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Aramis

A I Mostra do Cinema Latino vem ao Paraná

Desta vez quem deu o furo foi uma prosaica publicação literária, o tablóide mensal "Leia", editado pelo Jorueês, em São Paulo, com direção do jornalista José Maria Cançado: ao mesmo tempo em que o Paraná vai relançar o Concurso Nacional de Contos, patrocinará uma mostra latino-americana de cinema. Embora algumas notícias tivessem fluído nas últimas semanas a respeito, em termos de mídia impressa, nacional, o primeiro texto a respeito saiu na página 5 da edição de agosto de "Leia": "O velho Concurso de Contos do Paraná, que lançou no mercado autores hoje consagrados pela crítica e pelos leitores (Rubem Fonseca, entre eles) vem aí outra vez. Desativado pelos governos biônicos, o concurso será ressuscitado pelo governador Álvaro Dias em grande estilo. O relançamento acontecerá em outubro, durante uma Semana de Cinema Latino-Americano: cada dia será exibido um clássico (que a TV Globo exibirá a noite, em rede nacional) e no último dia a reabertura do concurso será anunciada. Alguns nomes cogitados para a festa: Elias Canetti, Ernesto Sábato, o cineasta cubano Miguel Littin, o poeta sandinista e ministro Ernesto Cardebal. Gabriel Garcia Marquez viria, mas decidiu não sair de Paris enquanto não bater o último ponto final de seu próximo romance. xxx Sobre a Mostra "Novo Cinema Latino-Americano" até agora nada se havia falado. Nem mesmo Cosme Alves Neto, diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna e do FestRio, o homem que mais tem se empenhado pela difusão da cinematografia do chamado "Terceiro Mundo" no Brasil, tinha a menor informação a respeito. Também Isa de Castro, representante no Brasil da FECALCO - Federação das Distribuidoras Latino-Americanas e aqui diretora da Cinema Distribuição Independente (que comercializa 80% dos curtas, médias e longa-metragens alternativos) desconhecia, até esta semana, a promoção. É que toda sua organização vem sendo transada diretamente por uma poderosa distribuidora de vídeo, pertencente a Guga - irmão de José Bonifácio Oliveira (o "Boni"), poderoso comandante da Rede Globo, através de uma das maiores agências de propaganda do País, a MPM, no Paraná dirigida pelo Sr. Konstantino Commeninos (não confundir com o professor e ex-político, seu primo por sinal), que além de publicitário é cinéfilo apaixonado. Operacionalizando através de uma subsidiária da MPM - a PPA - Profissionais de Produção Associados - a grande promoção foi encampada pelo Governo do Estado, numa decisão que contou muito o entusiasmo do secretário Fábio Campana, da Comunicação Social, por cinema. Fábio, jornalista e que em seus verdes anos fez teatro, nunca escondeu (em artigos publicitários no "Correio de Notícias"), sua frustração de não ter seguido a carreira de cineasta. Hoje, como um dos principais assessores do governador Álvaro Dias, preocupa-se em apoiar o que se relaciona a cinema e entendeu, assim, que trazer para o Paraná esta mostra - que estaria também sendo oferecida aos governos de Minas Gerais e Santa Catarina - seria um bom marketing cultural para o Governo. xxx Entretanto, a simples exibição de filmes latino-americanos durante uma semana não teria maior significado cultural e o elevado custo do evento pode ser um contra-senso a uma administração que, nestes primeiros meses, ainda não pode investir em favor do cinema dos novos realizadores paranaenses. Portanto, paralelamente a mostra internacional, a Secretaria da Cultura deverá agilizar uma série de eventos, em coordenação com os cineastas locais. Mostras de curtas e média-metragens, encontros com realizadores e técnicos, uma mesa-redonda reunindo jornalistas que se dedicam a informação a audiovisual (cinema, vídeo, etc.), em todos os Estados - além de uma possível retrospectiva do desenho animado do Brasil, são idéias que começam a ser discutidas agora. A premência do tempo pode prejudicar a realização de muitos destes eventos paralelos mas Sale Wolokita, ex-superintendente da Fundação Teatro Guaíra, ex-diretor da TV Iguaçu, hoje um dos principais assessores do secretário René Dotti, acredita que "devemos plantar o que for possível, para que o evento se fortaleça e ganhe continuidade". Já se conseguiu evitar que a mostra venha se acavalar a dois outros eventos cinematográficos importantes programados para outubro: a 20ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e a Mostra Internacional de Cinema, que o crítico Leon Cakoff promove em várias salas de São Paulo a partir de 15 de outubro. A Mostra do Cinema Latino-Americano será nos Cines Lido I e II, Luz e Ritz - além da Cinemateca - entre 4 a 10 de outubro. xxx De mais de trinta títulos de filmes latino-americanos serão selecionados os mais estimulantes em termos de público - e dos quais cinco serão lançados, nas semanas seguintes, pela Rede Globo e, também em vídeo cassete. Dos filmes agendados, o mais importante é "Frida", produção de 1984, direção do mexicano Paul Deluc (o mesmo realizador do "México Insurgente", já exibido comercialmente no Brasil), mostrado hors concours no I FestRio (1984), premiado no Festival de Havana e que aborda a vida de uma pintora e líder comunista mexicana que foi amante de Leon Trotski. "Tiempo de Morir", produção colombiana, baseada em romance de Gabriel Garcia Marquez, premiado com a Gaivota de Ouro no II FestRio, também fará parte da mostra, ao lado de produções do Peru, Chile, Argentina, México, Cuba e Panamá. O nome internacional mais importante que viria para a mostra é do cineasta chileno Miguel Littin, exilado na Europa desde o golpe de Pinochet (1973) e que traria seu longuíssimo (4 horas) documentário "Actas do Chile", já apresentado no III FestRio. Na ocasião, também será lançado um livro sobre a obra de Littin, cineasta ainda pouco conhecido no Brasil, diretor de "Atas de Marusia", com Gian Maria Volonté, exibido há 3 anos no Cine Groff.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/08/1987

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