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Aramis

Os filmes para os próximos festivais

Foi o próprio Orestes Quércia quem decidiu a parada: ao invés de cinco longa-metragens, cada um com uma ajuda de US$ 200 mil, o governo de São Paulo vai bancar a produção de dez filmes para aquecer a raquítica produção brasileira. O projeto de Cláudio Kahns, um dos mais competentes produtores de cinema em São Paulo, responsável pela qualidade de obras como "Janete" (Chico Botelho), "Vera" (Sérgio Toledo), "Marvada Carne" (André Klotzel) e "Feliz Ano Velho" (Roberto Gervetz), na qualidade de assessor para assuntos de cinema do secretário Fernando de Moraes, da Cultura, de São Paulo, acabou tendo sinal verde e uma verba de US$ 2 milhões está aprovada. A concorrência pública para apreciação dos projetos - com a condição de que só poderão disputar cineastas radicados há pelo menos dois anos em São Paulo - já foi aberta e dentro de 45 dias, no máximo, serão anunciados os escolhidos. Aproximadamente 150 projetos serão apresentados pois vontade de fazer cinema existe entre os realizadores paulistas - o que falta é grana. Um longa de custo médio não fica por menos de US$ 500 mil e assim o financiamento da Secretaria da Cultura paulista não é suficiente. A Embrafilme promete entrar com ao menos US$ 100 mil por filme e o resto os produtores terão que buscar em outras fontes. xxx Mesmo com a maior crise na cinematografia - nunca a produção de cinema caiu a números tão reduzidos - não há cineasta que não tenha seu projeto. Alguns já iniciaram a pré-produção e mesmo a escolha de elencos, técnicos e cenários. Outros, por enquanto, têm apenas uma idéia na cabeça. Em vários Estados há gente sonhando em conseguir fazer seus longas - muitos dos quais são projetos acariciados há anos. Durante o XVII Festival de Cinema de Gramado, mais uma vez, deu para sentir-se este caldeirão fervilhante de idéias para que nos próximos festivais cheguem às telas, já em competição, os projetos que por enquanto estão no papel. Alguns produtores mais organizados, como o mineiro Tarcísio Vidigal, do Grupo Novo de Cinema e TV, responsável por um dos grandes sucessos dos últimos anos, na área de filmes para o público infantil ("A Dança dos Bonecos"), anunciou solenemente duas novas produções: "O Menino Maluquinho", de Helvécio Ratton, baseado no livro de Ziraldo (que já vendeu um milhão de exemplares) e "O Mistério de Cinco Estrelas", do livro de Marcos Rey (800 mil exemplares vendidos). As filmagens começam em setembro em Conceição do Mato Dentro, Minas. Paralelamente também devem começar a rodagem de "O Mistério de Cinco Estrelas", com direção de José Américo. Outro cineasta mineiro, José Carlos Prates, finaliza "Minas-Texas", enquanto que Marco Antônio Simas, vindo de dois curtas premiadíssimos ("Com o Andar de Roberto Taylor" e "Um Dia, Maria"), tem pronto o roteiro para o seu primeiro longa - "A Partida do Último Trem". Em Brasília, o projeto idealizado pelo ministro José Aparecido, quando governador do Distrito Federal - de financiar um filme em 5 episódios mostrando diferentes visões da Capital - está em fase adiantada. Os episódios estão sendo realizados por cineastas radicados em Brasília: Wladimir de Carvalho, Pedro Anísio, Geraldo Moraes, Roberto Pires e Moacyr de Oliveira (atual presidente da Embrafilme). Wladimir, respeitado documentarista, autor do motivo [emotivo] "O Evangelho Segundo Teotônio", espera concluir um filme que vem exigindo seus esforços há mais de 15 anos: "Conterrâneos Velhos de Guerra", com material que mostra o crescimento de Brasília desde o início dos anos 60. Já o baiano Roberto Pires, pioneiro do cinema baiano ("Redenção", "A Grande Feira", "Tocaia no Asfalto"), há anos radicado em Brasília, está realizando "Pesadelo 137", produzido por um empresário de Goiás, sobre o drama da contaminação pelo Césio. Não será o primeiro filme de Pires voltado à ecologia: seu último longa, realizado com inúmeras dificuldades na Bahia, foi "Abrigo Nuclear". Outro cineasta brasiliense, Geraldo