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Aramis

Dos cocos de Messias a Força total Continental

O fato de os famosos como Fagner, Chico, Nara, Clara, Nunes e outros se unirem ao redor do bom João do Valle para fazer com que este nordestino que há 32 anos busca seu lugar no meio musical, tenha suas músicas ouvidas com a merecida atenção. Mas também seria importante que os disc-jockeys e programadores das FMs e AMs que se babam agora ao programarem os balões de João do Valle, que em outras ocasiões eram marginalizados, tivessem sensibilidade para procurar entender a música de outros artistas populares – que por não terem padrinhos tão importantes acabam sendo esquecidos. Como o também o nordestino Messias Holanda, fisicamente lembrando Jackson do Pandeiro e que também sabe unir o humor ao balanço de seus cocos e baiões – como os que mostra no alegre Ip “Pra tirar Côco” (CBS/ Veleiro), em composições próprias ou escolhendo temas de outros autores identificados com seu estilo como Severino Ramos/ J.B Aquino (“Maria Faz Favor”) ou Cecéu (“Parai-Ba”). Artistas como Messias Holanda – de grande popularidade no Nordeste, mas ignorados no Sul, passam a serem melhor entendidos quando Rolando Boldrin apresenta-se em seu “Som Brasil”, atração dominical da Rede Globo e a melhor contribuição já dada pela televisão para a valorização de nossa música de raízes.             O álbum-brinde da Sigla, em 1981, foi uma excelente reunião de três discos contendo exemplo do que de melhor se produziu na música rural brasileira – acompanhada de um belíssimo texto-informativo. Como este álbum triplo ainda não foi comercializado – uma espécie de aperitivo do mesmo é o disco intitulado simplesmente “Som Brasil” (Sigla, 1981), onde além do próprio Boldrin com seu “Vida Vida Marvada” e “Cabocla Tereza” (está em duelo com Jair Rodrigues) aparecem outros nomes identificados com esta música de raízes tão necessária de ser melhor entendida e analisada – proposta, aliás, que defendemos há muitos anos. Assim temos duplas veteranas como Venâncio e Corumbá (“É Ou Não É”) e Tião Carreiro e Pardinho (“A Viola e o Violeiro”), ao lado de intérpretes mais jovens que, brasileiramente, em assumido suas origens como o violinista e cantor mato-grossense Almir Sater (“Canta Viola”), Chico Maranhão (“Arreuni”), o paulista Passoca (“Curio”), o mineiro Téo Azevedo(“Calango do Vai e Vem”) e os baianos Carlos Pita e Rose (“Com a Dozela do Bem Amar”) e Diana Pequeno (“Recolher”). O nordeste tem no pernambucano Oliveira de Panelas (“Planeta Sem Divisões”) uma mostra da poética popular (o mesmo Oliveira fez um magnífico Ip para a CBS, em amorosa produção de Zé Ramalho), enquanto o extremo Som do Brasil se faz ouvir através de  Noel Guarani em seu “Destino Missioneiro” : Poucos discos montagem poderiam reunir um painel tão representativo da música não urbana como este “Som Brasil”, que Rolando Boldrin, José Amâncio e Lurdinha Pereira realizaram com este grande esmero.             A música rural tão carente de estudos e apreciações sem preconceitos, não tem fronteiras – e tem que ser apreciada em todas suas matrizes. Por exemplo, Horizonte, fluminense de Fazenda Fortaleza, Bom, Jardim, aprendizado na escola da vida q que por muitos anos morou em Cambé no Norte do Paraná, traz em suas músicas a vivência de circo e de caminhar pelo Brasil – colocando assim em “O Poeta da Viola” (Chantecler, 2 11 405-407, 1981) temas bem escolhidos não só de sua autoria, mas outros autores como Luiz Vieira(“Procurando um Tema”), Severino de Oliveira (“Batizado dos Bichos”) e José Fortuna (“Tem Muita Diferença”).             Já a acordenista que adotou o nome artístico de Gauchinha, nascida em Petrópolis e criada em Ribeirão Preto, SP, onde reside até hoje, após 5 anos acompanhando a dupla Lurenço e Lourival, parte para seu primeiro Ip solo – “Batidão Regateiro” (Chantecler, 1-111-405-460, janeiro 82). Instrumento injustamente marginalizado – embora tenha uma digna tradição européia e em termos jazzíticos tenha sido valorizado por instrumentistas da dimensão de Art Van Dame, o acordeon é identificado especialmente com a música gauchesca – embora em todo o Brasil, artistas populares utilizem a grande comunicabilidade que este instrumento oferece. Gauchinha, neste “Batidão Regateiro” preocupa-se em fazer um disco basicamente alegre, com ritmos como arrasta pé, rancheira, chorinho, dobrado, polca e batidão, com composições cujos títulos já transmitem o clima de forró:” Aí que ta”, “Tira Prosa”, “Brasil Gigante”, Pisando Miúdo” e “Não Pinica Que Dói”.             Se o acordeon de Gauchinha procura a comunicabilidade alegre e descontraída, duas novas duplas preferem a linguagem mais dramática – umas das características da temática rural: Divon e Alan em “Dois Irmãos” – produção de Fernando Costa/ Janão a Laço, a etiqueta que a Ariola criou para reunir artistas rurais, trazem cantos que beiram quase o espiritualismo (“O Todo Poderoso”), “Caminho de Espinho”), mas não deixam de falar dos desencontros do amor (“Pra Você que Já Foi Minha”) e “Não Mereço a Traição”). Jordão e Jordel, outra dupla que a Copacabana apresenta como “Os Gigantes da Música Sertaneja”, também atacam como sentimentalismo falando em “Amor Proibido”, “Orgulho Maldito”, Rosário da Vida” e até mostrando a identificação de novas linguagens a cultural nativa – encerrando o disco com o curioso “Vídeo Tape da Vida” .             