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Dos novos Farrell, Hank, Hammond aos clássicos Mingus e Gillespie

Se durante anos somamos palavras a de outros colegas da imprensa nacional [lamentando] e exiguidade dos lançamentos jazzísticos, agora é forçoso reconhecer: nos últimos meses, os fãs de jazz [têm] suado para poderem acompanhar os lançamentos regulares que passaram a ser feitos. Embora, ainda, os grandes catálogos permaneçam praticamente inéditos e algumas gravadoras - como a CBS e Odeon - se mantenham tímidas nos lançamentos nesta área, outras fábricas - da pequena mas ativa Top Tape a poderosa Phonogram, tem feito muitas edições para alegria dos consumidores da música mais criativa, obrigando, inclusive, a reduzirmos os espaços destinados a cada registro, tal o volume de discos que merecem divulgação em especial, repetimos mais uma vez, junto aos milhares de leitores de O ESTADO no Interior do Paraná, onde o nosso jornal é, muitas vezes, o único veículo de divulgação a circular. Vamos a mais alguns registros. JOEL FARREL - Pela CTI/Top Tape, mais três e deliciosos lps com este sensível sax-soprano, flautista e compositor da mais recente leva de jazzman, absolutamente perfeito em todas as suas interpretações. Em "Moon Germs" (Ow 562), Farrel apresenta um trabalho com um pequeno grupo - os excelentes Herbie-Hancock no piano, Jack DeJohnette na bateria e Stan Clarke no baixo, para nós, individualmente, a formação instrumental predileta. Duas faixas são de Farrell: "Great George" (11,40') e "Moon Germs" (7:23). No lado B, em arranjo de 8'25, um dos mais belos temas do notável Chick Corea ("Times Lie") e "Bass Folk Song" (9,50) de Stanley Clarke. A capa deste lp, trabalho de Bob Ciano/Sheila Metzner, está também na categoria das melhores coisas vistas na fonografia neste ano. Já com uma formação instrumental diferente "Penny Arcade" (OW 590) nos traz Farrell executando, também além da flauta e sax, o Piccolo, acompanhado ao piano por Hancock, mais ampliando a formação instrumental: Steve Gadd na bateria, Herb Bushler no baixo, Joe Beck na guitarra e Don Alias na Conga. Neste disco, três faixas são de Farrell - "Hurricane Jane", "Cloud Cream" e "Geo Blue" e duas de outros compositores: "Penny Arcade" de Joe Beck e "Too Hight" de Stevie Wonder. Finalmente em "Out Back" (OW 566), que apontaríamos como o melhor dos três discos caso tivéssemos que fazer uma opção, há o requinte de arranjos do próprio Farrell para orquestra e a vigorosa presença do baterista Elvin Jones, do pianista Chick Corea, do guarapuavano Airto Guimorvan Moreira e do baixista Buster Willians, para a execução dos temas de Farrell ("Sound Down", "November 68th"), Corea ("Bleeding Orchid"), John Scott ("Out back"). Três álbuns básicos para quem deseja formar uma coleção de jazz contemporâneo. JOHNNY HAMMOND - Uma das melhores coisas que aconteceram no cenário musical há três anos foi a surpreendente (e tardia) ascensão à condição de ídolo, alcançada por Johnny Hammond. No verão e outono de 71 seu [álbum] "Breakout" chegou aos primeiros lugares nas paradas de jazz, soul e pop. Em suas gravações mais antigas ele aparecia com o nome de Johnny "Hammond" Smith, mas, para não haver confusão com o outro organista que tinha o mesmo sobrenome, retirou o Smith e adotou a marca do mais famoso órgão do mundo. Aos 41 anos, de Louisville, de uma família de inclinações musicais foi o único a poder se tornar profissional: depois de estudar piano em sua cidade, aos quinze anos, já passava as noites tocando num pequeno clube. Aos dezoito anos, deixou Louisville, vivendo por algum tempo em Cleveland e nesta sua influência era Wild Bill Davis que tinha começado a demonstrar as possibilidade de se transferir o som do jazz moderno para o órgão elétrico, a quem, mais tarde, substituiria no conjunto de Chris Columbus, vindo então para Nova York. Em 1959 Johnny começava a gravar na Prestige, passando depois para a Riverside, até chegar a Kudu, de Creed Taylor, em 71 e conseguir uma merecida projeção. Hoje, já com três lps em catálogo da CTI, no Brasil, Hammond é um instrumentista que justifica a afirmativa do crítico Leonard Feather: "Se você está a procura de uma melodia suave, ou ao contrário, se prefere algo excitante, ou mesmo, se quer ouvir uma grande interpretação de um sucesso, então, Johnny Hammond é seu [nome]. Ele encontrou a fórmula certa de tocar, tanto musicalmente quanto comercialmente. Nunca houve uma popularidade tão genuinamente merecida". Após "The Prophet" (OW-577), tempos agora "Wild Horses