DUAS das maiores transações imobiliárias ocorridas há poucos dias traduzem um especial significado para o comércio de Curitiba: a decisão das poderosas C&A e Casas Pernambucanas S?A em investirem algumas centenas de milhões de cruzeiros na aquisição de velhos sobrados para ampliar suas lojas de departamentos, nas ruas 15 de Novembro e José Loureiro, respectivamente, significa que a revitalização e crise e aqui façam investimentos imensos. Some-se a isto os quase Cr$ 300 milhões que o grupo Mesbla S/A está gastando para reformar o ex-edificio Heloisa (agora edifício Hamdar) na Avenida Luiz Xavier e a recente ampliação das Lojas Americanas para o largo Frederico Faria de Oliveira, e se completa um quadro da presença de significativas lojas-de-departamentos para concorrer com Hermes Macedo S/A e Prosdocimo S/A, que durante anos dominaram o setor pela sua origem paranaense e permanecia há quase meio século na cidade. Este boom comercial no centro da cidade de certa forma é uma conformação de uma tese que o arquiteto Lubomir Ficinski, ex-presidente do IPPUC, sempre defendeu -e que viu reconhecida há duas semanas, no workshop on urban environment and economic development, com a participação de 7 especialistas mundiais em planejamento urbano, a convite da Ressources For The Future. Durante 10 dias, em Washington, Baltimore e Miame, em longas reuniões, especialistas na área discutiram os problemas do crescimento das cidades e seus problemas econômicos sociais e políticos. Uma das conclusões foi a de que mais do que nunca os centros das cidades necessitam serem revigorados especialmente agora, quando a crise do combustível torna cada vez mais arriscado investimentos em shopping centers distantes, ou mesmo conjuntos residenciais que impliquem em gastos elevados de combustível. Xxx Em Baltimore, população de 850 mil habitantes, Lubomir Ficinski ouviu do presidente da câmara de Comercio, uma frase que lhe deixou feliz: "O grande problema que enfrentamos hoje são os shopping-centers, totalmente desaconselháveis no momento em que vivemos". Há dois anos, quando na presidência do IPPUC, Lubomir foi o primeiro a se pronunciar contra a construção de shopping-centers afastados da cidade, como o de Pinhais. Posteriormente outras vozes se levantaram - inclusive a do então arquiteto e consultor de urbanismo Jaime Lerner, mas o projeto foi levado adiante, com entusiástico apoio da Prefeitura de Piraquara e a primeira etapa, num investimento de um bilhão de cruzeiros (US$ 1.200,000) será inaugurada em março/82 - já com 80% de seu espaço comercial (48 mil m2) vendido, especialmente para lojas e grupos comerciais de outros Estados: das 68 lojas e grupos comerciais de outros Estados: das 68 lojas adquiridas, apenas 28 são locais. Xxx Curiosamente, a C&A, uma das maiores multinacionais na área de loja-de-departamentos, com sede em Amsterdam e pertencente a duas das famílias mais ricas do mundo- Christopher & Augustus - é a principal acionista da Mondec, empresa dirigida pelo arquiteto norte-americano Karl William Stefanskis, especialistas em implantação de Shopping-centers, que está executando o de Pinhais. E a mesma C&A investirá mais de Cr$ 500 milhões para ampliação de sua loja-de-departamentos na Rua 15 de novembro, que através da aquisição de dois velhos sobrados - os de números 31 a 37 na primeira quadra da Marechal Deodoro - se transformará em galeria comercial. Na última semana, o IPPUC chegou aos entendimentos finais com os executivos da C&A em relação ao projeto de aproveitamento da área: em substituição ao miolo-de-quadra que legalmente, seria obrigado a reservar, a C&A vai destinar uma parte da frente para a Rua 15 de novembro e um cinema de 350 lugares, que entregará equipado a Prefeitura. Com isto aquele trecho voltará a ter um cinema - quase exatamente no local onde por décadas funcionou o "Ritz" de saudosa memória . Para ampliar sua loja, a C&A adquiriu ao que consta por 140 milhões - dois sobrados a Rua Marechal Deodoro, onde funcionava a Churrascaria Tempo o mais tradicional restaurante especializado em cozinha japonesa, uma quitanda de frutas e uma loja de móveis. Os inquilinos já desocuparam os imóveis - a "Tempo" anuncia que vai reabrir em breve, mas não diz onde - e a demolição das casas começará em novembro. Inicialmente serão construídos três pavimentos para a C&A transferir sua loja hoje com frente para a Rua 15 de novembro que será demolida posteriormente. No final, haverá um grande prédio galeria, com 5 andares para a Rua 15 e oito para a Marechal Deodoro. A grande galeria térrea com saída também para a Rua Dr. Murici/Praça Zacarias, através de um edifício lateral, que já foi adquirido e ostenta o logotipo da C&A . E a galeria Ritz no térreo do edifício Wenceslau Glazer, incorporada por Galvão há alguns anos, ganhará também uma saída lateral. Dentro de um ano, aquele setor -hoje já bastante movimentado - terá ainda um comércio mais intensificado, pois obviamente a C&A ampliara todas suas atividades, já que disporá de uma área de milhares de metros quadrados. Na concorrência dos grandes empresários, o grupo Arthur Lundgren, de Recife (leia-se Casas Pernambucanas S/A), que há alguns anos adquiria antiga sede da Sociedade de Educação Física e Desportos Duque de Caxias, na esquina das Ruas José Loureiro e Dr. Muricy, para ali construir um prédio de 8 andares e instalar a primeira loja de departamentos da família Lundgreen, também decidiu ampliar seus negócios. E por uma importância não confirmada oficialmente mas que oscilaria de Cr$ 80 a Cr$ 120 milhões adquiriu imóvel que se estende entre os números 108 a 128 na Rua José Loureiro cadastrada na Prefeitura em nome da Sra. Odemira de Azambuja Moreira. Os imóveis atualmente são ocupados pela loja de Móveis Ronconi S/A (número 108), uma oficina de consertos de relógios (116), filial da papelaria Santa Cruz (118) e filial da farmácia Morifarma, já na esquina com a Marechal Floriano Peixoto defronte a Praça Carlos Gomes. Embora a aquisição já tenha sido feita, os imóveis continuam ocupados principais dirigentes do grupo Arthur Lundgren S/A estará no IPPUC para detalhar o projeto de ampliação das Lojas Muricy e que implicará em mudanças no comportamento e mesmo tráfego daquele trecho da Rua José Loureiro. Xxx estas duas grandes transações imobiliárias numa movimentação de milhões de cruzeiros para alegria dos proprietários que os venderam e alta comissão dos intermediários terá reflexos em todos o comercio da cidade. Pequenas lojas que ainda subsistem terão uma concorrência mais forte e os grupos tradicionais terão também que ampliar. Não é sem razão que o deputado Hermes Macedo reuniu já seus diretores para discutir a construção de um grande prédio na esquina das Ruas José Loureiro/Barão do Rio Branco (terreno pertencente a sua empresa mas arrendado a um dos mais lucrativos estacionamentos da cidade). E a família Prosdócimo também pensa em ampliar sua loja: como não pode fazer isto na Rua Cruz Machado, estuda uma participação no shopping-center que Salomão Soifer planejam no inicio da Avenida Cândido de Abreu, nas antigas instalações de metalúrgica Mueller. Mas isso é história para depois. LEGENDA FOTO 1 - Grandes transações imobiliárias.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 11

Data: 02/11/1980

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