As vozes que a Revivendo traz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de dezembro de 1989
Até março de 1990, o catálogo da Revivendo deverá atingir 60 títulos. Isto porque Leon Barg não se assusta com os tempos bicudos e continua reeditando o que acha de mais importante em sua preciosa coleção - mais de 30 mil 78 rpm, milhares de elepês - dos quais extrai os fonogramas mais significativos. Ayrton Pisco, um ex-oficial da marinha que dispõe da mais avançada tecnologia (e paciência) para tirar os chiados das gravações feitas há 60 ou 40 anos passados, cuida da remixagem e os discos da Revivendo trazem preciosidades para que se conheça o melhor da nossa MPB.
Em seu último pacote de 1989, além do álbum com as cantoras folcloristas Stelinha Egg/Dilu Melo, foram incluídas mais algumas preciosidades.
Em "Dois Destinos" temos Orlando Silva em seis gravações inéditas até hoje em lps ("Exaltação à Cor", "Meu Lampeão", "Tem Dó", "Moreninha", "Escravo do Amor" e "Tenho Ciúme", em registros do período (1951/53) e também seis faixas com Carmen Costa. No registro civil Carmelita Madariaga (Carmen Costa), 70 anos a serem completados no próximo dia 5 de janeiro, em 50 anos de carreira gravou sucessos, viajou por vários países e, nos anos 70, passou uma longa temporada em Curitiba. Aqui, a temos em composições de seu ex-marido Mirabeau ("Drama de Amor", "A Morena Sou Eu", "Amor barato", e "Resposta"), Capiba ("Começo de Vida") e Dirceu Miranda-Cid Ney ("Gente Cega").
Carlos Galhardo (1913-1986), o cantor que dispensa adjetivos - como o chamava o animador Renato Murce, também cognominado de "O Rei da Valsa", primeiro intérprete da clássica marcha natalina "Boas Festas" (Assis Valente) tem uma dupla participação. Dividindo um elepê com outra grande voz dos anos 40, Gilberto Alves (RJ, 15/4/1915) traz um belo samba de Claudionor Cruz, 79 anos, que ainda na semana passada esteve novamente em Curitiba (encerrando o projeto "Almoço à Brasileira" de seu amigo Claudio Ribeiro): "Disse-me-disse", parceria com Pedro Caetano, que dá título ao álbum. Outros sambas-canções dos anos 40 também estão neste disco, como "Você não me beija" (Peterpan/Ary Monteiro), "Não me odeies assim" (Newton Teixeira) e "Castigo de Deus" (Germano Augusto/Kid Pepe/J.Piedade). Já em outro álbum - "Tenho Prazer", Galhardo comparece com três registros feitos no primeiro semestre de 1933: "Tenho Prazer" e "Sonho" (Ataulpho Alves), "Samba Nupcial" (Carlos Rego Barros de Souza, neste acompanhado pelo grupo Os Diabos). Linda Batista (1919-1988) é lembrada com duas gravações lançadas em novembro de 1941 - o samba "Renda Nova" e a marcha conga "Passei na Ponte" (Ary Barroso) e o choro "Comigo, Não!" (Cyro de Souza, novamente nos vocais de acompanhamento o grupo Os Diabos do Céu), que a RCA laçou em julho de 1941.
Sonia Carvalho (Maria de Nazareth Reis, 1914-1988), paulista que em 1936 já era contratada na Rádio Nacional, logo após sua inauguração, deixou poucas gravações, que Leon Barg tem incluído em seus discos. É o que faz agora com os sambas "A Infelicidade me persegue" e "Eu vivia no morro" de Assis Valente (1901-1958) e a marcha "S.O.S." de André Filho (1906-1974).
João Petra de Barros (1914-1947), uma das mais belas vozes de sua época (anos 30/40), pode ser apreciado em três de seus maiores sucessos: "Palacete de Malandro" (Custódio Mesquita), lançado em agosto de 1933; "Olha Ela " (Russo do Pandeiro/Peterpan) e "Em Cima da Hora" (Russo do Pandeiro-Walfrido Silva), que compunham um 78 rpm lançado pela RCA em janeiro de 1940.
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