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Aramis

Mulheres nervosas e o político filme maldito de Frank Sinatra

De repente, numa espécie de complemento tapa-buraco na programação do Lido II - que nas sessões vespertinas continua a exibir o desenho "Em Busca do Vale Encantado", de Don Bluth - eis que chega um dos filmes mais importantes do ano: "Sob o Domínio do Mal". Embora não seja uma estréia - foi exibido, uma única semana no saudoso Cine Ópera, há 25 anos - esta produção da United Artists tem toda uma história que a faz um cult movie com um quarto de século de atraso. Abordando um tema que o tornou um filme maldito - o assassinato de um presidente americano - com um elenco excelente liderado por Frank Sinatra e com o diretor John Frankenheimer em sua melhor forma, "The Manchurian Candidate" teve um relançamento cuidadoso no Rio de Janeiro, com merecida atenção da crítica - enquanto aqui, desperdiçado somente nas sessões das 20 e 22 horas, corre o risco de não emplacar sequer uma semana. Nesta mesma semana chega também outro filme dos mais esperados - este sim, com condições de permanecer várias semanas em exibição no Ritz, se a ganância oficial da Fucucu e a falta de visão dos homens que programam suas salas, não falarem mais alto: "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", o filme-consagração de Pedro Almadovar. A semana tem ainda a estréia de um thrilling, "O Limite da Traição" (Extreme Prejudice), de Walter Hill, com Nick Nolte e a sensual Maria Conchita Alonso - mas somente nas sessões noturnas do Cine São João. Para quem curte terror explícito, "A Hora do Pesadelo 4", de Renny Harlin - chega no Itália. Afora duas reprises - "Minha Noive é uma Extraterrestre", de Richard Benjamin (Plaza, à noite) e o interessante "Bom Dia, Vietnã", de Barry Levingson (Cinema I, 20 e 22 horas), temos a estréia nacional da semana: "Festa", de Ugo Giorgetti, melhor filme no XVII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado - que também valeu nas premiações de melhor ator (dividido entre Antônio Abujamra / Adriano Stuart), som, figurinos - e a propósito do qual já dedicamos vários comentários quando da realização do Festival. Em lançamento no Cine Luz, "Festa" merece a maior atenção da semana. A Morte de um Presidente - Amigo pessoal de John Kennedy, quando o presidente americano foi assassinado no Texas, em 22 de novembro de 1962, o ator-cantor Frank Sinatra ficou abaladíssimo. Não só pela morte de um homem que admirava - e em cuja campanha eleitoral havia se integrado de corpo e alma - mas pela irônica coincidência de ter interpretado personagens neuróticos que tentavam assassinar presidentes da República em dois filmes: "Meu Ofício é Matar" (Suddenly), 1954, de Lewis Allen - disponível em vídeo - e em 1962, o veterano da guerra do Coréia, Bennet Marco, que submetido à lavagem cerebral, é conduzido a matar o candidato a presidente dos Estados Unidos, em "The Manchurian Candidate". Thrilling político que John Frankenheimer, na época do vigor de seus 32 anos, com roteiro do excelente George Axerold (com ele, co-produtor do filme, mas Sinatra), do romance de Richard Condon, "The Manchurian Candidate" foi um filme avançado para a época. A história era relativamente intrincada e os personagens impressionantes: Laurence Harvey como Raymond Shaw, Angela Lansburry como sua mãe, a (então) bela Janet Leigh como Rosie e, como sempre, como o vilão cruel, Chunjin, Henry Silva - além de um elenco de suporte também expressivo. A produção de Howard Koch havia sido cuidadosa com uma trilha sonora nervosa (de David Amram, compositor que estranhamente não fez carreira) e a fotografia, em preto e branco, de Lionel Lindon, procurava captar todo um clima "noir" dos cenários impressionistas. A trama - um grupo de soldados submetidos a lavagem cerebral na Coréia (a guerra entre as duas Coréias ainda estava com cicatrizes expostas), é preparado para o assassinato ao retornarem aos EUA e com isto se construiu um filme de intenso suspense ao longo de 126 minutos. A coincidência do assassinato de Kennedy quando o filme começava sua carreira internacional, fez com que Sinatra, um dos co-produtores, determinasse a imediata suspensão de sua exibição, e recolhimento de todas as cópias. Nunca mais o filme deveria ser exibido. No ano passado, entretanto, Sinatra foi convencido pelos executivos ligados aquela produção (e os direitos que haviam passado pela United Artists, com sucessivas vendas neste quatro de século), de que não seria justo manter inédito "The Manchurian Candidate". Assim o filme foi relançado, como um cult movie, na Europa e Estados Unidos. Chegou ao Brasil, infelizmente, sem o preparo devido e o fato é que acaba praticamente desperdiçado, neste período de férias, confinado em apenas sessões noturnas no Lido II. De qualquer forma, fica a dica: não percam - os mais jovens para conhecê-lo, os que já o viram para terem uma nova leitura de um filme que teve uma trágica premonição em seu argumento. Outras Opções - "Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos", sexto longa-metragem do espanhol Almodovar, 40 anos e seu primeiro êxito internacional (uma das maiores bilheterias na temporada 88/89, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro), vem tendo tamanha cobertura desde que foi apresentado, hors concours, no último FestRio, que dispensa, neste nosso curto espaço, que se fale a seu respeito. Em compensação, é bom chamar atenção para "Bom Dia, Vietnã" (Good Morning, Vietnã), que Barry Levinson realizou em 1987 - antes de "Rain Man" (que o consagraria) e que valeu a Robin Williams a indicação ao Oscar de melhor ator. Comédia com toques dramáticos sobre um disc-jockey no campo de batalha, "Good Morning, Vietnã" teve uma fraca semana no Cine Bristol, e agora, retorna nas sessões noturnas no Plaza - que, durante o dia, assim como o Lido I e São João - continua com a intragável "Princesa Xuxa e Os Trapalhões", de José Alvarenga. Para as crianças, bem mais recomendáveis são "Benji, o Perseguido", de Joe Camp (Cinema I) e "A Dama e o Vagabundo", este no Bristol - que à noite reprisa "A Pequena Loja dos Horrores", semimusical curioso, com Vincente Gardenia em excelente atuação. Também para o público infantil, temos a produção japonesa "As Aventuras de Chatran" - na linha "Maravilhas da Natureza" (do Disney dos anos 50), domingo pela manhã, no Luz. No Groff - em reprise - um dos melhores momentos da obra do espanhol Carlos Saura ("Ana e os Lobos", 1972), nas sessões normais e, amanhã à meia-noite e domingo, 10h30, "O Nome da Rosa", que mereceria relançamento normal. LEGENDA FOTO - "Festa", melhor filme em Gramado, está no Luz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
14/07/1989

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