A jornada dos cineclubistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de julho de 1984
A partir de hoje, um evento culturalmente significativo começa a movimentar vários espaços da cidade: a XVIII Jornada Nacional de Cinema-Clubes. Dez anos depois da VIII jornada, ocorreria no Teatro do Paiol, centenas de pessoas que acreditam no cineclubismo voltam a reunir-se em Curitiba, para uma série de sessões plenárias, reuniões informais, eleição da nova diretoria do Conselho Nacional de Cineclubes - paralelamente à exibição de curtas e longas-metragens, especialmente filmes que dificilmente obtên projeção nos circuitos comerciais.
A variedade do cineclubismo, temática que se discute há quase 30 anos, o cinema brasileiro, a produção independente, as novas tecnologias de comunicação, estão no temário desse encontro cuja abertura se dará domingo próximo, à noite no auditório do Colégio Estadual do Paraná, em festa bastante eclética: desde frei Paulo Cesar, cantando temas de filmes como "Deus e i Diabo na Terra do Sol" (Sérgio Ricardo) e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (Geraldo Vandré), até homenagens a Humberto Mauro, Anibal Requião, Mário Peixoto e J.P. Gasta, este um dos mais notáveis críticos gaúchos, fundador do cineclube de Porto Alegre e que aqui estará presente.
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Francisco Alves dos Santos, coordenador do setor de cinema da Fundação Cultural é o eficiente anfitrião da mostra. Embora a coordenação técnica seja do próprio conselho, presidido pelo carioca Nelson Kruholz, é o bom Chico, ao lado de Marcos Vinícius, secretário geral do CNC, que há muitos dias vem carregando o piano para garantir uma econômica infra-estrutura à mostra. As refeições e hospedagem ficam por conta do próprio Colégio Estadual do Paraná, onde serão realizadas todas as sessões plenárias da jornada, e as exibições de curtas e longas estarão distribuídas, em várias sessões, na Cinemateca do Museu Guido Viaro e no Cine Groff, que está fechado desde ontem para receber uma necessária pintura. Até ontem à tarde, a programação ainda sofria modificações, já que a cada hora novos filmes são previstos para ser exibidos, o que inclusive deverá continuar durante toda a jornada, que só se encerra na quinta-feira, 27. No Colégio Estadual, entre as sessões plenárias e reuniões das comissões, das comissões, filmes e tapes vão ser mostrados, de forma informal, mas com oportunidade para se conhecer um cinema maldito, realizado muitas vezes em precária condições, mas importante pela temática que aborda e pelas propostas de seus diretores.
A própria programação prevista para o cine Groff, em sessões noturnas (a partir de domingo, a pedido do público, "Amarcord", de Fellini, voltar a ser projetado, diariamente, às 14 e 16 horas), estarão ao menos três filmes malditos, que dificilmente terão outras projeções entre nós: dia22, domingo, "João Jucá Jr", de Denoy de Oliveira (filme que praticamente não conseguiu lançamento comercial em nenhuma cidade brasileira); segunda-feira, 23, um filme famoso, perseguiu pela censura, mas igualmente inédito (até hoje só teve uma projeção em Curitiba): "O País de São Saruê", documentário de Vladimir de Carvalho; dia 25, quarta-feira, outra obra tão polêmica quanto desconhecida: "O Rei da Vela", de José Celso e Noilton Nunes, que estarão debatendo o filme após a sessão das 21 horas. Denoy de Oliveira, presente à jornada, apresentará "O Baiano Fantasma"(melhor filme do festival de Gramado-1984), dia 24, seguido também de debate. No dia 26, "Diacui, A Viagem de Volta", recentíssima realização de Ivan Kurdna; e, dia 27, "O Mágico e o Delegado", de Fernando Cony Campos, premiado como melhor filme, no Festival de Brasília-1983.
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O jornalista Maurício Azêdo, um dos mais ativos participantes da vida política carioca - tanto que foi eleito vereador, em 1982, e atualmente preside a Câmara do Rio de Janeiro - estará presente, inclusive por uma razão sentimental: em 1974, atuava também no cineclubismo e foi o redator da "Carta de Curitiba", elaborada no final da VIII jornada.
Cineasta, como Denoy de Oliveira e Leon Hirschman; críticos, como Jean-Louis Berbardet; o atribulado presidente da Embrafilmes, Roberto Parreiras, entre outros, estarão na cidade, entre domingo e quinta-feira próximo, participando de reuniões, analisando a situação do cinema brasileiro, a seríssima crise da Embrafilmes (voltou-se a falar de que Parreiras estarão demissionário), a busca de aproximação com o cinema de outros países latino-americanos (inclusive dirigentes de cineclubes estrangeiros estão presente, na qualidade de convidados especiais). Ailton Silva, o "Caru", conservador do Museu do Crtaz, organizou duas exposições de cartazes - uma do cinema brasileiro, outra do cinema cubano, no Solar do Barão e no Museu Guido Viaro, respectivamente. Os cineastas paranaense terão um encontro noturno dia 26 e no final. Após a eleição da nova diretoria da nova diretoria do Conselho Nacional de Cineclubes, haverá uma etílica festa de confraternização no bar "Vagão do Armistício". Aliás, uma curiosidade: ao recomendar que os participantes da jornada viessem prevenidos com agasalhos para enfrentar o famoso frio curitibano, a CNC inclui a frase "conhaque, volka e cachaças são recomendáveis para combater o frio".
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