Login do usuário

Aramis

"Orí", um filme para fazer a cabeça de públicos especiais

Já premiado em dois festivais internacionais e programado para uma dezena de outros eventos em várias partes do mundo, "Orí" o filme de Raquel Gerber é, sem dúvida, uma obra-de-tese, um trabalho da maior importância cultural, mas que precisa ser canalizado para platéias especiais: movimentos negros, estudantes de sociologia e antropologia. Espera-se tal trabalho junto a público específico para este documentário que estréia hoje no cine Groff. Abordando os movimentos negros no Brasil e na América, a partir de 1977 e através de suas lideranças, o filme discute pensamentos e ideologia. Resultado de 10 anos de pesquisa, viagens e filmagens por vários Estados do Brasil (São Paulo, Minas, Alagoas, Rio) e África Ocidental (Senegal, Mali e Costa do Marfim), num trabalho que envolveu mais de 100 pessoas, Raquel finalizou "Orí" em janeiro deste ano. Suas primeiras exibições foram no Exterior: no XI Festival Pan-Africano de Cinema e da Televisão de Ouagadougou (capital de Burkina Faso, ex-Alto Volga) recebeu o Prêmio Paul Robeson. No 5º Festival Internacional de Cinema de Tróia, Portugal, recebeu o Prêmio Costa Azul. No Brasil, sua estréia aconteceu em Salvador (21/9) e Rio de Janeiro (27/9, no cine Clube Estação Botafogo) e, a partir do último dia 28, no Cine-Arte-I, em São Paulo. Curitiba é, assim, a quarta cidade na qual chega este documentário de características tão especiais que Raquel Gerber vai passar os próximos meses viajando pelo mundo, acompanhando suas projeções em vários eventos. Começa pelo Yamagata Internacional Documentary Film Festival, no Japão (10 a 15 de outubro), cujo convite já significa um prêmio: um polpudo cheque de US$ 20 mil, "dinheiro que chega em boa hora, pois até agora já investi mais de US$ 300 mil em sua realização" diz Raquel, que chegou até a vender seu apartamento para poder finalizá-lo. Para Raquel, a participação do festival de Yamagata é particularmente importante: - "Ele foi selecionado entre 200 filmes de todo o mundo e somente 15 foram escolhidos. Na justificativa desta escolha - o que já significa uma pré-premiação - os organizadores ressaltaram que o tema de "Orí" é a pesquisa pós-colonial feita por uma minoria em busca da afirmação de uma identidade cultural, social e política. O filme, entretanto, é altamente não usual no seu plano de ação que é quase totalmente impressionista. "Orí" tenta destilar conteúdo puramente espiritual através de imagens de grande poder. "Orí" significa "cabeça" - consciência negra na sua relação com o tempo, a história e a memória - um termo de origem yorubá, povo da África Ocidental. Assim, numa definição mais sucinta pode-se dizer que "Orí" fala da memória e da busca da autoimagem do negro na modernidade. O encontro de Raquel com a historiadora negra Beatriz Nascimento, com seus estudos sobre a ideologia dos Quilombos (estabelecimentos guerreiros e sociedades iniciáticas que existiram por séculos desde a abertura da floresta equatorial africana pelos Bantus até seu estabelecimento na África Centro Ocidental e sua recriação no Brasil como forma de resistência, desde o Quilombo dos Palmares no século XVII), foi que possibilitou um mergulho tão profundo numa questão cultural até hoje insuficientemente estudada - não só no cinema, mas também nas universidades. LEGENDA FOTO - Raquel Gerber e Hermano Penna em filmagens nas Alagoas: Quilombo dos Palmares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/10/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br