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Aramis

Vinícius & Toquinho, amor & esperança

No palco, em 90 minutos, 10 anos de Brasil. A síntese pode parecer pretensiosa, mas é extremamente emotiva e sincera. "10 anos de Toquinho & Vinícius" (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, hoje e amanhã, 21 horas) é, antes de tudo, um retrato sonoro de uma década de encontro & desencontro, caminhos percorridos e, antes de tudo, sobretudo, amor, esperança e confiança no novo dia que vai nascer. Em 10 anos de parceria, completados a 19 de outubro , carioca da Gávea, e o paulista Toquinho (Antônio Pecci Filho, paulista de São Paulo), 33 anos - serem completados no dia 6 de julho, extravasam, neste show, extremamente emotivo - mas altamente profissional um reflexo de uma convivência humana, afetiva e, sempre consciente. Se há 10 anos estão juntos, fazendo shows dos mais diversos - em clubes, teatros, circuitos universitários - percorrendo milhares de km de estradas, levando suas canções a todo este imenso Pais, quando decidiram comemorar os 10 anos de parceria, que empresário, um produtor e manager como poucos existentes no Pais, decidiram que deveriam apresentar um espetáculo ainda mais bem estruturado. De comum acordo convidaram Fernando Faro a quem a televisão brasileira deve o que de melhor existe em musicais, para coordenar o espetáculo, somaram aos dois companheiros de cinco anos de caminhadas - Azeitona (Arnaldo Alves de Lima), no baixo e Mutinho (Lupicinio M. Rodrigues), na bateria e percussão os talentos de Pestana (José de Medeiros) no sax, flauta e clarinete, Eliane Elias, nos teclados e Papete (José de Ribamar Viana) na percussão - mais as vozes harmoniosas das irmãs Lina, Dina e Adi (Santos), sergipanas, um trio que só não é quarteto porque a quarta irmã, Bia, trocou a carreira artística pelo casamento - e o resultado está no palco, desde o inicio de maio, para ninguém botar defeito. Um espetáculo altamente profissional, com uma estrutura que colocada uma das composições da dupla no momento exato, faz com que um crescendo de emoção tome do público. Da abertura do espetáculo - com a projeção de slides, situando, política e historicamente, o espectador, nos anos 60, entrada dos artistas no palco - existe uma integração ajustada - que, nos shows anteriores de Toquinho & Vinícius poderia faltar, mas era substituída pelo carisma desta dupla. Hoje, Vinícius de Moraes, é sem favor nenhum, um ídolo - um mito, para toda uma geração que o vê, como um dos últimos românticos, numa época de desencontro (mais do que encontros), um homem que ao , longo de sua vida, tem assumido suas posições, seus amores - e recicla-se a cada novo encontro- hoje, mais jovem e feliz, ao lado de Gilda, sua esposa oficial, uma jovem formada em letras que conheceu em Londres, no ano passado, e que é a musa inspiradora de músicas novas, como uma valsa, recém-concluída - e que, numa escolha muito especial, será gravada, pela primeira vez, por Roberto Carlos, em seu próximo elepê, na CBS. De uma imensa produção em 10 anos de trabalho conjunto - quantidade que, alguns críticos vêm como prejudicial - Fernando Faro soube extrair os momentos mais significativos, num roteiro onde, antes de tudo, o próprio Vinícius e Toquinho souberam conduzir o espetáculo de uma forma de envolvimento do público. Afinal, em cada momento de criação, o poeta e o violinista - e os dois, antes de tudo, intérprete de sua obra - transmitem a emoção, o amor, a esperança, em composição que criadas dos momentos de maior concentração, ou nos de maior sarro , brincadeira, resultam, no mínimo, com uma extrema qualidade artística. Assim, com 19 elepês gravados - no Brasil e Itália ( alguns, infelizmente, lá realizados, inéditos em nosso Pais) , apresentações em, praticamente, todos os Estados, Vinícius e Toquinho - juntos com aquilo que, democraticamente classificam de "A Grande Família", na música "Os 4 Mosqueteiros", apresentam um espetáculo que segura o espectador mais sensível pela emoção da palavra, da sinceridade e da honestidade. Poeta com uma obra a espera de que especialistas a discutam, de posição políticas e pessoais sempre assumidas - e repetidas em corajosas e constantes entrevistas - Vinícius de Moraes não tem nada a esconder. Poucas pessoas podem, como ele, olhar-se de frente ao espelho, a cada manhã - ou tarde, não importa a hora em que acorda - e ficar tão tranqüilo frente a sua vida: amou muito, bebeu bastante, mas, sobretudo, sempre esteve consciente e plenamente integrado ao seu tempo. Dentro da história da música brasileira, sua participação já está assegurada e o seu nome é pronunciado com o máximo respeito - e difícil encontrar (") espera de que especialistas discutam, de posições políticas e pessoais sempre assumidas - e repetidas em corajosas