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Lerner intervém para ordenar os horários dos cinemas da FUCUCU

O compromisso é agora oficial. Já na noite de quarta-feira, 19 - e formalizando-o na manhã de ontem, com determinação à sua assessoria, o prefeito Jaime Lerner quer ver resolvida, de uma vez por todas, uma irresponsabilidade que lhe tem trazido muitos aborrecimentos: a falta de critérios na programação e horários do circuito de exibição mantido pelo município através da Fundação Cultural. - "Sessão corrida tem que ser sessão em seqüência" - admitiu, pessoalmente o prefeito Jaime Lerner, ao ter confirmação de que, nesta semana, o cine Luz voltou a fazer intervalos de 30 (trinta) minutos entre uma e outra projeção de "Caso de Força Maior". Há muito tempo - mas mais acentuadamente a partir de abril de 1991, quando o estimado Francisco Alves do Santos foi brutalmente afastado da coordenação de cinemas da Fucucu - os horários entre uma e outra sessão nos cines Luz, Groff e Ritz obrigam, quase que rotineiramente, os espectadores a perderem tempo se chegando após o início do filme pretendem esperar a sessão seguinte para assistir a parte não vista. Ao contrário do que acontece em todos os cinemas que adotam a política de sessões corridas, os incompetentes "responsáveis" pela programação de cinema da Fucucu insistem em manter horários fixos - independente da metragem maior ou menor do filme em cartaz. xxx Ajustando-se a metragem do filme a horários convenientes ao público - desde que haja divulgação - a exemplo do que fazem as empresas de exibição, se poupará tempo ao público evitando-se intervalos cansativos e irritantes. A opção cultural que a Fucucu deveria optar no caso de filmes com metragens inferior ao normal - para complementar os horários - seria a programação de bons curta-metragens nacionais, os quais embora premiados (até internacionalmente) só são vistos pelo público curitibano quando chegam em promoções organizadas por outras entidades. Foi o caso da mostra "Cinema Cultural Paulista" promovido exclusivamente pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo, que até ontem reuniu em blocos mais de uma dezena de curtas realizados por jovens cineastas. Existe toda uma produção inédita, que independente do fato da lei do curta (que obriga cada filme estrangeiro ser acompanhado por um curta-metragem nacional) não estar sendo aplicada, deveria ter prestigiamento total da Fucucu, já que é uma entidade que custa mais de Cr$ 10 milhões/dia aos contribuintes curitibanos e tem como obrigação prestigiar realizações de qualidade xxx Aliás, procurando exibir filmes de longa-metragem entre o que há de melhor na produção internacional, a Fucucu não faz mais do que sua obrigação. Seria um absurdo que mantendo dezenas de funcionários no setor de cinema - e remunerando regiamente os ditos "coordenadores" da área (admitidos sem concurso e contrariando a própria legislação municipal) - os cinemas mantidos pela população de Curitiba não tivessem filmes de qualidade artística - independentes das rendas que obtém. Além do mais, o cine Luz é conveniado com a Distribuidora Belas Artes, presidida pelo cineasta e empresário Jean Gabriel Albicoco, 56 anos, filho de um mestre da fotografia do cinema francês - Quinto Albicoco, e que participou do nascimento da nouvelle vague e a partir de 1961 dirigiu elogiados filmes como "A Garota dos Olhos de Ouro", "Le Rat d'Amerique", "O Bosque das Ilusões Perdidas", "Nina 1940" etc. Radicado no Rio de Janeiro há 20 anos, lutando para a difusão do cinema cultural europeu (e do terceiro mundo) entre nós, Albicoco, após dirigir a Gaumont, implantou a Belas Artes, que abriu salas - ou fez convênios - para levar seus filmes a todas as principais cidades brasileiras. Em Curitiba, o contrato com a Fucucu obriga que haja uma atenção especial para a programação do cine Luz - que vem exibindo sua programação, com projeção de qualidade, cinema, limpo e, principalmente respeito total ao público. O que, infelizmente, não vem acontecendo - haja vista os constantes intervalos desnecessários entre uma sessão e outra. Dezenas de espectadores - entre os quais o cinéfilo e artista plástico João Osório Brzezinski - já vinham reclamando há meses sem que a "coordenação" (sic) da Fucucu nada fizesse para resolver ajustar os horários. Irritado com esta desatenção - que pessoalmente viu confirmado, quando, na semana passada, em companhia de seus amigos Maurício Brick e Hélio Rottemberg (com os quais habitualmente vai ao cinema), deixou de assistir um filme devido a problemas de horários, o prefeito Lerner não está mais disposto a ouvir desculpas esfarrapadas (e mentirosas) e, assim pessoalmente, nos garantiu que a partir de hoje "não deverá repetir-se intervalos superiores a 15 minutos nos cinemas mantidos pela prefeitura". xxx Nossas reclamações interpretam apenas a irritação do público que apreciando o bom cinema está cansado da prepotência (e incompetência) de pessoas despreparadas para "coordenarem" um setor que exige o mínimo de atenção. Apreciador do bom cinema desde seus tempos de garoto - quando residia na Rua Barão do Rio Branco - Jaime Lerner sempre que dispõe de tempo livre vai assistir aos bons filmes estrangeiros em exibição. Assim, como espectador, sente quando uma sala é deficiente (falta de limpeza nos banheiros, bebedouros que não funcionam, projeção falha etc) e afirma que está disposto a fazer do circuito oficial também um modelo de administração. Afinal, quem consegue fazer Curitiba se tornar famosa em termos mundiais pelos grandes projetos não pode mesmo tolerar que a incompetência e má vontade continuem a prejudicar o setor cultural - como vem acontecendo há três anos. xxx Os espectadores que verificarem deficiências nos cines Groff, Luz, Ritz - e também no Guarani (que nos dias 24 e 25 estará fechado, para dedetização) e na Sala Arnaldo Fontana da Cinemateca Guido Viaro - devem reclamar, de preferência por escrito, enviando suas queixas diretamente ao gabinete. Alguns vereadores, sabedores destes problemas, também estão dispostos a se pronunciarem oficialmente caso a questão não tenha solução. xxx Falando de cinema, dois erros técnicos prejudicaram nossos comentários de ontem sobre os filmes em exibição. Na referência sobre "Mamãe não quer que eu Case" (que estava em exibição até ontem, no cine Bristol) foi suprimida uma linha informando que o policial Danny (John Candy), que se apaixona pela maquiadora de cadáveres, Theresa (Aly Sheedy), que trabalha na funerária de seu pai (idêntica profissão vivida por Dan Aykroyd em "Meu Primeiro Amor", cine Plaza), a conhece por acaso. Com esta supressão informativa (ocorrida por engano na montagem da página) o texto ficou confuso. Já o ator inglês Alan Bates que interpreta o advogado Malcolm, da Anistia Internacional, em "Caso de Força Maior" (cine Luz, 2ª semana) saiu grifado com o brasileiríssimo sobrenome de "Bastos". LEGENDA FOTO - Jean Gabriel Albicoco, presidente da Distribuidora Belas Artes, cineasta da nouvelle vague, há quem se deve a programação exibida no Cine Luz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
21/02/1992

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