Login do usuário

Aramis

Basso diz porque quer ficar no Teatro Guaíra

- Não nego. Acho legítima a minha presença na lista tríplice para a superintendência do Guaíra. Educadamente, ao telefone, José Basso, ocupando a superintendência da FTG desde outubro de 1985, confirma sua disposição e desejo de integrar a lista de candidatos ao cargo. Em voz pausada, procurando justificar seu posicionamento, acrescenta: - Estou no cargo há 16 meses e tenho procurado fazer um bom trabalho. Considero-me competente. Portanto, acho que é justo que eu faça parte da lista que venha a ser elaborada pelas entidades da classe. A sinceridade de Basso em admitir sua postulação na função vem acompanhada de um rosário de lamentações. De princípio queixa-se que dos 16 meses em que ocupa o cargo, só considera como válidos os últimos nove - período em que pôde gestar algumas realizações. "Os sete primeiros meses foram terríveis, pois a convivência com a diretora de arte e programação, Dudu Barreto Leite, tornava impossível a realização de qualquer trabalho". Basso admite, então, que a substituta de Iara Sarmento, quando da crise explodida no Guaíra em maio de 1985, foi prejudicial à Fundação Teatro Guaíra. Uma convivência tão difícil e tumultuada que o ex-secretário da Cultura e Esportes, que para ali havia designado Dudu Barreto Leite, foi obrigado a chamá-la de volta ao seu gabinete, criando inclusive uma coordenadoria especial para que ela ocupasse. E para a função de Arte e Progamação foi designada a funcionária Marlene Montenegro Tirka, mulher educada e habilidosa que, sem criar atritos e esforçando-se ao máximo, vem procurando cumprir as funções. Aliás, nos últimos quatro anos, passaram pela direção de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra nada menos que quatro mulheres. Na administração de Luís Roberto Soares, o cargo foi ocupado apenas por dois homens: engenheiros Luís Esmanhotto e Marcelo Marchioro. xxx Um relatório de 123 páginas, recém-concluído e só agora sendo encaminhado à secretária Suzana Maria Munhoz da Rocha Guimarães, da Cultura e Esportes, detalha as atividades da Fundação Teatro Guaíra no ano de 1986. Inúmeros quadros, informando o que fez cada divisão, procurando justificar a tão falada "democratização" das atividades dos corpos estáveis, especialmente a Orquestra Sinfônica do Paraná e o Ballet Guaíra. A primeira vista, não encontramos nenhum quadro que sintetize em números finais, o movimento total das diferentes unidades e que, para ter mais substância, poderia ser cotejado com gráficos dos anos anteriores, especialmente da freqüência nos auditórios, o que seria significativo. Afinal, quando superintendente da FTG, Oracy Gemba - demitido pelo ex-secretário da Cultura, no clímax da crise de maio de 1985 - orgulhava-se de que, em seu primeiro ano de administração havia aumentado em mais de 200% a freqüência dos auditórios. Agora, como o relatório da atual diretoria da FTG não se preocupou em fazer tabelas comparativas é difícil saber se a curva de frequência ascendeu ou decresceu. xxx Na introdução do relatório, Basso fala como "ações mais significativas durante o ano de 1986", a participação do Ballet Guaíra no II Festival Internacional de Dança do Rio de Janeiro ("foi a única companhia a nível estadual a se apresentar durante o evento, além da Companhia de Dança do Teatro Municipal do Rio de janeiro"). No campo da música erudita, destaca o concerto comemorativo ao primeiro aniversário da Osimpa (28 de maio), e, no lírico, a montagem da ópera "Joana D'Arc", de Verdi, que foi também apresentada em Porto Alegre. Basso fala também da aquisição de mais duas carretas (palco-móvel), equipadas, para atender a diversas comunidades, do apoio ao teatro amador e a estréia do Coral Experimental, com o oratório "Stabat Mater". Refere-se também a duas co-produções com grupos independentes - "A História de Muitos Amores" e "Sedução", além do espetáculo "Os Tracetês do C.P.T.", feita com alunos do quarto ano do Curso Permanente de Teatro, transformado em curso superior de artes cênicas em convênio com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná. xxx Fora da linguagem oficial e maçante do relatório, José Basso argumenta do trabalho de