Login do usuário

Aramis

Uma reedição de Johnny Alf, talento esquecido

Existem determindados artistas que infelizmente ficam esquecidos do público e marginalizados na indústria cultural. Na música popular, a comercialização que tomou conta das gravadoras, veículos de divulgação - especialmente FMs e redes nacionais de televisão - e atingindo as novas gerações fez com que alguns de nossos maiores talentos, desiludidos com a falta de oportunidades se tornassem exilados artisticamente em seus próprios países. Johnny Alf (Alfredo José da Silva, Rio de Janeiro, 19/5/1929) é um exemplo. Excelente compositor, pianista e cantor, ponto referencial da Bossa Nova, criador de clássicos da MPB, a exemplo de Carlos Lyra, Lucio Alves e Claudete Soares (para só citar três nomes), há mais de 15 anos não grava um disco. Restrito a ambientes noturnos - (até há pouco era contratado do Maksoud Plaza, em São Paulo), Johnny Alf praticamente não é conhecido da geração nascida nos anos 60. Entretanto, quem não se emociona com seu "Céu e Mar", "Ilusão A Toa" ou, especialmente, "Eu e a Brisa" (1967)? Há alguns anos, Armando Afialo, produtor fonográfico e de programas de jazz, manager artístico do "150 Night Club", no Maksoud Plaza Hotel, chegou a planejar um cuidadoso elepê pela Eldorado, para que Johnny Alf voltasse a gravar. Infelizmente, Johnny é uma personalidade tímida, sem maiores ambições e que também se descuidou de sua carreira fonográfica. Assim, o disco acabou não saindo. Entretanto, quando se ouve os velhos discos de Johnny - como "Rapaz de Bem" (RCA, 1961) e "Diagonal" (RCA, 1962), sente-se a grandeza de sua obra, como compositor de harmonias novas - reflexo de sua formação jazzística, ouvindo Gershwin e Cole Porter, assistindo os musicais da Metro de sua fase de ouro. Filho de família humilde, Alfredo José da Silva se transformaria no Johnny Alf quando entrou no Instituto Cultural Brasil - EEUU e se integrou ao Sinatra-Farney Fan Club, que no final dos anos 40, reunia jovens apaixonados pela melhor música americana e que reunia gente como Tom Jobim, Nora Ney e Luis Bonfá, entre outros que seguiram a carreira artística. Na época, Johnny era cabo do Exército (antes trabalhara no escritório de contabilidade da Estrada de Ferro Leopoldina, onde aproveitava os momentos livres para escrever música). Começou, então a tocar como pianista da Cantina do César, de propriedade do radialista César de Alencar. Ali a atriz Mary Gonçalves, que tinha sido Rainha do Rádio em 1952 e ia lançar-se como cantora, escolheu três composições suas - "Estamos Sós", "O que é amar" e "Escuta", para incluir em seu LP "Convite ao romance" (hoje, uma raridade). Em seguida, Johnny foi convidado para integrar como pianista o conjunto que Fafá Lemos formou para tocar na boate Monte Carlo. nessa época, gravou na Sinter seu primeiro disco, um 78 rpm com música instrumental de influência jazzistica ("Falsete", de sua autoria e "De Cigarro em Cigarro"). Mais tarde, Johnny passaria por diversas boates, numa época da maior criatividade da MPB e que desembocaria, naturalmente, na Bossa Nova. E, reconhecidamente, Johnny foi um dos precursores do movimento que João Gilberto institucionalizaria a partir de 1959. Homem da noite, espiritualista, tímido, solteirão, Johnny nunca praticamente fez carreira externa aos ambientes que trabalhou e mesmo quando convidado a participar no célebre concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em novembro de 1962, recusou. Na época, morava em São Paulo e onde trabalhou na Baiuca e no Michel com músicos da dimensão de Paulinho Nogueira, Sabá e Luís Chaves. No Rio de Janeiro, tocou no Bottle's Bar, na mesma época em que Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luis Carlos Vinhas e Sílvia Telles explodiam a BN de criatividade. Chegou a formar um trio com o baixista Tião Neto e o baterista Edison Machado, apresentando-se no Little Clube - um dos templos da Bossa Nova. A partir de 1965 começaria a se voltar a apresentações no interior de São Paulo, chegou a lecionar no Conservatório Meireles e há 20 anos, participando do III Festival da MPB da TV-Record, com a música "Eu e a Brisa", defendida por Márcia, viu ela desclassificada - na mais clamorosa injustiça da história dos festivais. Um mês depois, entretanto, "Eu e a Brisa" começava a ser tocada nas rádios e se tornou um sucesso permanente. Nas últimas duas décadas, Johnny permaneceu na sua. Quando a Rozemblite, de Recife, estava em boa fase (hoje ela não mais existe) e decidiu formar um catálogo de prestígio, ali fez um magnífico elepê, com arranjos de José Briamonte, reunindo 12 composições próprias, como "Eu e a Brisa", "Céu Alegre", "Quase tudo igual", "Gismi", "Se Eu Te Disser", "Bossa Só", "Tudo Que é Preciso", "Eu Quis Fugir de Teus Olhos", algumas em parceria. Agora, este álbum há muito esgotado, vem de ser reeditado pela Imagem, dentro da visão de Jonas Silva em resgatar o melhor do repertório da Rozemblit, que está buscando reaproveitar - e que inclui um elepê instrumental do Trio Dom Salvador ao piano, Edson Lobo (baixo) e o falecido Victor Manga (bateria) já nas lojas e o prometido disco de Claudete Soares. FOTO SEM LEGENDA
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
22/02/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br