No II Festival de Águas Claras (Iacanga, SP, setembro/81), a dupla Silvano e Zé Gomes impressionaram ao tocar dois instrumentos poucos usados no Brasil: Kalimba e rabeca, lembrando em seus sons uma caixinha de música. A TV Bandeirantes levou suas imagens a todo o Brasil e a Chantecler, astutamente, os contratou lançando a dupla inicialmente com um compacto dentro da série “Força Total” (vendido ao público por apenas Cr$ 150,00) que traz a gravação ao vivo feita durante o festival. “Águas Claras” (Unhão) e, no lado B, a mesma música, registrada em estúdio, já então contando com a participação especial de Marlui Miranda no cavaquinho. Silvano é um respeitado percussionista brasileiro, tendo participado de diversos shows e discos com Diana Pequeno, Bendegó, Almir Sater e outros. Já Zé Gomes é gaúcho, toca violino e rabeca e já participou de muitos discos. Uma dupla competente, inovadora em termos instrumentais e que pode aparecer bem em 1982.   Xxx   A série “Força Total”, criada pela Continental/ Chantecler, foi uma inteligente forma encontrada para promover os compactos. Oferecidos a apenas Cr$ 150,00, estes discos trazem tantos artistas conhecidos como novos, em busca de oportunidade. Por exemplo, a veterana e admirável Carmen Costa, que em dezembro foi a Paris inaugurar o restaurante “Dona Flor”, gravou agora o “Samba do Flamengo” (Memeco/ Vitinho), que com a bela carreira que o clube fez, tem tudo para emplacar. Já Miltinho Rodrigues, intérprete rurbano da maior popularidade, gravou “Fuscão Preto”, merengue de Atílio Versuti/ Jeca Mineiro que vem aparecendo nas paradas mais populares. Martinha, ex-Jovem Guarda, hoje na busca de um público mais amadurecido, com “Erros e Defeitos” e “Deixe-me Chorar” tem na série “Força Total” uma oportunidade de chegar a uma faixa mais ampla. Agora, dos novos, a Continental começa a testar o mercado com o duo Blumental, de Curitiba – que fez no ano passado um elepê  independente, exclusivamente com músicas country, em inglês. Deste elepê, a Continetal escolheu “This Town” e “Pieces os glass”, antes de se decidir a editar, em termos nacionais, todo o LP. Outro grupo testado em compacto é Cheiro de Terra, este cantado em português com “É Disto Que O Velho Gosta” (Gildo Campos/ Berenize Azambuja) e “ Cantiga do Sapo” (José Gomes F/Buco do Pandeiro). Jacy Valente aparece com duas músicas próprias – “Víbora” e “Fantasia”. Ex-baterista de grupos musicais do Rio Grande, vivência no Uruguai, o alto Jacy Valente coloca muito humor em suas músicas. Quatro outros jovens em que Continental acreditou são Dalvan (“Caminhando” e “Homem de Fé”), Mario Campanha (gravando duas músicas conhecidas: “Brasileirinho” de Waldir Azevedo e a versão de “ Cavaleiros do céu” de Stan Jones, recentemente “ ressucitada” por Milton Nascimento), Dal Rubens (“ Não Me Jogue Fora” e “Locutor Apaixonado”) e Lili Rodrigues (“Agite Antes de usar”) e “Cata Pavão”).             Ainda pela Continental – mas fora da série econômica, Mauro Moreno tem seu compacto duplo: quatro músicas de apelo rural – “Velho Adorado”, “Sonhos de Menino”, “Recado” e “Índio Vago”, este último um clássico da dupla Tonico e Tinoco.    
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Música
Nenhum
26
14/02/1982
Sou Filho de cantor de música sertaneja e fiquei muito honrado em ver citações do disco de meu pai no Tablóide Digital, onde o nome da dupla era Jordão e Jordel . Sou apaixonado por música (boa música) e sou defensor da cultura como ponto de apoio para o desenvolvimento. Clodoaldo Donizeti da Cunha Campos do Jordão - SP - Brasil
Mais especificamente do cantor Jordão da dupla ,Jordão e Jordel, e estou extremamente feliz de ver um dos discos do meu pai citado aqui,cresci sob influência dele e sou fã da música sertaneja de raiz! Achei maravilhoso ver o nome dele aqui!!!
Eu estive no Festival de Águas Claras em Iacanga, Estado de São Paulo, nos dias 4, 5 e 6 de Setembro de 1981 e assisti a todos os shows desde a Tetê Espindola até Gilberto Gil, além é claro do Maluco Beleza, Raulzito, o imortal Raul Seixas, foi um dos melhores eventos que participei em toda a minha vida. Lembro muito bem de todos os detalhes do Festival, foi uma verdadeira loucura, fomos em 8 amigos em uma camioneta F-1000 com capota saindo de Assai, Estado do Paraná, a gente dormia dentro dela, foi muito legal mesmo, na época eu tinha 27 anos e vimos muitas garotas e fizemos muitos amigos também, ouvimos muito som e curtimos tudo mesmo! São lembranças que nunca apagam em minha memória! E quem tiver fotos ou vídeos do Festival de Águas Claras de 1981, por favor me enviam através do meu e-mail – luiz_piornedo@hotmail.com, agradeço muito! Abraços!!!

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