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Demagogia na "fusão" das escolas de arte

NA noite de segunda-feira última, os professores da Escola de Música e Belas Artes do Paraná reuniram-se com o diretor Henrique Morozowicz. Queriam trocar idéias sobre as preocupantes notícias que há duas [semanas] são veículadas, com insistência, nos-jornais: a fusão com a Faculdade de Educação Musical, anexação do Curso Permanente de Teatro e a futura transferência das três unidades para o bairro do Boqueirão, junto às instalações do Centro de Treinamento do Magistério. Afinal, os mestres da Embap sentem-se iguais maridos traídos: algo que lhes interessa diretamente estaria sendo tramado intermuros, em gabinetes de tecnocratas, sem ouvir os principais interessados - professores e alunos. Henrique também não dispõe de muitas informações, já que oficialmente pouco se falou do assunto, mas este já estaria para entrar na área do Legislativo, com projeto de lei, inclusive. xxx Como alertou a jornalista Nery Baptista, da "Gazeta do Povo", no mínimo está faltando diálogo sobre essa questão. Depois que a professora Clotilde Leining dirigiu durante mais de 20 anos a Faculdade de Educação Musical, a nova diretora, Icléia Rodrigues, naturalmente quer mostrar dinamismo e, portanto, nesta altura deve estar preocupada em que haja uma concentração de esforços (e recursos) no ensino de uma área específica. Um dos maiores amigos de Icléia é Oracy Gemba, diretor executivo da Fundação Teatro Guaíra e que já fez declarações sobre a "anexação" do Curso Permanente de Teatro numa nova estrutura. Só Henrique Morozowicz, diretor da Embap, é que até agora desconhece tais demarches - e essa superposição de interesses provocou o óbvio: inquietação nos 110 professores da Belas Artes, sem falar nos alunos. xxx Historicamente, sempre houve uma concorrência entre a Escola de Música e Belas Artes do Paraná, e a Faculdade de Educação Musical. Quando Fernando Correa de Azevedo fundou a Embap, o professor Antonio Mililo, que já dirigia uma respeitada academia musical, foi convidado a integrar-se na nova unidade, criada em 1948. Só que Mililo não aceitou e continuou com a academia, posteriormente estadualizada. Fernando e Mililo já morreram, assim como a maioria dos mestres fundadores da Escola de Música e Belas Artes. A Faculdade de Educação Musical, nos últimos anos, foi reservada para os cursos de educação artística, enquanto a Embap tem os de licenciatura. Cada uma com seus quadros de professores, sua forma de atuação - em distanciamento protocolar. Há muito que as instalações da Belas Artes, na movimentada e barulhenta Rua Emiliano Perneta, apresentam-se precárias. O velho prédio está em condições sofríveis, às aulas rendem pouco, devido à falta de espaço e ao máximo de ruído. Assim, a mudança da Embap é inquestionávelmente necessária e há anos se intentam soluções. Como prefeito, o arquiteto Jaime Lerner chegou a tentar duas solucões: nas primeiras semanas de sua segunda gestão, desenvolveu projeto para transformar as antigas instalações da fábrica Estearina na sede daquela escola, anexa a um teatro infantil. A idéia foi boicotada pelo então todo-poderoso Véspero Mendes (hoje delegado estadual do MEC), que alegou, surrealisticamente, que "por uma questão de segurança" não era conveniente a proximidade de uma unidade universitária da sede do Poder Executivo. Bloqueada essa proposta, Lerner imaginou, então, que o velho casarão da Rua Mateus Leme poderia abrigar a Embap. Passou toda a administração tentando concretizar a idéia, projetos foram desenvolvidos, mas a burocracia (e má vontade) foi(ram) maior(es), de forma que o casarão continuou abandonado. Agora, semi-restaurado, fala-se em sua ocupação pelo hipotético Museu do Rádio do Paraná, agrupado ao extinto Museu da Imagem e do Som, que, triste destino, tem sido mais da imaginação, como diz, em sua irreverência lúcida, o pintor Fernando Velloso. xxx A transferência da Escola de Música e Belas Artes do Paraná para o distante bairro do Boqueirão esbarra, de princípio, na oposição dos corpos discente e docente. Por mais problemas que suas instalações ofereçam, mestres e alunos não se dispõem a ter que se locomover, diariamente, mais de 10 km. Em relação à Faculdade de Educação Musical, desconhecemos como se encara ali essa transferência, mas, entre os alunos do Curso Permanente de Teatro a opinião também é polêmica. Enfim, um assunto que não pode ser resolvido sem cuidadoso trabalho junto aos interessados. A não ser que "tia" Gilda Poli queira acender mais um rastilho de pólvora entre tantos que há na Secretaria de Educação. xxx Some-se a isso o fato de que o Curso Permanente de Teatro, criado há mais de 20 anos, não tem ainda reconhecimento legal, com validade para formação superior, apesar de todos os esforços que várias administrações têm feito para tanto. Assim, não adiantam as declarações demagógicas de que haverá fusões dos cursos e escolas, se o caminho apresenta muitos obstáculos. Primeiro, é necessário removê-los, para, então, de uma forma concreta e correta, fazer uma grande unidade de ensino na área da música, teatro e belas artes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
20
09/08/1984

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