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Aramis

Memórias de Juarez (II)

No segundo volume de suas memórias ("Uma Vida e Muitas Lutas"/ "A Caminhada no Altiplano", Livraria José Olympio Editora, Coleção Documentos Brasileiros, 1974, 311 páginas), o marechal Juarez Távora, 75 anos, recorda outra estória interessante ocorrida em 1939, quando, no Paraná, chefiava o 1o Batalhão Rodoviário e a Comissão de Estradas de Rodagem PR/SC. Pouco antes da entrega ao tráfego do trecho Rincão-Rio Bonito, na estrada Curitiba-Joinville (29 de fevereiro de 1940), ocorreu "um fato de alguma forma divertido, mas que me causou, no momento, um grande susto". Relata o próprio candidato da UDN à Presidência da República em 1955: "Inspecionava eu, já à tardinha, trecho em acabamento, logo na subida da Serra do Mal (N.R. respeitada grafia do livro/ pode ser, por erro de impressão, o autor queira se referir a Serra do Mar), quando se aproximou de mim um jovem casal de teuto brasileiros, que, viajando em moderno e possante automóvel, se dirigia a São Paulo, via Curitiba, ao que me pareceu, em lua-de-mel. Pediu-me o rapaz, que dirigia o carro, permissão para trafegar em caráter provisório, a fim de evitar a grande volta e os "sacolejos", a que estaria sujeito, se viajasse pela antiga estrada empedrada, Dona Francisca. Expliquei-lhe que, de fato, havia permitido, em caráter experimental, o tráfego de alguns automóveis, pela nova rodovia (recordo-me que uma dessas permissões fora dada ao meu amigo Gilberto Freyre), cuja inauguração estava programada para daí a alguns dias. Mas desaconselhei-o a aproveitar-se de tal permissão, devido ao comprimento e ao peso de seu carro, e ao perigo de deslizamento do mesmo, em alguns cortes e aterros, no alto da serra, onde havia chovido bastante na véspera. Insistiu, entretanto, o rapaz no seu pedido, alegando que teria de retroceder muitos quilômetros, até alcançar o entroncamento da estrada Dona Francisca; e, ademais, sendo o seu carro bastante possante, conseguiria safar-se das dificuldades encontradas na nova estrada. Cedi à sua insistência, recomendando-lhe guiar com prudência nos aterros e cortes enlameados do alto da serra. Terminada a inspeção já à noite, voltei a Curitiba, no "fordeco" do Batalhão, que era uma espécie de jipe da época. Viagem lenta, mas segura. Por volta de dez horas da noite, já próximo do Rincão, onde começava o trecho da estrada, encontrei esta bloqueada por um automóvel, que atravessara no seu leito. Era o bonito e possante carro do jovem casal teuto-brasileiro. Não foi fácil arranjar passagem para o "fordeco", entre o para-choque dianteiro do carro atravessado e a valeta do pequeno corte em que se atravessara. Mas, após cerca de meia hora de empurrões e manobras cautelosas, conseguiu o meu motorista transpor aquela angustura. Ofereci lugar no meu pequeno carro, para levar o casal até Curitiba. O rapaz preferiu não abandonar seu carro novo na estrada, com a bagagem que conduzia. Mas pediu-me que levasse sua senhora, deixando-a no Hotel Johnscher. Concordei. Chegando ao hotel depois das onze horas, ai me informaram não haver quarto vago. Pedi, então ao porteiro que telefonasse para o Grande Hotel, pertencente a mesma empresa. Também não havia, ai, vaga. O porteiro telefonou para um terceiro hotel, obtendo a mesma resposta negativa. Olhei, inquieto, para a "alemãzinha", e comecei a assustar-me. Se não encontrasse alojamento em outros hotéis, que destino poderia eu dar-lhe, aquela hora da noite? Felizmente, na quarta tentativa do porteiro, foi encontrado quarto vago num hotel de pouca categoria, próximo à estação da estrada de ferro. Para lá me dirigi, pedindo ao porteiro do Johnacher informar ao marido da moça, quando lá aparecesse, o hotel onde ela se hospedara. Mas minhas aflições não haviam terminado. Exatamente no momento em que me dirigia, com a moça, ao porteiro do hotel e lhe pedia um quarto para casal, avisto de lado, um meu jovem parente norte-rio-grandense, Valdemar Fernandes, estudante de Engenharia, em Curitiba, que, ao ouvir o meu pedido fez cara de quem não acreditava no que via e ouvia, e sumiu, apressadamente, no primeiro corredor do hotel, como se quisesse evitar ser testemunha de uma incrível piratagem amorosa de seu primo cearense. Nem me deu tempo de explicar-lhe o caso... LEGENDA FOTO 1 - Loris LEGENDA FOTO 2 - Clotilde.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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07/01/1975

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