogo completo da produção independente, já que inúmeras produções não circulam fora das cidades em que moram seus autores. Afinal, a distribuição e comercialização da produção alternativa era o calcanhar de Aquiles. Era, porque a partir deste ano, com o boom da indústria fonográfica, as fábricas de discos estão se recusando a aceitar serviços de prensagem de pequenas quantidades - já que estão atoladas em compromissos de fazer 100 a 400 mil cópias dos discos de vendagem garantida. E, quando muito, um disco independente tem uma tiragem de 5 mil exemplares. xxx O disco independente, entretanto não morreu. Ao contrário, com as gravadoras hoje voltando-se apenas para artistas capazes de vender 80 a 100 mil cópias no mínimo, a produção alternativa continua a ser uma opção a quem deseja se lançar no mercado - embora o custo entre estúdios, capa, pagamento de músicos, prensagem etc. não deixe qualquer projeto por menos de Cz$ 100 mil, no mínimo. Com a experiência de cinco (excelentes) discos instrumentais, todos produzidos de uma forma inteligente, que lhe tem permitido recuperar o investimento, Francisco Mário aceitou o convite da Editora Vozes de Petrópolis, para escrever um pequeno livro na série "Como Fazer". Assim em "Como Fazer Um Disco Independente" (86 páginas, edição de texto de Maria Bernini), Francisco Mário, compositor, violonista, arranjador, economista - oferece um objetivo estudo sobre a produção fonográfica alternativa. Fala inicialmente do mercado do disco no Brasil, lembra a breve história do disco independente, analisa a situação atual e significado político do disco independente (com dados hoje já um pouco superados, tendo em vista as transformações do mercado) e, posteriormente dá as dicas aos interessados: como fazer, lançamento e distribuição, direitos autorais, etc. No final, há uma relação de 239 discos independentes que Francisco Mário conseguiu identificar, mas este número é muito maior. Assim como, há 7 anos, aqui promovemos o I Encontro da Produção Cultural Alternativa - através do Museu da Imagem e do Som (na época, em que Marcelo Marchioro e César Fonseca sabiam dinamizar aquela unidade), agora, quando se aproxima os 10 anos do surgimento de "Feito em Casa", de Antonio Adolfo, eis uma boa motivação para que se reanalise a questão dos discos independentes no Brasil. E ninguém melhor do que Francisco Mário para coordenar tal evento, já que ele já fez cinco dos melhores álbuns instrumentais nestes últimos anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
14/12/1986

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