Manilow cantando para fazer o amor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de maio de 1988
Barry Manilow, compositor, pianista, cantor e arranjador, tem uma carreira curiosa. Começou cantando baladinhas românticas, bem emolduradas, mas já cuidadosamente embaladas em bons arranjos ("Oh Julie", "Heaven"), emplacando êxitos como "Daybreak" e "Copacabana", que há 12 anos, o fez vir ao Brasil.
Loiro, good-looking, numa época de um som cada vez mais eletrificado (e irritante) soube trilhar um caminho próprio e que desembocaria, há quatro anos, no melhor disco de 1984: "2:00 AM/Paradise Cafe" (Artista/RCA), seguramente um dos mais suaves e enternecedores álbuns desta década.
No estúdio Westkale, com uma pequena formação de músicos de jazz (George Duvivier, baixo; Mundell Lowe, guitarra; Shelby Manne, bateria; Bill Mays, teclados e Gerry Mulligan, sax bariton), ele próprio acompanhando-se ao piano (sempre foi um suave melodista) - recriou o espírito das melhores canções, fazendo duetos magníficos com Sarah Vaughan ("Blue") e Mel Tormé ("Big City Blues"), ao lado de nove outras faixas esplêndidas. Seu disco seguinte, infelizmente não teve a mesma suavidade - em parte por culpa do co-produtor George Duke, um tecladista-arranjador de outro estilo. Felizmente, para alegria de seus admiradores, Manilow volta a sua fase mais admirável com "Swing Street" (Artista, abril/88) - seguramente com todas as condições de repetir o feito de "Paradise Cafe".
São dez canções belíssimas, suaves - entre composições próprias - Brooklyn Blues (com solo do saxofonista Tom Scott), "Once When You Were Mine", "Swings Street", "Black and Blue" e "Hey Mambo" - entremeadas a clássicos como "Summertime" (Gershwin) - com as participações da cantora Dianne Schuur e do sax de Stan Getz; "Stopin At The Savoy" (Beeny Goodman/Chick Webb Razaf), mas com uma letra adicional de Barry; e "Stardust" (Carmichael-Parish). Presenças especiais - como de Phyllis Human e Tom Scott em "Black and Blue", o sax de seu amigo Gerry Mulligan em "One More Time" e a vibração latina de Kid Creole and the Coconuts em "Hey Mambo", dão ainda maior dimensão a este belíssimo álbum, que tal como "Paradise Cafe" é um álbum para ouvir de preferência fazendo amor - e que muito apropriadamente Manilow dividiu em duas etapas: o lado A - "8:00 pm" (Swing Street, Big Fun, Stopin At The Savoy, Black And Blue e Hey Mambo), deixando as demais (incluindo "Summertime" e "Stardust" para a chamada sessão "Midnight". Bons embalos de amor com este som.
LEGENDA FOTO - Depois de "Paradise Cafe", um novo encontro perfeito da voz com standards da melhor música americana.
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