Abertura (Opus 5)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de fevereiro de 1975
As vaias que durante quase cinco minutos impediram que Walter Franco, premiado com Cr$ 30 mil em 3º lugar na finalíssima de "Abertura" (Rede Globo de Televisão, terça-feira, 21 às 24 horas) pudesse apresentar a sua "Muito Tudo", refletiram a incompreensão do público presente no Teatro Municipal de São Paulo para com a experimental proposta do jovem compositor, que há 3 anos, no último FIC, já havia criado um sério problema, levando a demissão coletiva do júri da fase nacional pela classificação de sua música-happening "Cabeça". Sua premiação no Festival da Nova Música Brasileira refletiu o equilíbrio do júri, presidido pelo admirável Aloysio de Oliveira e integrado por jornalistas e músicos realmente competentes que, nas quatro eliminatórias, julgando as 40 músicas selecionadas das 8.646 canções inscritas, já havia demonstrado total imparcialidade. E assim, para uma proposta experimental de Walter Franco - bem mais hermética do que as festivas participações de Jorge Mautner ("Bem-Te-Vi"), Jards Macalé ("Princípio do Prazer") e Luiz Melodia ("Ébano") - houve as premiações maiores para duas músicas que, para duas músicas que, para a geração-75, podem ser classificadas de "quadradas": "Fato Consumado", de Djavan/Caetano e a belíssima "Como um Ladrão", de Carlinhos Vergueiro, a respeito da qual já nos tínhamos referido, quando de sua classificação, há três semanas. Quase que numa compensação pela injusta - e nisto sim, achamos que o júri errou - desclassificação do samba de Nelson do Cavaquinho/Guilherme de Brito, a maravilhosa Clementina de Jesus, 68 anos, ganhou o prêmio de melhor intérprete com "A Morte de Chico Preto", do paulista Geraldo Firme de Souza, enquanto o de melhor arranjo, com toda a justiça, foi para Hermeto Paschoal, com o seu admirável "O Porco da Festa" - cuja proposta vanguardista teve apoio do público, ao contrário de Walter Franco, que praticamente foi impedido de mostrar seu "Muito Tudo". Alceu Valença com seu "Vou-me Embora Pra Catende" ganhou um prêmio especial "pela pesquisa" e a Rede Globo homenageou, com prêmios de Cr$ 5 mil, duas históricas figuras da música brasileira, merecedoras de outras - e mais substanciais - lembranças: o maestro, arranjador e pianista Radamés Gnatalli, gaúcho de Porto Alegre, 69 anos, 39 de Rádio Nacional; e o letrista, teatrólogo e ator Mário Lago, 64 anos, autor de algumas das mais famosas músicas de cancioneiro verde-amarelo ("Ai Que Saudades da Amélia", com Ataulpho Alves; "Nada Além", com Custódio Mesquita: "É Tão Gostoso Seu Moço", com Chocolate, etc.). Se a primeira fase dos Festivais de MPB (1964-73) exauriu-se pela desorganização e falta de estrutura, a partir desta "Abertura" talvez inicie uma nova fase da promoção dos valores autênticos da MPB.
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