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Aramis

O sax como nos tempos dourados

A temporada jazzística continua em alta. Como se não bastassem as básicas coleções da Atlantic (nove volumes de jazz; sete álbuns duplos de Rhythm & Blues) e os periódicos lançamentos da CBS - em termos históricos - temos mais quatro magníficos álbuns para quem aprecia o saxofone, sem dúvida um dos instrumentos mais ricos em suas potencialidades de harmonia e improviso. Coincidem com a edição, afinal, do segundo álbum de Courtney Pine, 23 anos, inglês, discípulo de John Coltrane e que, como registramos no domingo passado, vem sendo considerado a maior revelação deste instrumento - apreciado, inicialmente em alguns solos da trilha do filme "Coração Satânico" (Angel Heart, 87, de Alan Parker) e agora, mostrando todo o seu incrível "Destiny's Song and The Image of Persuance" (Island Recors/Wea). Como bem lembrou Carlos Callado, Courtney se inclui ao lado dos garotos-prodígios como Branford Marsalis, Terence Blanchard e Donald Harrison - que tem seus novos elepês lançados agora no Brasil - numa linha do jazz clássico dos anos 50 - que, com as piruetas eletrônicas-acústicas, a fussion havia sido abandonada nas últimas duas décadas. Bendito retorno que nos traz Branford Marsalis ("Renaissance", CBS) e a dupla Donald Harrison/Terence Blanchard ("Crystal Stair", também CBS), ambas produções de Delfeayo Marsalis, irmão mais novo de Branford e de seu genial irmão Wynton, pistonista - este consagrado hoje tanto na área do clássico como no jazz. A edição de março/88, na escolha dos melhores lançamentos do primeiro trimestre/88 "Cream of the Crop II") incluiu o LP de Wynton ("Hot Hous Flowes" e Branford, por certo, estará na próxima listagem como este seu "Renaissance", no qual homenageia alguns ídolos do sax: Wayne Shorter (balada "Lament"), John Coltrane (em "Love Stone") e Sonny Rollins (em "St. Thomas"). Já uma das faixas do novo álbum da dupla Harrison Blanchard - ainda pouco conhecida no Brasil, mas em escala ascendente - chama-se "Neoclasicism" - que identifica-os a um estilo tradicional, repetido em faixas como "Grace of God" e, especialmente "God Bless The Child" - nesta reverenciando ao grande Charlie Parker (1920-1966) que, finalmente neste ano, deverá ser "descoberto" pelo grande público, com o filme "Bird", homenagem carinhosa de Clint Eastwood - e o grande êxito no último festival de Cannes (só agora estreando nos EUA). Se Wayne Shorter (Newark, 25/8/1933) é tema para homenagens de um jovem pistonista como Terence Blanchard e do saxofonista Harrison, isto não significa que ele esteja afastado da música. Ao contrário, este incrível sax-teronista - que já trabalhou com alguns dos maiores músicos contemporâneos (Horace Silver, Maynard Ferguson, Art Blakey), antes da formação do Weather Report, em 1970 e, sem favor, uma das maiores influências no jazz fussion, chega num álbum-solo ("Joy Ryder", CBS), de incrível juventude e beleza, com uma coleção de sete novas composições - todas belíssimas ("Joy Ryder", "Cathay", "Over Shadow Hill Way", "Anthem", "Causways", "Daredevil" e "Someplace Called Where"). Trabalhando com um pequeno grupo - Terri Lyne Carrington na bateria, Nathan East no baixo e Patrice Rushen nos teclados - há, entretanto, participações afetuosas, entre as quais do sintetizador de Herbie Hancock, dos teclados de Geri Allen, baixo de Arryl Jones, a percussão de Franck Colon e até o vocal de Diane Reeves na faixa mais interessante e emotiva - "Someplace Called Where". Para quem opta pelo sax bem tradicional, romântico, a nova etiqueta Black and Blue (distribuída pelo Estúdio Eldorado) faz um lançamento capaz de ficar entre os mais vendidos: "Midnight Slow" traz o suavíssimo sax-tenorista Budd (George Homes) Tate (Sherman, Texas, 22/2/1915), ao lado do organista Mil Blackner e do baterista Wallace Bishop, em oito temas para recordar os bons tempos, incluindo "Flaming" (Anderso Grouya), "Midnight San" (Mercer/Hampton/Brucker), "Day By Day" (Cahn/Neston/Stordhal), "You've Changed" (Carey Fisher) e uma própria composição de Buddy, "When I'm Blue". Realmente, a combinação sax-órgão - com o discretíssimo apoio de uma bateria - dá uma formação ideal para quem busca um jazz sem volteios - mas que, convenhamos, embala com nada mais, alguma boas horas de amor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
17
26/06/1988

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