e constantes entrevistas - Vinícius de Moraes não tem nada a esconder der. Poucas pessoas podem , como ele, olhar-se de frente ao espelho, a cada manhã - ou tarde, não importa a hora em que acorda - e ficar tão tranqüilo frente a sua vida: amou muito, bebeu bastante, mas sobretudo, sempre esteve consciente e plenamente integrado ao seu tempo. Dentro da história da música brasileira, sua participação já está assegurada e o seu nome é pronunciado com o máximo respeito - e difícil encontrar argumentos contrários a sua personalidade, ao seu trabalho. Ao seu lado. Toquinho, amigo fiel, violinista que busca, a cada instante, aprender mais, é o parceiro que hoje prossegue um trabalho que teve início, há 50 anos passados, com os irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, prosseguiu com Antônio Carlos Jobin, Baden Powell, Carlos Lyra, Pixinguinha, Francis Hime e tantos outros parceiros - cada um marcando uma etapa de sua vida - e da própria evolução da MPB. Assim, o privilégio de assistir um espetáculo que marca 10 anos de parceria e amizade de Vinícius de Moraes e Toquinho, apresentado com extraordinário senso de profissionalismo, dando chance a novos artistas também apareceram - como o trio. As Moedas, os instrumentistas Pestana e Papetes (este com 2 excelentes lps editados por Marcus Pereira/Copacabana), ao lado de dois fieis e veteranos companheiros. Azeitona e Mutinho, nos parece um momento de grande importância histórica. Analise cada momento do espetáculo que neste fim-de-semana está sendo apresentado agora no Guaíra - e que será levado ainda a outras cidades, dentro de um roteiro exaustivo mas que vem sendo cumprido com suíça precisão - nos parece quase supérfluo. A emoção aquela que é, para nós, a obra-prima da parceria ( "O Filho Que Eu Quero Ter", 1975), ou a colocação política, na declamação de "Pátria Minha". Seguida de "Samba de Orly" - enquanto na tela são projetadas slides de Chico Buarque de Holanda, quando de seu exílio involuntário na Itália - justificam a qualquer outro momento mais descontraído quase humoristico, como a apresentação de "Professor de Piano", composição feita na Itália e até hoje inédita, em disco no Brasil - mas que agora, deverá ser registrada. Vinícius de Moraes, poetas do amor, da esperança, da liberdade - e a saudade que faz ao final, ao líder metalúrgico Lula - é a confirmação de uma consciência plena - ao lado de seu amigo e parceiro Toquinho, são símbolos de uma verdade indiscutível: a música não precisa de parafernálias eletrônicas, de sofisticação sonoras e elocubrações para chegar aos corações. O amor, a emoção, os sentimentos contam muito mais. E isto, faz com que, cada vez mais, a emoção se renova - e o entusiasmo cresça. *** Quinta-feira, antes de entrar no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ao sair do Hotel Araucária. Vinícius teve uma grande surpresa: no hall, o aguardava uma prima, em 2. º grau, que ele nunca tinha visto, e que reside em Curitiba: Calypso Azanbuga, filha de uma de suas primas sobres as quais, mais recordaria. Durante jantar no Schwartz Katz, passagens bastante curiosas e enternecedoras. Hoje a noite, a seu convite, está sua prima - e seus familiares, o estarão assistindo no teatro. *** Gilda, a atual musa inspiradora do poeta, fez questão de vir a Curitiba, acompanhando o espetáculo, porque há 8 anos passados, quando ainda estudava letras em São Paulo, em excursão a Foz do Iguaçu, tornou-se amiga de uma família curitibana, que a sensibilizou pela confiança nela depositada. Assim, tão logo chegou a cidade. Gilda telefonou a sua amiga, convidando-a para assistir o espetáculo. *** Toquinho preferiu vir de ônibus, de São Paulo, e ao chegar na madrugada de quinta-feira, na Rodoferroviária, deparando-se com a nevada, quase desmaiou de frio. O pior foi que o motorista de táxi que o atendeu não sabia onde se localizava o Hotel Araucária, e ele teve que permanecer mais de meia hora enregelado, lutando para poder sequer indicar o endereço que o empresário Fred Rossi havia lhe transmitido. Na noite de estréia do show, o frio era tanto que dois números instrumentais, ao violão, foram suprimidos. Simplesmente não havia condições de executá-lo. Ontem à noite. Mônica, a bela e maravilhosamente companheira de Toquinho chegou de São Paulo, para tornar menos frigida esta temporada curitibana. *** Dentro de um mês, Vinícius e Gilda embarcam para novas temporada na Europa, mas antes ele e Toquinho gravarão um novo elepê, este só de música inéditas, produzido com o máximo esmero. O comemorativo aos 10 anos de parceria, que inclusive está sendo vendido no hall do teatro, funciona mais como um documento de uma década de trabalho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
02/06/1979

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