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No encerramento do festival, expectativas das premiações

Gramado Às vésperas da exibição de "Aampaku - O Olho da Ambição", exibido ontem à noite, encerrando a parte competitiva do Festival, eram grandes as esperanças em torno deste thrilling de José Joffily, 45 anos, que, ironicamente, teve, há 4 anos, o seu primeiro longa ("Urubus e Papagaios", uma comédia picaresca livremente inspirada em romance do escritor gaúcho Josué Guimarães) cortado pela comissão de pré-seleção deste mesmo festival. Agora, seu filme - antes mesmo de ser visto - concentrava esperanças de apresentar um nível capaz de fazê-lo merecer algumas das principais premiações deste ano. Enquanto o júri de curta e médias-metragens reuniu-se diariamente, a partir de terça-feira, tal o número de concorrentes merecedores de demoradas análises - para se chegar aos premiados a serem anunciados hoje à noite, o júri dos longas teve menos reuniões. Afinal, dos oito concorrentes, há alguns filmes que dificilmente conseguirão sair daqui ao menos com um Kikito - a não ser que se decida, a última hora, fazer uma distribuição simpática - capaz de satisfazer a todos os participantes. Na quinta-feira, "Não Quero Falar Sobre Isso Agora" de Mauro Farias, foi recebido com aplausos - ao contrário do chocante "Matou a Família e foi ao Cinema" de Neville de Almeida, que se não repetiu as vaias (merecidas) de Brasília, também ganhou apenas palmas moderadíssimas da educada e soft platéia que todas as noites comparece no cine Embaixador - que só deve superlotar hoje, quando estarão sendo apresentados hors concours "O Corpo" de José Antônio Garcia e "Rota ABC" de Francisco César Filho, vencedores do XXIV Festival de Brasília, seguidos da cerimônia de entrega dos Kikitos. Afora premiações especiais - como a da Kodak a melhor fita de 16mm - serão oferecidos prêmios em dinheiro (no valor de Cr$ 3 milhões) e troféus Kikitos - confeccionados em bronze - em 31 categorias de longa a curta 35mm, curtas e médias metragens em 16mm. Arriscado fazer previsões dos que estarão subindo ao palco - ou seus representantes - pois até a tarde de hoje os júris estarão reunidos, evitando qualquer vazamento dos resultados. Só o prêmio imprensa, coordenado pelo jornalista Nelson Hoinef, da Rede Manchete e "Variety" (correspondente no Brasil) será anunciado às 12h, logo após a reunião dos críticos que nele votarão - entre os quais este repórter, que integra também o júri dos curtas. Concluído há menos de uma semana em suas únicas cópias que foram trazidas a Gramado, "Sampaku" e "Não Quero Falar Sobre Isso Agora" podem surpreender em muitas categorias. No caso deste segundo, uma comédia jovem, mais inteligente do que "Manobra Radical" de Elisa Tolomelli e que é uma espécie de "Vai Trabalhar Vagabundo" dos anos 90 - traz candidatos fortes e premiação de melhores ator e atriz: Evandro Mesquita (ex-Blitz), a gorda e simpática Eliana Fonseca (diretora do curta de animação "Frankenstein Punk"), e, especialmente, Marisa Orth. "Vai Trabalhar Vagabundo II: a volta", que em Brasília valeu os Candangos de melhor ator (Hugo Carvana) e atriz coadjuvante (Andréa Beltrão, aguardada para o encerramento) é fortíssimo candidato ao melhor filme pelo júri popular (e também do oficial, inclusive prêmio de direção), melhor atriz para Marieta Severo, linda, descontraída e excelente (em Brasília, ela foi premiada mas por sua atuação em "O Corpo", dividindo o prêmio com Cláudia Jimenez). Outras atrizes, entretanto, também devem ser consideradas; como a brasiliense Denise Milfont, a "Santa Dica" em "A República dos Anjos", de Carlos Del Pina, que deve ser considerada para levar, Kikitos na área técnica, nos quais bons profissionais, em vários filmes, disputam as premiações - como os fotógrafos Dib Lufiti, Walter Goulart, José Tadeu Ribeiro, Nonato Estrela entre outros. Na área de trilhas sonoras, David Tygel - aqui presente, assim como seu ex-companheiro do Boca Livre, Maurício Maestro, é candidato por "Sampaku", mas há também outros concorrentes como Sérgio Sarraceni ("Vai Trabalhar..."), Jaques Morelenbaun ("A República dos Anjos" e a dupla Armandinho e Zeca Assumpção ("Matou a Família", que tem música-tema de Lobão) e Celso Fonseca ("Não Quero..."). Na categoria de curta-metragem foi restabelecido o prêmio de trilha sonora, o que coloca no páreo, entre outros, o compositor gaúcho Léo Hankin - por "Esta Não é Sua Vida", o aguardadíssimo novo curta de Jorge Furtado, que sofre a síndrome de Orson Welles - após uma obra-prima anterior como foi "Ilha das Flores" (o grande vencedor em 1988), todos queriam um filme ainda mais genial. Assim, este seu quarto curta (anteriormente havia realizado "O dia em que Dorival enfrentou o guarda" e "Barbosa") dividiu um pouco a unanimidade que se esperava - mas dá mais chances aos outros concorrentes na mesma categoria. Entre os curtas, aliás, há vários candidatos a serem considerados; a fotografia de Flávia Ferreira em "Os Desertos Dias", a extrema comunicabilidade dos paulistas "Moleque de Rua", e "Viver a Vida", o bom humor, inteligência e vanguarda de "Wholes" de Cecílio Neto, a síntese inteligente de "Aventura, Amor e Transporte Público" de Bruno de André, entre outros. Enfim, repetindo o que já escrevemos várias vezes, nos curtas (e também médias), sente-se uma força de criatividade e talento que, infelizmente, falta na maioria dos longas - o que dá um clima de pessimismo frente a esta pequena produção extraída a duras penas após a quase total paralisação da produção cinematográfica brasileira. LEGENDA FOTO - Jefferson Gerônimo, 19 anos, ex-office boy, é o principal intérprete de "Viver a Vida" de Tata Amaral (melhor direção em Brasília) que volta a disputar, com muitas chances, o Festival de Gramado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
10/08/1991

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