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Viaro deixa Teatro Guaíra por excesso de burocracia

Enquanto pessoas incompetentes e despreparadas agarram-se ao poder na área cultural do município, o governo Roberto Requião registra sua primeira perda: sexta-feira, às 16h45, o advogado Constantino Baptista Viaro, 51 anos, entregou nas mãos da secretária Gilda Poli, da Cultura, a sua carta com pedido de demissão, irrevogável, da Superintendência da Fundação Teatro Guaíra. Com a elegância, honradez e dignidade que o faz um dos mais respeitados e admirados executivos da área pública no Paraná, Viaro deixa, voluntariamente, o comando da principal unidade cultural do Estado de forma discreta, sem pretender criar crises e, muito menos, estabelecer polêmicas e confrontos. Concluiu, simplesmente, pela impossibilidade de continuar na direção de um organismo da dimensão do Teatro Guaíra, com características especiais, manietado por uma avalanche de obstáculos burocráticos que, ao menos neste semestre, inviabilizam qualquer projeto de ação cultural. A nivelização burocrática emanada por uma sucessão de decretos das áreas poderem sequer desenvolverem seus trabalhos normais. É o caso do Teatro Guaíra, que com três auditórios funcionando ininterruptamente - especialmente nos fins-de-semana - necessita pessoal técnico, remunerado com horas extras, as quais, de acordo com as novas diretrizes do governo, foram canceladas. Mesmo tendo salários singelos - entre Cr$ 30 a Cr$ 50 mil - maquinistas, iluminadores, bilheteiros, indicadores etc., que trabalham em jornadas de trabalho nos fins-de-semana estão, de agora em diante, impossibilitados de receberem remuneração adicional. Com isto - e caso não haja uma solução a curto prazo - espetáculos que devem acontecer nos auditórios oficiais correm o risco de serem suspensos pela simples razão de que não haverá infra-estrutura para funcionamento destes espaços. xxx Nos últimos 4 anos, Viaro desenvolveu a melhor administração desde a feliz época em que Otávio Ferreira do Amaral Netto, nos governos Ney Braga - e especialmente Paulo Pimentel - consolidou o Teatro Guaíra. Faltaria espaço em nossa coluna para resumir a atuação de Viaro, que chegando ao Guaíra com uma experiência acumulada na Fundação Cultural de Curitiba - da qual foi fundador e diretor por sete anos, afora passagens por outras funções (Secretaria de Pessoal da Prefeitura; presidência do Clube Curitibano; jornalismo em O Estado do Paraná), mais bem sucedidas incursões na iniciativa privada - e somada a um excelente preparo intelectual - praticamente faria com que a administração Rene Dotti, na área cultural, fosse exemplar, ao contrário de antecessores no governo José Richa, não houve uma única crise nos últimos 4 anos, merecendo sempre apoio incondicional da imprensa, respeito e consideração da classe artística, e levando ao bom termo idéias inovadoras - como o Teatro Barracão e produzindo uma dezena de espetáculos - entre peças para adultos e infantis, espetáculos de dança e, especialmente, óperas, elogiadas nacionalmente. xxx Convidado pelo governador Roberto Requião, Viaro aceitou permanecer movido pela disposição de concretizar novos projetos previstos para este ano, inclusive a montagem das óperas "Rigoletto" e "A Flauta Mágica". Infelizmente, o orçamento previsto ao redor de Cr$ 500 milhões ao mês para cobrir despesas de manutenção. Para quem assumiu a FTG com apenas Cr$ 0,50 em caixa, dívidas e um estado caótico que levaria o seu antecessor à cadeia, acusado de apropriação indébita, Viaro deixa agora, voluntariamente - é bom que se frise - a instituição em ótimas condições: Cr$ 50 milhões em caixa, dívidas pagas, compromissos equacionados e quadro de funcionários que enxugou de 400 para 300 - embora, agora, torna-se necessário reforçar vários setores com mais de 104 contratações, de pessoal que prestou concurso nos últimos meses. Viaro, ao deixar a Fundação Teatro Guaíra, sai de cabeça erguida, coberto de elogios, ali tendo feito amigos como sempre aconteceu em todas as funções que exerceu. Um exemplo de profissional digno, competente e que honra qualquer administração da qual participa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
07/05/1991

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