Moraes (autor de "A Difícil Viagem"), tem também um novo longa em progresso - "O Círculo de Fogo". Jornalista e crítico, editor da revista de cinema "Cisco" - que interrompeu no número onze ("não agüentava mais os prejuízos"), Hermes Leal Filho, assessor de comunicação da Raiz Filmes, é outro que pretende fazer cinema em Goiás, seu Estado natal. Está com o roteiro pronto de "O Ventre do Dragão". xxx Em São Paulo, naturalmente, a grande expectativa está no concurso da Secretaria da Cultura, embora alguns projetos estejam praticamente concluídos e em fase de filmagens. O montador Walter Rogério, há dois anos, tenta finalizar "O Beijo 2348/72", enquanto Wilson de Barros, após o êxito de "Anjos da Noite", vai realizar outro thrilling na linha hitchcookiana - "Viajante Estrangeiro", para o qual já contratou a atriz Irene Ravache. Assunção Hernandez, executiva da Raiz Filmes, a mais ativa produtora de cinema em São Paulo, enquanto não começam as filmagens de "Wlado", o acalentado (e personalíssimo) projeto de seu marido, João Batista de Andrade (para o orçamento de US$ 800 mil já levantou US$ 400 mil, através de vendas antecipadas do filme para a Espanha e França), envolve-se com outras realizações. Assim, é a produtora executiva de "O Corpo Delito", de José Antônio Garcia ("O Olho Mágico do Amor") e trazendo ao Brasil o cineasta suíço Pierre Alan Meyer vai realizar "Telma", entre outros projetos. xxx No Rio de Janeiro, Miguel Farias está em filmagens ("Stelinha"), assim como Julinho Bressane ("Os Sermões de Vieira"), enquanto Neville de Almeida quer refilmar um clássico udegrudi de Bressane - "Matou a Família e Foi ao Cinema"). Bigode (Luís Carlos Lacerda), após o êxito de "Leila Diniz", trabalhou por um ano num longa sobre o Barão de Itararé, chegou a fazer um video-exercício (mostrado no ano passado em Gramado) mas concluiu que "não é ainda a hora deste projeto". Em compensação, tem pronto o roteiro de "Surfista de Trem", abordando o drama dos que viajam sobre os vagões dos trens suburbanos no Rio de Janeiro. Murilo Salles, embora vá passar os próximos meses cuidando da comercialização de "A Faca de Dois Gumes", que lhe deu o Kikito de melhor diretor, já tem o roteiro para um filme "extremamente pessoal,, desta vez sem buscar adaptação de qualquer livro": "Caminhos do Coração". David Neves, que passou os últimos três anos para realizar "Jardim de Alah" (prêmio especial do júri em Gramado) está na dúvida: não sabe se filma "Túnel Rebouças" - dentro de seu cinema "geográfico-carioca" ou se faz uma adaptação às telas de "Martine Doce", novela de seu amigo Fernando Sabino - já adaptada para o teatro. xxx Embora procurado para cenários de superproduções internacionais (a mais recente, "Orquídea Negra", com Mickey Rourke e Jacqueline Bisset), há quase 10 anos que não acontece em Salvador um longa-metragem rodado por baianos. Por isto, quatro cineastas, Pola Ribeiro, Araripe Jr., Fernando Beléns e Edgard Navarro (premiado em Gramado com o média "O Superoutro") vão somar esforços para produzir o filme em sketches intitulado, provisoriamente, "Histórias Perversas". No Rio Grande do Sul - cujo movimento cinematográfico merecerá futuro registro à parte - há muitos projetos: Pedro Jorge Goulart - depois do premiado "O Dia em que Dorival Enfrentou a Guarda" (co-dirigido com Jorge Furtado) prepara-se para seu primeiro longa, baseado em texto de Luís Fernando Veríssimo ("O Jardim do Diabo"). O português-gaúcho David Quintans diz que vai filmar a saga dos imigrantes portugueses, baseado em romance de Ferreira de Castro e Henrique de Freitas Lima, após um curta ("O Macaco e o Candidato"), produzido pelo exibidor Mário Luiz dos Santos) parte para seu aguardado longa, um épico western chamado "Lua de Sangue". Também numa produção com os gaúchos, o diretor argentino Júlio Goldstein começa a rodar, dentro de algumas semanas, em Florianópolis, "Poeira de Estrelas".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/06/1989

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