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Aramis

Em Curitiba, as imagens chegaram dez anos depois

A televisão chegou em Curitiba com um atraso de dez anos, e 42 dias. Se as primeiras imagens da televisão brasileira foram ao ar, da TV-Tupi em São Paulo, exatamente no dia 18 de setembro de 1950, em Curitiba a primeira estação de televisão - a Emissora Paranaense foi inaugurada em 30 de outubro de 1960 - numa operação corre-corre determinada pelo advogado e empresário Nagib Chede, que não desejava perder para a então toda-poderosa Rede Associada, a condição de pioneiro. Quando ficou confirmado que a TV-Paraná, instalada pela Rede Associada, entraria no ar em 19 de dezembro daquele ano, Nagib Chede decidiu antecipar a inauguração do Canal 12 e, para tanto, a improvisação que já era grande ficaria ainda maior - inclusive nas instalações dos estúdios no edifício Tijucas, ocupando uma quitinete no qual dezenas de pessoas com tanto entusiasmo quanto inexperiência, se acotovelavam para que o evento acontecesse. Mas mesmo que a TV-Paranaense não tivesse conseguido se antecipar em 19 dias a inauguração da TV Paraná, Nagib Chede não perderia a condição de pioneiro: afinal, desde os anos 50, entusiasmado com a televisão que havia visto numa viagem aos Estados Unidos, já vinha fazendo algumas experiências, com transmissão em uma única câmera e recepção num primitivo aparelho de televisão instalado na vitrine das Lojas Tarobá, térreo do edifício Moreira Garcez, na Avenida Luiz Xavier esquina com a Rua Voluntários da Pátria. Ali, os curitibanos deslumbrados viam algumas emissões de televisão, novidade que teve, historicamente, sua primeira emissão exatamente em 17 de julho de 1959, conforme relatamos recentemente (O Estado do Paraná, 15/7/90), coube a João Lydio Seiller Bettega, 57 anos, 43 de rádio - hoje diretor-proprietário de três dos prefixos de melhor audiência da cidade (Ouro Verde FM/AM Caiobá FM), a glória de ter sido o primeiro rosto a aparecer num vídeo no Paraná. Quatro anos depois de Assis Chateaubriand (1898-1968) ter inaugurado a TV Tupi de São Paulo, e enquanto a Rede Associada após inaugurar a Tupi do Rio de Janeiro (20/1/1951) concentrava esforços na instalação da TV Itacolomi, em Belo Horizonte (que só seria inaugurada em 11 de novembro de 1955), outros grupos sentiam a força do novo veículo. Um destes grupos tinha como executivos os paulistas Mário Alderighi e Jorge Edo, que e, 1954 vieram a Curitiba para aqui lançar a Rádio TV Paraná. Nomes conhecidos como Raul Vaz, Gastão Chaves e Alexandre Gutierrez se entusiasmaram com o projeto, que previa a constituição de uma sociedade anônima - e da qual inclusive Nagib Chede chegou a fazer parte. Em torno deste projeto há ainda fatos a serem esclarecidos, inclusive para explicar o fracasso da empresa - para muitos atribuído a descrença dos curitibanos no novo veículo, inclusive pela ausência de aparelho de televisão na época. Entretanto, para ser mostrada a novidade chegou a ser improvisado um estúdio no auditório do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, no 7º andar do edifício Moreira Garcez e, na loja Tarobá, em sua vitrine, um aparelho de TV trazido dos Estados Unidos captava as precárias imagens em preto e branco. Ali, perante uma multidão atraída pela novidade, na noite de 17 de julho de 1954, apareceram as primeiras imagens. Didier Bettega, elegantíssimo, com sua dicção perfeita, era o mestre-de-cerimônias, apresentando os empresários Renato Valente e Alexandre Gutierrez que saudaram "os caros telespectadores". O jornalista P. A. do Nascimento, pioneiro na crônica de televisão no Paraná, em reportagem que ocuparia duas páginas da edição de outubro de 1950 da "Revista da Guaíra", ilustrado com fotos de João Graf Schreiber, relataria, embora de forma superficial, o histórico evento. Alguns artistas paranaenses - cujos nomes estão a espera de identificação, já que o próprio Bettega não tem certeza de quem ali esteve - participaram da primeira parte. Mas as atrações vieram de São Paulo, trazidos por Raul Roulim, ex-ator em Hollywood: Vilma Bentivegna, então com 14 anos; a cantora portuguesa Heloísa Gonçalves, Romeu Ferez, Norma do Carmo e Alma Marino - hoje todos esquecidos. Instrumentalmente, o violinista Tobias Troisi apresentou tangos. As apresentações do que era a televisão seriam repetidas, em semanas posteriores, em Ponta Grossa e Palmas, na caça - infrutífera - de empresários dispostos a subscreverem ações. LEGENDA FOTO - Nagib Chede: o grande pioneiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
4
16/09/1990

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