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Aramis

Agora é esperar que os filmes de Gramado cheguem aos cinemas

Gramado - Neste domingo, quando mais de 500 convidados deixam a cidade, levando as alegrias, emoções e lembranças aqui vividas durante 7 dias, no mais bem organizado e importante festival do cinema brasileiro, pode-se fazer uma reflexão: quantos dos filmes que aqui foram apresentados chegarão ao circuito (cada vez mais reduzido) comercial para atingir um público que vem trocando o hábito de ir ao cinema pelo conforto do videocassete ou simplesmente preferindo a televisão, que, se louve, tem preocupado, em suas redes nacionais, apresentar cada vez filmes mais atraentes - inclusive voltando-se para a produção brasileira? Ex-presidente da Embrafilme, produtor e diretor, hoje na presidência do Concine, Roberto Farias acompanhou o festival e não perdeu praticamente nenhuma sessão. Conversou especialmente com realizadores de curtas e longas-metragens, que, mais do que os que conseguem chegar ao longa, enfrentam a limitação do mercado. Os curtas, após muita luta, obtiveram seu espaço, mas os médias continuam enjeitados já que não conseguem preencher uma programação normal. Um dos muitos problemas que fazem com que existam mais de 50 médias interessantíssimas, premiados, abordando aspecto da realidade brasileira ou mesmo obras de ficção, mas que têm, até hoje o destino de somente serem vistos em festivais ou promoções (muito) especiais. Fábio Magalhães, o novo presidente da Embrafilme e o fotógrafo e cineasta Afonso Beatto, presidente da Fundação Brasileira de Cinema, também aqui estiveram e conversaram, informalmente, com pessoas de várias áreas. Não se aprofundaram em reuniões ou discussões da crise - palavra que já parece uma constante - em torno do cinema brasileiro, mas que, ironicamente, agrava-se neste ano em que o cinema brasileiro comemora seus 90 anos. Os filmes para o público - dos sete longas que competiram em Gramado, neste, ano, pelo menos dois já estão sendo exibidos comercialmente - "Luzia Homem", de Fábio Barreto (lançado em Curitiba originalmente no Cine Condor, reprisado no Ritz, com pequeno público - repetindo-se o que aconteceu em outras capitais) e "Eternamente Pagu", de Norma Bengell, que no eixo Rio-São Paulo está conseguindo atrair público razoável (mas sem data ainda para lançamento em Curitiba). Dos outro cinco filmes - entre os quais por certo estão os premiados nas várias categorias (e cuja relação publicaremos na terça-feira, já que a sua divulgação só se deu ontem à noite, após as 22 horas) - as datas de lançamento variam. A UIP, que há 12 anos não atribuía um filme nacional, por certo assegurará um ótimo circuito para "Dedé Mamata" totalmente realizado com recursos da Lei Sarney (a Embrafilme não teve qualquer participação) e que, exibido na noite de quarta-feira, 22, provocou emoções, demorados aplausos e, ao lado de "Feliz ano velho", subiu como um dos favoritos para as principais premiações. "Sonhos de menina moça", de Tereza Trautman, e "A menina do lado", de Alberto Salvá - exibidos na quinta-feira, só terão lançamento no segundo semestre, assim como "A dama do cine Shangay", do paulista Guilherme de Almeida Prado - último em competição. A premiação dos filmes em Gramado - apesar da grande cobertura garantida pela imprensa nacional - nem sempre significa uma política inteligente (imediata) de lançamento e dois exemplos de filmes que saíram daqui carregados de Kikitos, mas que demoraram mais de um ano para chegar às telas foram "O baiano fantasma", de Denoy Oliveira, em 1984, melhor filme, direção, ator - José Dumont etc., e "Marvada carne", de André Klotzel (13 principais prêmios em 1985). "Anjos do Arrabalde", de Carlão Reichembach, o melhor filme do ano passado, chegou primeiro em vídeo e depois nos circuitos comerciais - sem êxito merecido. Sigilo - Somente após a projeção de "Romance de empregada", de Bruno Barreto - o cine Embaixador superlotado - é que na noite de ontem foram anunciados os vencedores nas várias categorias - do super 8 (cujo festival, em sua 12a. edição, continua a resistir, apesar da baixíssima qualidade dos filmes em competição) aos premiados principais, na primeira reunião do júri oficial, presidido pelo ator Paulo Autran, se chegou a discutir a possibilidade dos resultados serem fornecidos a imprensa na tarde de sábado, para garantir a divulgação dos vencedores nas edições dominicais dos principais jornais brasileiros - que aqui estão representados dando a maior cobertura do festival. Entretanto, a tese do sigilo permaneceu e para evitar o vazamento de qualquer resultado, a própria comissão julgadora tem sua última reunião da sala vip do cine Imperador, durante a projeção de filme hors-concours. Dali, desce diretamente para suas poltronas e os envelopes, fechados, são abertos no palco, por artistas, diretores e outras personalidades convocados por Tânia Carvalho e Clóvis Duarte, apresentadores oficiais do festival. Um esquema que procura ser o mais seguro possível, na linha do da festa do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Este ano, até na quarta-feira, não houve protestos ou imprevistos no palco do cine Embaixador - como já aconteceu anteriormente (mas tudo pode acontecer na última hora). A organização foi perfeita - e na quarta-feira, em nota oficial, lida por Paulo Autran, destacou-se esta maturidade profissional da comissão executiva do festival. LEGENDA FOTO: "Eternamente Pagu", um dos filmes que já chegou aos cinemas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/06/1988

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