Rock Steady" (OW 596). Nestes dois álbuns o arranjador, pianista e produtor Bob James convocou um grande número de instrumentistas - entre os quais vedetas como o baixista Ron Cartes, o baterista Jack DeJohnette, o guitarrista George Benson, o sax-tenor Grover Washington Jr, entre outros. Em "Wild Horses Rock Steady, temos músicas conhecidas como "Rock Steady" (Aretha Flankin), "Who Is Silvia?" (Galt MacDermot), "Peace Trzin" (Car Stevens), "I Don't Know How to Love Him" (Tim Rice/Andrew Lloyd Webber), "It's Impossible" (Manzanero ger Richards_) mas para as quais Hammond James (afinal os arranjos são dele) recriam uma atmosfera. Em "Higher Ground", os admiradores da obra de George Gerswin (1898-1937) terão alegria de encontrar "Summertime" de sua [ópera] "Porgy & Bess", acoplada a "The Guetto" (Dubose Hathaway & Hutson) num fascinante arranjo de 9,52 minuto, completando a face A, aberta com "Catch Myu Soul" (Tony Joe White/Jack Good). Na face B, a música dá título ao álbum de Stevie Wonder) e uma homenagem ao organista Jonny Smith, com sua "Big Sur Suite", em arranjo de 9,00 minutos, permitindo um longo e admirável solo de Groover Washington Jr. HANK CRAWFORD - Escrevendo, recentemente, sobre o trabalho de Hank Crawford, o crítico de jazz, leonar Feather, disse: "Sua música alegre, transmitida através de seu sax alto, estabelece-o, não somente como um dos gigantes do jazz contemporâneo, mas sobretudo, como um músico que numa simples frase musical, ou em breves compassos, pode trazer a seus ouvintes a espécie de alegria de que todos são carentes, hoje em dia". Embora Hank tenha trabalhado, profissionalmente, no sax tenor e barítono, e também como pianista, foi no sax alto que Crawford, Jr., em Memphis, Tennessee, em 1934, tinha 13 anos, quando começou a se dedicar ao saxofone. Estudou teoria e composição na Tenn. State University. Foi durante esse período que Ray Charles o ouviu tocando com um grupo de jovens em Nashville. Cerca de um ano após esse encontro, Ray Charles o convidou a juntar-se ao seu grupo, tocando sax barítono. O trabalho com Ray Charles, quando este tinha, ainda, como característica principal a improvisação provou ser o escoadouro ideal para o jovem Hank. Outro ano decorreu, entes que Hank trocasse a cadeira de barítono pela de sax alto. Muito [antes], já Ray o tinha nomeado diretor musical. Quando Charles alcançou seu primeiro sucesso nacional, e demonstrou sinais de se tornar um super-astro, foi organizado um grande conjunto, no qual Hank se destacou como solista e diretor até 1963, acompanhando Ray em suas [três] viagens [à] Europa. Hank se tornou conhecido por suas interpretações "soul", através de uma série de álbuns que se apoiavam na inclusão dessa palavra a expandir tanto suas apresentações como sua platéia, ao se mover em áreas das mais raramente, tinham se aproximado. Um de seus primeiros movimentos nesse sentido foi uma session na qual tocou canções como "Blueberry Hill" e "Star Dust" com uma grande orquestra, que incluía cordas. A [essência] de seu estilo tem permanecido, sempre inviolável: ele mostra uma clareza uma economia de notas, e um genuíno senso de ardor como se pode confirmar em seus [três [álbuns] editados pela Top Tape: "Help Me Make It Through The Night" (OW 534) "We Got A Good Thing Going" (OW 545) e lançado há duas semanas "Wildflower" (OW 595). Em todos eles há uma vigorosa formação instrumental, como sempre acontece nas produções de Taylor com a participação dos nomes mais expressivos de sua etiqueta. Em "Help Me Make It Through The Night", os arranjos são de Don Sebeski, excepto "Ham" de Alfred Ellis, terceira faixa do lado B, arranjada e conduzida pelo extraordinário Pee Wee Ellis. Já em "We Got A Good Thing Going", o pianista Bob James divide com Sebeski os arranjos da s9 faixas: 'Imagination", "Down To Earth", "The Christmas Song", "Along Again" (Naturaly), "I Don't Know", "I'm Just A Lucky So And So", "Winter Wonderland", "A Litle Tear" e a música título do álbum. Finalmente "Wildflower", sua gravação mais recente, tem arranjos e [regências] exclusivamente de James, e desta vez há um repertório mais reduzido, abrindo com o [belíssimo] "Corazon" de Carole King, prosseguindo com "Wild Flower" (Richardson/Edwards) e encerrando o lado A com "Mr. Blues do próprio Crawford. No lado B [temos] "You ve Got It Bad Girl" (Yvonne Wright, Stevie Wonder) e "Good Morning Heartache", o velho [clássico] de I. Higgibothan/E. Drake/D. Fischer que Billie Holiday (1915-1959) tornou inesquecível em suas sentidas e amargas