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Aramis

Nas boas trilhas que o cinema traz

O clube amplia-se. Cada vez maior número de aficionados de trilhas sonoras aparece na disputa de sound tracks nacionais e estrangeiras - (cada vez mais caras e distantes do consumidor brasileiro). Clecius D'Aquino, o simpático proprietário da Raridade (rua Visconde do Rio Branco, 1.500) se transformou numa espécie de aglutinador dos que curtem a música do cinema, pois além de dono da maior coleção de trilhas de Henry Mancini - e possuir também um acervo de mais de 4 sonoras, o simpático Clecius tem a resposta na ponta da língua, inclusive coleções de duas revistas especializadas no setor, uma editada na Holanda, outra nos Estados Unidos. Consciente desse mercado, as gravadoras vem colocando bons títulos de sound tracks a disposição dos colecionadores - tanto de filmes inéditos, muitos que ainda nem chegaram a nossas telas, como de outros, já exibidos afora reedições de clássicos, como faz a CBS associada a Breno Rossi - estes vendidos exclusivamente nas cadeias da empresa de Henrique Sverner. Eis aqui, apenas para orientação, alguns dos lançamentos em trilhas sonoras que saíram nos últimos meses. Batman - O maior sucesso de bilheteria da história do cinema contemporâneo - já faturou US$ 400 milhões, além de todo merchandising que antecipa sua chegada ao Brasil (a ocorrer na próxima quinta-feira, em lançamento nacional) trouxe nada menos que duas trilhas. Uma com música incidental, criada por Danny Elfman (que ainda não saiu no Brasil) e a outra, com oito temas criados por Prince, naturalmente hits que extrapolam para a batdança e fazem o álbum (WEA, setembro/89) figurar entre os mais vendidos. No decorrer dos próximos dias, falaremos com mais vagar desta trilha. Great Balls of Fire! é o título original da cinebiografia de Jerry Lee Lewis, The Killer, um dos grandes ídolos do rock nos anos 50. Dirigido por Jim McBride, com fotografia do brasileiro Afonso Beato, o filme deve pintar logo nas telas. Antecipando sua estréia, a Polygram/Polydor lança na série "O Melhor do Cinema", a trilha com as músicas que reconstituem a carreira de Lewis, incluindo não apenas suas próprias composições ("High School Confidential"), mas músicas que imortalizou como "Wild One" (O'Keef/Grenham/Owens), "Old Sun" (Haven Gillespie/Beasley Smith). O próprio Jerry Lee Lewis, 54 anos, é o intérprete de várias faixas, inclusive a canção que dá título original ao filme - estrelado por Dennis Quaid, Winona Ryder, Alec Baldwin e Trey Wilson. Homeboy (ainda sem título em português) é um dos mais recentes filmes estrelados por Mickey Rourke, que desde "9 ½ Semanas de Amor" (em reprise, pela enésima vez, no Cinema I) se tornou um sex symbol adorado pelas garotas. Ao lado de Christopher Walken e a bela Deborah Feijer, Rourke é o nome central deste filme dirigido por um novo cineasta, Michael Seresin. A trilha sonora - antecipada pela EMI/Odeon - tem uma especial atração aos fãs de blue e de Eric Clapton: oito dos principais temas são de sua autoria e interpretação, o que por si garante uma dupla aceitação do álbum: aos que curtem a música do cinema e aos fãs do blues que Clapton faz na melhor tradição do old south. As demais faixas trazem Magic Sam ("Call Me You Need Me"), a dupla Peggy Scott/Jo Jo Benson (I Want To Love You Barby") e J. B. Hutto & The New Hawks ("Pretty Baby"). Conspiração Tequila (Tequila Sunrise), escrita e dirigida por Rovert Towne, com quatro nomes fortes no elenco - Mel Gibson, Michelle Pfeiffer, Kurt Russel e Raul Julia - trouxe também uma belíssima trilha de Dave Grusin (Warner/Edição no Brasil da EMI/Capitol/Odeon). Apesar do veterano Grasin ser o responsável pela trilha, as interpretações dos 10 diferentes temas foram distribuídos por diferentes grupos como Duran Duran ("Do You Believe In Shame?"), Crowdel House ("Recuring Dream"), Ziggy Marley and The Melody Makers ("Give A Little Love"), The Everly Brothers and the Beah Boys ("Don't Worry Baby"). Até uma homenagem ao esquecido Bobby Darin (1936-1981) é feita com a inclusão de "Beyond The Sea". Duas faixas especiais trazem o próprio Crusin: "Tequila Dreams", com o guitarrista Lee Ritenoure e "Jo Ann's Song", com o saxofonista David Sanborn. São temas diferentes, mas a ação dramática de "Tequila Sunrise" exige. Betty Blue (37º 2 Le Matin), 1986, transformado em cult-movie antes mesmo de chegar ao circuito comercial trouxe, uma trilha magnífica, criada