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Aramis

Eventos de vanguarda na mostra holográfica

Na iniciativa de doar a cidade um holograma reproduzindo uma bela jovem atirando beijos ao público - em forma de um minimonumento permanecerá em plena Boca Maldita, dentro de uma redoma de acrílico: o criador da mostra holográfica em exposição no Parque São Lourenço, Ivan Negro Isola, 33 anos, pretendeu dar uma demonstração viva de como esta nova técnica visual pode se inserir no contexto comunitário. Ontem, com a doação do holograma [à] cidade, entregue ao prefeito Jaime Lerner - e que permanecerá inicialmente numa vitrina da Mesbla, na Avenida Luiz Xavier, Ivan e seu associado, Pedro D'Alessio, responsável por esta originalíssima mostra, deram continuidade a uma série de intervenções destinadas não só a motivar publicitariamente a exposição, mas, principalmente, contribuir para a movimentação cultural da cidade. Inaugurada há 15 dias e já vista por mais de 2 mil pessoas, a mostra de holografia, mostrada num dos pavilhões do Parque São Lourenço, não deixa de surpreender, agradavelmente, a todos que a visitam. Afinal, trata-se de algo totalmente novo para o público. A holografia é uma recente técnica visual que "fotografa" tridimensionalmente qualquer objeto, conservando todas as suas características de profundidade. Iva Negro Isola, um jovem paulista inquieto que durante 10 anos (1969/70) residiu na Itália, trabalhando inclusive como assistente do cineasta Roberto Rosselini (1909-1977), não se cansa de explicar aos visitantes de que passou a se interessar pela holografia quando disse ao diretor de "Roma, Cidade Aberta" que pretendia estudar as técnicas de vídeo, e Roseline, tirando um holograma do bolso, lhe mostrou dizendo: - Mas que vídeo! O futuro é isto: a holografia! xxx Assim, Ivan Negro, embora não tendo formação científica, fica horas expondo as teorias físicas e químicas sobre esta recente descoberta que "abre espaços em todos os setor da ciência e da técnica, prometendo também ser a linguagem visual dos próximos tempos". Com um bem organizado portfólio da exposição - vista até agora apenas em São Paulo (outubro/80) e Brasília (abril/81), garante: "Se desejarmos exprimir com uma analogia o funcionamento da holografia, poderíamos dizer que a pintura está para a fotografia assim como a escultura está para a holografia. O fascínio de um holograma não pode ser descrito. Existem de fato barreiras psicológicas que determinam uma sensação de fantástico, provocada pelo impacto com a novidade tridimensional impressa sobre uma emulsão". xxx Embora só agora comece a se falar em holografia, a data fundamental para a sua história remonta a 1947 e ao nome de Dennis Gabor (1900-1979), prêmio Nobel de Física, - 1971, cientista húngaro e doutorado em 1927 na Alemanha, onde desenvolveu estudos até 1933. Há 34 anos passados, Gabor iniciou os princípios da holografia - que foram desenvolvidas especialmente nos últimos 10 anos. Ivan Negro, em sua permanência na Europa, começou a recolher hologramas, cuja execução obedece a uma técnica cara e difícil. Conta hoje com uma centena de peças, 40 das quais estão em exposição no Centro de Criatividade, há duas semanas. Ali há desde hologramas confeccionados a partir de imagens cinematográficas, permitindo movimento, como a moça que joga o beijo no público, seqüências inspiradas em filmes de Drácula ou King Kong, além de uma atrevida cena de lesbianismo, até os chamados "hologramas puros" - sem movimento, mas que permitem se verificar toda a tridimensionalidade (e volume) desta técnica notável. xxx Negro e D'Alessio não ficam, entretanto, apenas na exposição pura e simples dos hologramas - por si só já uma atração que faz desta mostra o evento mais interessante entre tantos que têm sido realizados em Curitiba. Assim, patrocinaram a vinda a Curitiba no último fim-de-semana do irreverente e criativo compositor Jards Macalé, que nas tardes de sábado e domingo, movimentou divertidos happenings musicais no Parque São Lourenço. Hoje, deverá estar na cidade o ator Otávio Donasci, que traz o chamado "holovídeo-teatro", popularmente [denominado] "A Coisa" - "corpo humano e vídeo-cabeça, circuito desintegrado". A coisa canta, dança, chora, grita, declama, urra maldições e hoje, ao entardecer, estará na Boca Maldita, apresentando a "Ode à Maldição", a noite na mostra de Holografia e amanhã, naturalmente, irá ao Passeio Público, na hora do clássico aperitivo que reúne artistas, jornalistas e políticos no Lá no Pasquale. Na próxima semana, é intenção dos promotores da I Mostra holográfica em patrocinarem uma "parceria que deu certo", entre Leon Hirzmann e Gianfrancesco Guarnieri, realizadores de "Eles Não Usam Black-Tie" e, no encerramento da exposição, um happening musical, com o tecladista Guilherme Vergueiro e, novamente Jards Macalé. Em São Paulo, no ano passado, foi o percussionista Fernando Falcão que ali apresentou seu vanguardista "Concerto das Águas", num trabalho dos mais impressionantes, registrado num elepê independente, produzido por D'Alessio. Radicado em Paris, Falcão - paraibano de João Pessoa e requisitado músico (participou das gravações de "Traduzir-se", o novo lp de Fagner, gravado na Espanha), é, a exemplo de Smetak, um inventor de instrumentos de grande sonoridade. xxx A preocupação da Isola e D'Alessio é fazer com que a holografia não se esgote apenas na contemplação das peças tridimensionais no Parque São Lourenço. E o entusiasmo da dupla é tamanha, que o prefeito Jaime Lerner já pensa em dar a Curitiba a primeira "praça holográfica" do Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
16/10/1981

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