bastidores, "na área física do teatro". Assim lembra que em pleno ano do centenário do Guaíra (isto é, considerando-se historicamente, já que o atual teatro tem apenas 33 anos), o piso do auditório Salvador de Ferrante estava podre e foi graças ao empenho dele, Basso, que o mesmo foi restaurado. "Obras pequenas, mas necessárias, e que podem até parecer curiosas, também foram executadas graças ao meu empenho" acrescenta, dando um exemplo: inexistia um WC ao lado do atelier de costura do Teatro "e com isto as funcionárias eram obrigadas a percorrer mais de 300 metros para suas necessidades fisiológicas. A inauguração desse banheiro, há tanto tempo solicitado, foi até motivo de comemorações com champanha", acrescenta, com bom humor. Entretanto, os problemas maiores da Fundação Teatro Guaíra continuam. Dos quatro elevadores que o arquiteto Rubens Meister projetou há 38 anos, nenhum foi instalado. Assim o acesso ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto é praticamente impossível a deficientes físicos e um alto risco a cardíacos. Existe um acesso lateral, em forma de rampa, mas apenas a platéia central. E para abrir a porta lateral antes de um espetáculo é preciso quase formalizar um processo burocrático. Resultado: pessoas de idade, deficientes físicos e cardíacos deixam de freqüentar o teatro. Existem problemas ainda maiores, inclusive no próprio sistema elétrico do teatro - colocando em risco a sua segurança. Será que só a ameaça de uma nova tragédia, como a que destruiu o teatro (então em obras) em 1968, tem que se repetir para que uma providência de fato seja tomada? Basso admite e existência destes graves problemas. Mas alega que a verba orçamentária do Teatro não permite investimentos estruturais. - A questão da falta de elevadores foi discutida em várias reuniões. Mas o seu custo é tão elevado que se decidiu em adiar a questão. Também o sistema de ar condicionado do Teatro é uma questão adiada. Problemas que, no entender do autal superintendente, "só seriam resolvidos se houvesse dotações de verbas especiais". xxx Do orçamento da Fundação Teatro Guaíra - Cz$ 30 milhões ("o mesmo de 1986"), mais de 80% será comprometido com o pessoal, entre salários e encargos sociais para aproximadamente 400 funcionários, incluindo-se os corpos estáveis. E os salários do pessoal do Guaíra são baixos, quase humilhantes, tratando-se de uma area artística. Há servidores ganhando Cz$ 1.200,00. Um bailarino recebe ao redor de Cz$ 8 mil e o próprio maitrê, Carlos Trincheiras, curriculum internacional, profissional dos mais competentes, tem um vencimento ao redor de Cz$ 13 mil. Insignificante para um coreógrafo e diretor do ballet que veio para Curitiba deixando uma alta função na Fundação Gulbekian, em Lisboa. As rendas extras do Guaíra também pouco significam no orçamento. Mesmo alugando o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto para eventos estranhos à agenda artística (uma média de Cz$ 30 mil por noite), a receita não passou de Cz$ 800 mil em 1986, "embora com este dinheiro pudéssemos ter desenvolvido alguns projetos na área artística" argumenta Basso. Admite, entretanto, que é errônea a política de ceder o teatro para congressos, formaturas e outros eventos que não artísticos, "mas nada se pode fazer, pois a decisão foge, muitas vezes, da alçada da diretoria". xxx Aos 45 anos - comemorando festivamente na sexta-feira, 14, quando os funcionários e assessores cantaram o "Parabéns a você" e apagou as velas espalhadas num bolo enorme - José Basso diz que "sou antes de tudo um homem de teatro". Lembra que há mais de 15 anos, com sua companhia, ao lado de sua esposa, a atriz Gilda Elisa, e com mais alguns colegas, tem mambembeado interior afora, não só pelo Paraná, mas também Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "Portanto, faço teatro como meio de vida e me orgulho disto", acrescenta. Defende-se de que seja o estimulador do movimento para pressionar o futuro secretário René Dotti a mantê-lo no cargo. Entretanto, não deixa de, mais uma vez, admitir: - Sou, isto sim, o canditato natural para figurar na lista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
13
18/02/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br