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Aramis

Gudim, como compositor e arranjador, é excelente

Mais um disco que se tivesse sido ouvido no ano passado estaria entre os melhores de 1986: "Balãozinho"(Continental, dezembro/86). Com este álbum, Eduardo (dos Santos) Gudin (São Paulo, 14/10/1950) mostra sua maioridade como compositor. Na verdade, há 17 anos, com "E lá se vão meus anéis" (parceria com Paulo César Pinheiro, com quem trabalha até hoje), Eduardo Gudim já se mostrava como um bom compositor, dentro de uma linha em que sem abandonar a música tradicional buscava também a modernidade. Uma longa vivência com Baden Powell - com quem trabalhou por cinco anos, inclusive acompanhando-o a Portugal e França - o fez evoluir como violonista e compositor de belas harmonias. Com o poeta Paulinho César Pinheiro e a cantora Márcia participou de um show histórico, marco da resistência nos anos 70, "O Importante é que a nossa emoção sobreviva", que teve duas edições a partir de 1974, ambas registradas em lps pela Odeon. A partir de seu primeiro LP na Odeon, há 14 anos, Eduardo Gudin tem comparecido com alguma constância em gravações - a partir de 1978 ("Coração Marginal") contratado da Odeon. Embora bom compositor e seguro violonista, ele nunca foi bom cantor e a insistência de ser intérprete de suas músicas o prejudicou bastante. Mesmo com a presença de convidados especiais - como sua amiga Márcia - a parte vocal de muitos discos que fez o prejudicou bastante. Agora, finalmente, Eduardo assumiu a posição de apenas compositor, violonista e arranjador. Resultado: "Balãozinho" é um disco de belíssimas armonias, com a utilização inteligente de uma secção de cordas com nove violinos, uma viola e dois celos. Só em três faixas, há vocalizações: "Balãozinho", uma canção emotiva, simples e claramente calcada na homenagem a momentos maiores da Bossa Nova (de Tom a Pigarrilo, autor do "Samba da Pergunta"), com a vocalização de Eliete Negreiros (ótima cantora, que no ano passado fez seu segundo elepe); Vânia Bastos, outra cantora da maior importância da nova geração de intérpretes paulistas, enriquece o delicioso "Férias" (parceria com Aloísio Falcão, que usa o pseudônimo de J. Petrolino) e, por último, o grupo Canto a Canto em "Verde" (parceria com Costa Neto), que defendida por Leila Pinheiro, foi uma das premiadas no Festival dos Festivais. As demais faixas são exclusivamente instrumentais. E nestas está uma prova de quanto Gudin evoluiu como compositor e, sobretudo, arranjador. Há uma textura harmônica da maior beleza, belíssimas imagens sonoras, enriquecidas por instrumentistas extraordinários, como o baixista Arimar do Espírito Santo, presente em sete das oito faixas. Uma longa faixa, "Choros", ganhou arranjos e a participação de Hermeto Paschoal e seu grupo - o baixista Itiberzwart, o baterista Márcio Bahia, o flautista Carlos Malta e o pianista Jovino Santos. São três choros ("Te Rever", "Proezas do Coração" e "Águas Passadas"), que em linguagem moderna encantam o ouvinte. Mas todos os momentos são ótimos: "Arrebentação" (parceria com Paulo Cesar Pinheiro), tem uma ótima utilização da secção de cordas, o que se repete também no tema do filme "Cidade Oculta", parceria com Roberto Riberti e Arrigo Barnabé, co-arranjador. Outro belíssimo momento é "Pouso" (parceria com Petrolino), neste numa econômica interpretação do violão (Gudin), teclados (Michel Friendeson) e clarineta (Proveta). Claro que "Verde", não poderia faltar completando este disco belíssimo, seguramente um trabalho da maior seriedade musical e que, definitivamente, mostra o caminho que Gudin deve seguir: a de compositor, violonista e arranjador. Como cantor, ele consegue arregimentar vozes especiais. Compositor, como ele mostra neste álbum, são poucos os que existem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
08/02/1987

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