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Xavier, o caçador de filmes perdidos

Há 16 anos, quando Valêncio Xavier, 58 anos completados dia 21 de março, idealizou a criação de uma Cinemateca em Curitiba, pensou alto. O fato de existirem apenas duas outras Cinematecas em nosso país, e a implantação de uma unidade destinada a basicamente conservar e difundir filmes, exigindo uma infra-estrutura que poucas cidades oferecem, não o assustou. Assim, com a loucura das pessoas que sabem ver o futuro e, especialmente, o entusiasmo e energia criativa que já o faziam um escritor, cineasta, videomaker, artistas plásticos, produtor cultural dos mais conhecidos e respeitados, Valêncio encontrou no início, apenas um apoio para sua idéia: o advogado Constantino Viaro, ex-jornalista de O Estado do Paraná, filho de uma das maiores glórias de nossas artes plásticas, o pintor Guido Viaro (1889-1971), foi sempre um apaixonado pelas artes. Responsável por grandes eventos culturais promovidos em Curitiba, através da Tribuna/Estado do Paraná nos anos 60, tendo sido sócio-diretor da Flag Produções, acompanhando festivais de cinema Viaro teve suficiente sensibilidade de entender a proposta de Valêncio e, em sua condição de diretor administrativo-financeiro da Fundação, da qual havia sido um dos fundadores, cinco anos antes, possibilitaria que a Cinemateca nascesse com bons fluídos. xxx Modestíssima em seu início a Cinemateca veio ocupar um espaço vazio no Museu Guido Viaro, implantado na parte que restou de um edifício pertencente ao Ministério da Aeronáutica, para residência de seus oficiais, que havia sido atingido pela desapropriação na abertura da primeira quadra na Estrutural Sul, margeando o setor Histórico. Ali, em menos de 50 metros quadrados, Valêncio iniciaria um trabalho pela pesquisa, guarda e divulgação de tudo que se relacionasse ao cinema brasileiro, em especial do cinema paranaense. Numa verdadeira missão de arqueólogo das imagens, Valêncio Xavier se pôs a caçar tesouros em celulóide e nitrato que, jogados em velhos depósitos, esquecidos em porões e sótãos, poderiam existir não só no Paraná mas em outros estados do Sul. As pesquisas começaram a mostrar resultados: pessoas que possuíam filmes antigos, material ao qual não sabiam que fim destinar, passaram a colaborar com Valêncio que, pouco a pouco, começou a formar o acervo da instituição. Um trabalho tão difícil como o desenvolvido pelas Cinematecas do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, fundada em 1952, e, especialmente a Cinemateca Brasileira, criada em 1943, entre as mais antigas do mundo. A seriedade do trabalho de Valêncio e seu espírito sempre aberto de colaboração, lhe valeram um trânsito junto a conservadores da dimensão de Cosme Alves, desde 1964 o conservador-chefe da Cinemateca do MAM, e Carlos Augusto Calil, da Cinemateca Brasileira. Aqueles filmes velhos, sujos e que aparentemente não tinham valor, revelaram-se preciosos documentos vivos de um passado esquecido e, conseguindo-se com imensas dificuldades, recursos (sempre escassos) para recuperá-los, fazer as contratipagens de negativos que, originalmente, nem permitiriam projeção, tal o estado em que se encontravam, tornaram possível que se tivesse imagens não só de Curitiba, mas do Paraná do início do século. Trabalhos pioneiros como João Baptista Groff (1897-1990), Anibal Requião (1895-1929), Hermes Gonçalves, Leonel Moro, José Vedovato, Eugenio Felix e tantos outros homens que tentaram fazer cinema, honestamente, sem golpes e autopromoção (como aconteceria posteriormente) no Paraná, tiveram ao menos fragmentos de seus trabalhos, salvos para o futuro. A implantação da Cinemateca do MGV, em seus primeiros anos, é capítulo para um livro que Valêncio ainda deve escrever. LEGENDA FOTO - Valêncio Xavier, idealizador e fundador da Cinemateca do Museu Guido Viaro: a garimpagem para recuperar as imagens perdidas do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/05/1991

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