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Aramis

Nas memórias de Wainer, a saga da "Última Hora"

Um dos projetos mais urgentes na área da documentação paranaense é a microfilmagem de todas as coleções de jornais existentes na Biblioteca Pública do Paraná. Fonte primária para qualquer pesquisa que se relacione ao nosso Estado, o manuseio das coleções vem provocando sua deterioração, a tal ponto que muitos volumes já se encontram em precárias condições. Todos os jornais são preciosos mas alguns, pela quantidade de informações são mais consultados. É o caso dos 898 números da edição paranaense da "Última Hora", que circulou entre 1º de junho de 1961 a 12 de maio de 1964, marcando uma fase da imprensa paranaense. Apesar da inexistência de 104 edições deste período - sabe-se lá por que razões? - os volumes contendo as edições da "Última Hora", com suas manchetes em azul, diagramação moderna (foi o jornal que inovou no tratamento gráfico da primeira página), e, principalmente, agilidade e audácia na abordagem dos fatos, faz com que estes 18 volumes sejam preciosíssimos. A outra coleção completa que existia da "Última Hora", edição no Paraná, quando do fechamento da sucursal, ficou com o jornalista Milton Cavalcanti, 55 anos - hoje assessor especial da Secretaria do Planejamento, que na época era editor de economia da "UH". Infelizmente, a coleção que Milton vinha preservando acabou sendo perdida num incêndio em sua residência, restando apenas a incompleta coleção que está na Biblioteca Pública do Paraná, na qual também se encontram alguns volumes com a edição paulista, entre os números 2066 (1959) a 2813 (1961). xxx A edição regional do Paraná da "Última Hora" circulou no período de maior força do jornal fundado por Samuel Wainer em 1951, quando havia edições nos principais Estados do Brasil - dentro da mesma linha gráfica e editorial que o tornava um jornal extremamente popular, de grande circulação. Mas que, pelas suas posições trabalhistas (afinal, havia nascido com o segundo governo Getúlio Vargas, de quem Wainer foi um dos maiores amigos) assustava as classes conservadoras. Ligada mais a "Última Hora" de São Paulo - onde era montada e impressa (vindo, via aérea, para Curitiba) do que ao Rio de Janeiro - sede nacional da organização, é natural que o próprio Wainer tivesse poucas ligações diretas com a sucursal curitibana, que teve em Wladimir Araújo e Michel Khoury, seus primeiros diretores. Explica-se, assim, porque em seu livro de memórias, "Minha Razão de Viver" (Record, 286 páginas, Cz$ 699,00, já em segunda edição), não haja maiores referências ao Paraná. Dando liberdade aos seus executivos, Wainer deixou que as sucursais da "Última Hora" ganhassem autonomia - e, por certo, se não fosse o golpe militar de 1º de abril, a "UH" paranaense teria se tornado o maior jornal do Estado. Após a revolução, a sucursal de Curitiba ainda funcionou por um mês e meio - encerrando as atividades com a edição do dia 12 de maio de 1964. Wainer já estava exilada na Embaixada do Chile desde as vésperas do golpe militar e o seu império jornalístico começava a enfrentar sérias dificuldades que o levariam ao debacle total, poucos anos depois. xxx Leitura fascinante não só para quem participou diretamente da "Última Hora", mas a todos que se interessam pela história da imprensa (e política), "Minha Razão de Viver - Memórias de um Repórter", de Samuel Wainer, falecido em São Paulo, em 2 de setembro de 1980, aos 68 anos, foi escrito (por Augusto Nunes, diretor da sucursal paulista do "Jornal do Brasil"), a partir dos depoimentos gravados entre 25 de janeiro a agosto de 1980, num total de 53 fitas cassetes. Deste material - no qual Wainer não teve meias palavras, dando um depoimento dos mais sinceros (as gravações foram coordenadas pelos jornalistas Sérgio de Souza e Marta Góis), Nunes produziu um livro fascinante, que mostra Wainer com sua noção precisa de quando chegava sua hora e vez, a verdadeira saga de um repórter que, filho de uma família judia pobre, chegou a ser um dos mais influentes homens do Brasil. Nas fitas que gravou, Wainer não se limitou a mostrar fatos heróicos e os bons momentos que viveu, amigo de três presidentes da República (Getúlio, Juscelino e Jango), mas contou também as concessões pouco recomendáveis que foi obrigado a manter o seu jornal - um dos mais modernos do País e que trouxe uma valorização aos profissionais da imprensa. Jornalismo e política se integram e confundem nas memórias de Samuel Wainer, antes de tudo um repórter atento que, ao voltar ao Brasil, em 1968, após exílio na Europa (entre outras atividades que lá exerceu, esteve, inclusive, a de produtor de um filme, "Os Pastores da Desordem", dirigido pelo grego Nilo Papatakis, que lhe deu imensos prejuízos) voltou a trabalhar na própria "Última Hora, como empregado - há que, havia vendido a empresa para o grupo Frias, das "Folhas". Homem que sempre gostou de vem viver, amante de belas mulheres, foi casado com a colunável Danuza Leão, com quem teve três filhos - Samuca, jornalista da Rede Globo, morto num acidente na BR-124, em 29 de junho de 1984, aos 28 anos; Pinky, hoje artista plástica de fama e o cineasta Bruno Wainer, que se prepara para estrear em longa-metragem. xxx De seus primeiros tempos como repórter, a experiência da revista "Diretrizes" (1938), as razões da briga com Carlos Lacerda, os trepidantes anos 40 e 50 no Rio de Janeiro - e sobretudo, a sua visão de repórter de visão, que conseguiu ter a sua própria cadeia de jornais, fazendo com que "Minha Razão de Viver" esteja entre as leituras mais atraentes. Como diz Augusto Nunes, que soube dar forma e ordenar as dezenas de horas de depoimentos de Wainer, "terminada a grande aventura, ele sobreviveu para contar a história, e, ao revelar sem censuras o explosivo armazenado em sua memória, deixar uma das mais contundentes e sinceras autobiografias já produzidas no Brasil. Ela comprova que a vida de Samuel Wainer foi a melhor reportagem concebida pelo jornalista Samuel Wainer". LEGENDA FOTO - Samuel Wainer: memórias preciosas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
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05/02/1988
Bom dia. Gostaria de saber se os srs. sabem me informar o endereço do jornal última hora de São Paulo, pois é muito importante pra mim , queria saber sobre a cobertura de um acidente aéreo em Pirassununga em 1961, sei que foi esse jornal que fez a cobertura, tem alguma fotos de qdo um avião da AFA caiu em cima de uma casa durante uma comemoração. Fico muito grata se vcs conseguirem esse endereço para mim. Fico no aguardo de uma resposta. Atenciosamente Elisabete Couceiro

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