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Aramis

Nara, musa também no Japão, em som digital

Esses japoneses são incríveis. Com seus aparelhos maravilhosos invadiram o mundo dos sons & das imagens e com sua língua complicadíssima dão uma lição de absorção musical: tudo que existe de som com qualidade faz sucesso naquele País. Egberto Gismonti, que anualmente vai ao Japão, nos contava há alguns anos, que o mesmo público que lota um show de heavy metal é capaz de, duas horas depois, comparecer circunspecto num concerto sinfônico e, na madrugada, aplaudir uma banda de jazz numa boate. Tudo com o mesmo entusiasmo. Existe uma revista - "Latina" - dedicada exclusivamente à música latino-americana, com 80% de seu espaço quase que privativo da música brasileira, pela qual os nipônicos têm cada vez maior interesse. Dos nomes mais respeitados até a anônimos (entre nós) percussionistas e violonistas percorrem as cidades japonesas e agradam. Assim, nada mais justo do que o que temos de melhor vá ocupar o seu espaço oriental. No ano passado, os japoneses aplaudiram a excelente Camerata Carioca - hoje, infelizmente, desfeita - acompanhando aquela que foi a grande musa da Bossa Nova: Nara Leão. Junto também foi Roberto Menescal, violonista, compositor, diretor artístico da Polygram - e o maior amigo de Nara, com quem poucos meses antes havia dividido o enternecedor e nostálgico "Um Cantinho... Um Violão", uma revisitação ao melhor período da Bossa Nova - com a mesma sensibilidade com que Nara havia feito há 15 anos passados, durante sua permanência em Paris, "Dez Anos Depois", álbum duplo no qual a grande participação ao violão foi da inesquecível Tuca (Valeniza Zagni da Silva, 1944-1978). Durante a temporada em Tóquio, Nara e Roberto Menescal gravaram um disco especialmente para o mercado japonês. Com toda a tecnologia do Aoyama Studio, Onyko House, com direção técnica de Kiyoshi Tokiwa, as sessões foram feitas diretamente para a produção em disco-laser, o que no Japão é comum. As sessões estenderam-se dos dias 20 a 26 de junho e apenas um dos garotos da Camerata Carioca, o percussionista Beto, participou das gravações. Nara tocou violão em "Berimbau" e "Wave" e, mostrando uma impressionante identificação aos nossos ritmos, Kazuo Yoshida na percussão, Tomohiro Yahiro na bateria e Beniske Sakai no baixo, garantiram a cozinha para a miniantologia do que melhor foi produzido na Bossa Nova. Afinal, trata-se de um disco produzido especialmente para o mercado internacional e a própria arte da capa (Sinzo Hoshino) busca esta imagem de marketing: na capa, a foto de Koh Hasebe mostra Nara de terninho, summer branco, violão nas mãos, ao lado do título "Garota de Ipanema" - entre quadros coloridos: um visual que nos remete à memória daqueles discos de 20 anos passados, quando era Astrud Gilberto que tinha esta visão de consumo. Na contracapa do disco em versão digital - e a que está sendo agora lançada comercialmente no Brasil - Nara, de calça xadrez, blusa vermelha e suéter pendurado nas costas, sentada num banquinho, olhando para Menescal, jeans, tênis - tal como a imagem da música que fazem: intimista, simples, acolhedora. Em laser, na gravação importada, "Garota de Ipanema" deve chegar na Sartori e Livraria Curitiba já nos próximos dias, pois agora o eficiente Roberto Berro assumiu a coordenação de vendas também dos discos importados em laser. Quem não dispõe desta aparelhagem, poderá curtir Nara e Menescal na gravação normal, em digital - com excelente qualidade técnica, naturalmente. Musicalmente, os comentários são dispensáveis: há 22 anos elegemos Nara Leão como a madrinha morena de nossos espaços musicais e pela coerência artístico-profissional, bom gosto musical, indiscutível talento e sensibilidade, Nara só tem merecido de nossa parte, uma admiração cada vez maior. Aqui, em 16 momentos fulgurantes da Bossa Nova - "O Barquinho", "Garota de Ipanema", "Berimbau", "Desafinado", "Wave", "Corcovado", "A Felicidade", "Manhã de Carnaval", "Chega de Saudade", "Meditação", "Samba de Uma Nota Só", "Água de Beber", "Você e Eu", "Samba do Avião" - e dois temas mais recentes, "Águas de Março" e "O Que Será" - Nara e Menescal oferecem o melhor da sensibilidade e da emoção brasileira. Dizendo em português as letras de Vinícius, Bôscoli, Antônio Maria, Chico Buarque, Newton Mendonça (em "Desafinado", acrescenta uma nova introdução), Nara emociona em qualquer latitude. Os japoneses não precisam entender português para sentirem o mesmo que nós sempre sentimos: o maior amor por Narinha, sempre primeira e única.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
3
13/04/1986

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