por Gabriel Yared. Anteriormente, em seus dois primeiros longa-metragens - "Diva" (82) e "La Lune Dans Le Caveau"(83) - ambos disponíveis apenas em vídeo - as trilhas sonoras já eram marcantes. Agora, 13ª Mostra Internacional do Cinema de São Paulo, no dia 12 de outubro, a abertura foi como o último filme do mesmo Beinex, "Roselvne e os Leões" (ainda sem previsão de lançamento comercial no Brasil). "Betty Blue" não só revelou uma belíssima atriz - Beatrice Dalle - mas trouxe a criativa trilha sonora de Gabriel Yared, utilizando cítaras, percussão, acordeon, dois saxofones e duas guitarras, além de harmônica para desenvolver 17 temas curtos que envolvem a sua história. Só agora, quase dois anos após o lançamento de "Betty Blue", este belíssimo álbum chega às lojas. Mas vale a pena adquiri-lo: estará, com certeza, entre os melhores lançamentos do ano! Mississipi em Chamas, de Alan Parker, que obteve várias indicações ao Oscar-89 - e ficou com o de melhor fotografia (Perter Biziou), mostrou mais uma vez que Alan Parker ( "O Expresso da Meia Noite", "Fama", "Asas da Liberdade", "Coração Satânico") sabe escolher os compromissos e intérpretes que melhor se identifiquem com o clima dramático de seus filmes. Afinal, Parker foi quem realizou o clássico "The Wall", com o Pink Floyd, e Giorgio Moroder pela trilha de "Expresso da Meia Noite" obteve um Oscar. Para a ilustração sonora de "Mississipi Burning" - baseado em fatos reais (em 21/6/64, três jovens militantes pelos direitos civis foram assassinados por racistas), Parker buscou Trevor Junior, que em "Coração Satânico" já havia criado uma excelente trilha sonora - então WEA após o filme ter chegado ao Brasil - Jones incluiu ao lado de suas próprias composições, também a presença emotiva do vocal de Mahalia Jackson (1911-1972) com "Take My Hand Precious Lord"; seguida de Vesta Williams na emocionante "Try Jesus" e Lennie McBride nas duas versões para "Walk On By Faith", de James Cleveland. Pela densidade dramática da história real, da denúncia que Parker faz a do próprio clima deep south de toda a ação, "Mississipi em Chamas" exigia um trabalho musical profundamente identificado. Trevor Jones, que passou sua infância em Cape Town, na racista África do Sul, é um compositor identificado a cultura musical negra e profundamente apaixonado pela importância de criar trilhas sonoras. Assim é que após fazer cursos na Royal Academy of Music, de Londres e ter exercido a crítica de música clássica na BBC, entrou para a Universidade de York, onde, durante quatro anos, recebeu as melhores notas na criação de músicas para cinema - e como pós graduação fez 22 scores para filmes ali produzidos. Um deles, "Dollar Boton", ganhou o Oscar como Melhor curta-metragem em 1981. John Boorman, no mesmo ano, o convidaria para fazer a música de "Excalibur". A partir de então, Trevor criou trilhas para filmes como "O Cristal Encantado", "Labirinto", "Expresso Para o Inferno" e "Coração Satânico". Indiana Jones e a última cruzada a exemplo dos outros êxitos de Steven Spielberg, traz, novamente, uma trilha de John Williams, compositor dos mais bem sucedidos nos anos 80, várias indicações (e premiações) ao Oscar e que tem formado o parceiro sonoro ideal para as criações de Spielberg. Williams já se ajustou ao estilo spielbergueano de construir suas belíssimas produções, fornecendo trilhas magníficas - na linha do que Miklos Rosza ou Victor Young faziam no passado, mas com toques modernos. Afinal, Williams não se limita ao trabalho para o cinema, tendo substituído há seis anos Arthur Fieldler (1894-1981), na regência da Boston Pops. Já para uma outra produção de Spielberg, o desenho animado de longa-metragem "Em Busca do Vale Encantado" (The Land Before Time), de Don Bluth, a trilha sonora foi entregue a James Horner, que utilizando a Sinfônica de Londres e o King's College Choir, de Wimbledon, desenvolveu os belíssimos temas deste filme destinados ao público infantil. Há apenas uma faixa vocalizada, "If We Hold On Together" (com letra de Will Jenings), na voz redonda e emotiva de Diana Ross.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
22/10/1989
Olá, gostei do vosso texto. Por favor, pode me indicar as faculdades que têm pós graduação em trilha sonora (são paulo)? E qual o nome da pós graduação (lato sensu ou strictu sensu) ? Digo isso porque uns chamam soundtrack e outros trilha sonora... Obrigada, sandra

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