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Aramis

Caminhos do Rock, segundo Muggiati

Na metade dos anos 50, pouquíssimos curitibanos se ligavam ao jazz, mas já um jovem chamado Roberto Muggiati era um dos mais bem informados do que havia de melhor na música internacional. Jornalista brilhante, foi graças à sua visão musical e informação eclética que muitos colegas da mesma geração – como o também jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, o hoje engenheiro Roberto Grubhoffer e seu falecido irmão, Dietmar, Amaury Lustosa, o hoje embaixador e também jornalista Carbonar formassem aquele que se pode classificar de primeiro núcleo de jazzófilos curitibanos. Não se podendo esquecer, também, a figura admirável de Eduardo Rocha Virmond, então estudante de Direito. Uma bolsa de estudos ganha através da Aliança Francesa levou Muggiati a Paris e, depois, contratado pela BBC, de Londres, estendeu por muitos anos sua permanência na Europa. Foi um dos primeiros jornalistas a visitar a China Continental e o primeiro brasileiro a escrever um livro sobre o país de Mao Tse-Tung. Quando voltou ao Brasil, Muggiati fixou-se no Rio de Janeiro e fez carreira na Editora Bloch. Hoje, é diretor da "Manchete" e escreve sobre música em "Ele & Ela". Sem favor nenhum, Muggiati está entre as pessoas que mais conhecem a música contemporânea, em todo o mundo. Entre os jornalistas, será difícil encontrar alguém que tenha sua dose de informação up to date. Afinal enquanto muitos jazzmaníacos se fecharem em copas para a transformação musical que o rock trouxe a partir da Segunda metade dos anos 50, Muggiati fez o contrário: sem abandonar o jazz tradicional, abriu sua coleção às mais diversas correntes e, como poliglota que é, sua biblioteca abriga uma farta bibliografia das mutações musicais a partir dos anos 50. Com todo esse referencial, Muggiati não poderia ficar apenas nos seus ( brilhantes mas efêmeros) textos jornalísticos. Assim, ao escrever, há alguns anos, o livro "Rock, o Grito e o Mito", ofereceu aos milhares de leitores interessados em música um clássico interpretativo sobre a transformação dos gêneros musicais jovens em três décadas de grandes mudanças sociais. Mais tarde, para a Brasiliense, fez uma básica introdução ao mundo do jazz para uma coleção de volumes-de-bolso da Brasiliense. Agora, Muggiati está lançando um novo e esplêndido livro: "Rock: do Sonho ao Pesadelo" (L&PM Editores, 209 páginas), fundamental para melhor compreensão daqueles compositores, intérpretes e músicos que modificaram os padrões musicais desta nossa segunda metade do século XX. Diz o próprio Roberto, na introdução: "Um caipira do Mississipi, um americano típico de Detroit, um ex-trombadinha de St. Louis, um filho de lavrador do Tennessee, um colegial do Texas, dois irmãos do Kentucky filhos de cantores do rádio, um creole de Nova Orleans filho do violinista, um branco meio pirado também da Luisiana, um mulato da Geórgia gênero bicha-louca. Um time de perdedores, aparentemente. Mas, com suas canções, eles revolucionaram a música e o comportamento da juventude nos anos 50. Elvis Presley, Bill Halley, Chuck Bery, Carl Perkins, Buddy Holly, os Everly Brothers, Fats Domino, Jerry Lee Lewis, Little Richard – os pais do rock'n'roll". O fascinante em Roberto Muggiati é sua forma suave, gostosa de falar sobre os personagens desse fantástico mundo musical. Sua experiência de jornalista, somada a um conhecimento profundo da matéria, faz com que as informações fluam naturalmente, sem o falso intelectualismo e teorizações bestas que tornam verdadeiros sacrifícios a leitura de certos ensaios sobre música. Com Muggiati, acontece o oposto: sem cair no superdetalhamento biográfico, mas oferecendo os dados básicos, ele coloca cada focalizado dentro de sua época e mostra a importância que teve para a evolução da música. São capítulos cursos, que se sucedem como as faixas de um elepê. Mesmo sem incluir uma discografia básica ao final do volume, as citações feitas permitem que se tenha um referencial de quem gravou o que, capaz de possibilitar aos leitores mais jovens – que não acompanharam as carreiras dos artistas estudados – tentar formar a trilha sonora que, naturalmente, complementa a leitura desse livro fascinante e indispensável. xxx Após o capítulo introdutório ("Os pais do "rock-n-roll"), Muggiati dedica estudos específicos a 15 figuras fundamentais: Elvis Presley, John Lennon, Bob Dylan, Mick Jagger, Simon & Garfunkel, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Janis Joplin, Jim Morrison, Paul McCartney, Pete Townshend, Yoko Ono, George Harrison, David Bowie e Ringo Star. xxx Nas bancas de revistas, tem crescido o número de publicações relativas aos novos ídolos do rock. A Editora Três, que já lançou três coleções enciclopédicas sobre o mundo pop, usa e abusa das publicações-posters, com fotos imensas dos ídolos destes anos 80. Há alguns meses, a Rio Gráfica Editora publicou uma série de fascículos sobre o mundo pop, com editoração de uma das maiores especialistas dessa área, a jornalista Ana Maria Bahiana, atual diretora do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (e autora, também, de um livro sobre Jimmi Hendrix, há pouco lançado pela Brasiliense, na coleção "Encanto Radical"). Quem prefere as ( caras) publicações internacionais pode adquirir dezenas de títulos – desde o tablóide "Rolling Stones" até a mais digestivas revistas de gossips sobre o mundo pop. Há, portanto, uma diversificada informação sobre essa área musical. Entretanto, quem seriamente quer informações de profundidade, honestidade e credibilidade, e tudo isso de forma objetiva e jornalística, basta ler "Rock: do Sonho ao Pesadelo", do curitibano Roberto Muggiati. Uma visão sem preconceitos, extremamente lúcida, de algo que não pode ser ignorado ou minimizado: a força da música jovem. Mesmo considerando que aqueles jovens rebeldes, que surgiram lá por 1954 – Bill Halley, Elvis Presley, Chuck Berry e tantos outros – ou já morreram, ou então, carecas, gordos, estão aposentados. É a vida irmão!.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
15/01/1985

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