interpretações. MINGUS - Já se disse que só se percebe o Contrabaixo quando ele não está presente numa audição musical. Apesar do exagero a frase tem sua razão: o mais básico dos instrumentos, o Baixo passa despercebido dos ouvintes menos atenciosos, embora seja o equilíbrio de qualquer grupo, ainda mais no Jazz. E entre os maiores [gênios] do Baixo um nome se destaca: CHARLES MINGUS. Seria desnecessário lembrar aqui a biografia de Mingus, pois ao contrário dos novos instrumentistas sobre os quais nos referimos nos últimos domingos, este baixista, compositor, arranjador e líder, norte-americano de Los Angeles, 52 anos, é já bastante conhecido no Brasil. E embora poucos de seus álbuns tenham aqui sido lançados, é enorme o número de fãs de jazz que aprenderam a apreciar o seu estilo único, as suas músicas sentidas e, em especial, o equilíbrio que consegue dar a cada interpretação. Nos discos de Mingus, como de outros baixistas, é muito importante a unidade dos outros instrumentistas - já que o baixo, salvo alguns solos, é como sempre a base, destacando-se os outros músicos - apesar do líder do grupo ser ele. Em um novo lp lançado no Brasil ("Mingus", ATOO/Continental, ATLP-079, [agosto]/74) sente-se como o veterano artista está em forma - o que torna indispensável de ser visto sua anunciada tournée, para breve, no Brasil. Nas 7 faixas deste novo lp há longos destaques para os metais - a cargo de jovens e talentosos instrumentistas como Ronald Hamton no pistão, George Adams no sax-tenor e flauta, além de também perfeitas intervenções do pianista Don Pullen e do baterista Dannie Richmond. Em "Moves", há um sonoro vocal a cargo de Honey Gordon e Doug Hammond, o segundo autor da faixa. De Mingus, temos três novas, belas e surpreendentes composições: "Canon", "Opus 4" e "Opus 3". De Sy Johnson e "Wee", de George Adams, "Floers For A Lady" e, de Don Pullen, "Newcomer". Sem exagero, digno de ser analisado em profundidade num longo comentário, este lp de Charles Mingus está entre os melhores discos de jazz do ano. Enriquecido ainda com as notas de contracapa do expert Nat Hentoff, infelizmente mantidas no original - a única falha (desculpável) deste extraordinário lançamento da Continental. COUNT BASIE - Prosseguindo a fundamentada "Jazz-History", que, direta ou indiretamente, provocou o ressurgimento jazzístico, animando as nossas gravadoras a se lançarem nas edições jazzísticas, o admirável Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da Phonogram promete chegar ao volume 20 até o final do ano, [simultaneamente] ao lançamento no Brasil do primeiro suplemento da nova etiqueta de Norman Granz ("Pablo"), produtor da série "Jazz-History" quando ainda se encontrava em Verve. E enquanto os volumes 15 a 20 não chegam, temops o álbum nº 14, dedicado a Count Basie, pianista, compositor e líder, sobre quem também não é preciso falar muito, tantos são seus discos e tanto dedicou sua vida (67 anos, 48 de música) ao Jazz. Nos 2 belíssimos lps deste álbum estão reunidos momentos fundamentais da carreira de Basie, um músico da fase das big bandas, do jazz criado em grandes formações, num estilo que mais do que nostalgia, adquire hoje um significado especial. Além de se ouvir solos com alguns dos maiores músicos que já passaram pela orquestra de Bassie, este volume da "Jazz-History" nos oferece ainda dois temas focalizados por Ella Fitgerald - "Oh The Sunny Side of the Street" (McHug/Fields) e "The There Eyes" (Tracey/Tauber/Pinkard) e dois números cantados por Sammy Davis, que integrou durante algum tempo a orquestra de Bassie: "She's a Woman" e "Blues for Mr. Charlie", sapateando ainda no fundo e "Bil Basie Won't You Please Come Home". Um álbum como este é tão fundamental, que só se pode repetir o óbvio - e o que já escrevemos anteriormente, quando da edição dos primeiros 10 discos da coleção: INDISPENSÁVEL. DIZZY GILLESPIE - Passando a representar no Brasil a poderosa Mainstream, a Tapecar também coloca no mercado brasileiro um excelente catálogo de jazz: lps de cantoras como Sarah Vaughan e Carmen MacRae, um clássico citado nas enciclopédias ("Daahoud", com Max Roach/Clifford Brown), "Yesterday" com Stan Getz, Gerry Mulligan, Allen Eager e outros e, muito apropriadamente lançado por ocasião da recente excursão da pistonista Gillespie ao Brasil o lp gravado ao vivo, quando o último dos grandes jazzistas da velha guarda se apresentou com "The Michell/Ruff Duo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jazz
42
29/09/1974

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