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"Bavarium", quando o êxito traz problemas

Em suas duas primeiras semanas de funcionamento, a partir do dia 10 de dezembro, o Bavarium Park (Avenida Mateus Leme, 4.248) foi o exemplo de um aspecto inusitado de grande parte de sua freguesia: o roubo. Simplesmente, mais de dois mil canecos de chope, em cristal foram surrupiados nos primeiros dias em que uma multidão lotou a maior cervejaria do Sul, trazendo com isto um problema sério para seus proprietários: ter que servir a bebida em copos de plástico. Do alto de sua experiência de 25 anos como mestre-cervejeiro, o bávaro Arthur P. Lampelzammer, 48 anos, não se conforma: -Cerveja é para se beber em copo de cristal. Jamais em plástico! Mas o que fazer? Dona Nair Ferreira, sua esposa, fez mil e um contatos com todas as fábricas que poderiam repor os canecos roubados. Em todas, uma só resposta: os pedidos só seriam atendidos a partir de fevereiro de 1988. Assim, contrariando tudo que idealizaram em termos de atendimento a freguesia, os donos do Bavarium tiveram que apelar para o uso de copos de plástico, descartáveis mas que nem por isto retiram o excelente sabor da bebida que o mestre Lampelzammer sabe preparar. xxx Com toda a sua vivência de ex-diplomata, tendo residido em várias partes do mundo, a jovial e elegante Nair Ferreira, 45 anos, mineira de Curvelo, também foi obrigada a se render a uma evidência: contratar uma eficiente segurança para garantir a tranqüilidade da cervejaria. Com sua visão empresarial, Nair temia impor um sistema policialesco na cervejaria, "para não constranger a freguesia". Entretanto, o movimento foi tão grande nas três primeiras semanas - com uma média de 4 mil pessoas tentando entrar num espaço que recebe, no máximo, 1.500 fregueses - que surgiram, naturalmente, conflitos na porta. Pelo menos 20 grandes vidros foram quebrados, por pessoas menos educadas, que insistiam em conseguir uma mesa -, quando todos os lugares estavam ocupados. xxx Neste 31 de dezembro, o Bavarium Park terá o seu primeiro reveillon. Só que providências especiais foram tomadas por dona Nair: a venda antecipada de convites, mesas reservadas e um rígido sistema de segurança para que o estabelecimento funcione dentro da estrutura existente. Praticamente esgotadas as mesa para a festa de ano novo, o Bavarium Park, mais do que um simples endereço de lazer, comporta, nestas primeiras semanas de funcionamento, interpretações sócio-etílicas, que mostram o comportamento do curitibano - ou ao menos grande faixa de pessoas que ansiavam por uma nova opção de lazer. Apesar do otimismo que levou o casal Lampelzammer a investir mais de Cz$ 100 milhões num projeto imenso, o sucesso de público do Bavarium Park suplantou todas as expectativas e trouxe até problemas operacionais - que agora começam a ser resolvidos. O mestre-cuca Frank Roess, contratado (a peso de ouro) para supervisionar o restaurante, teve que se adequar a uma nova realidade - pois ao invés da sofisticação dos micropratos da nouvelle cuisine française que estava acostumado a preparar no sofisticadíssimo Mahogany, do Araucária Flat Hotel, teve que passar a coordenar uma equipe de muitos cozinheiros, preparando uma quantidade imensa de comida para que os 60 garçons possam servir a uma clientela diferente. Evidentemente que, nesta fase inicial, surgem problemas - mas que aos poucos vão sendo superados, com ajustes humanos e técnicos. xxx Bávaro da cidade de Burghausen, tendo se formado há 20 anos pela Weihenstefan, de Munique - uma das três escolas superiores da Alemanha na arte de fabricar cerveja, Artur Lampelzammer já correu o mundo, sempre contratado para instalar grandes cervejarias: em 1962 foi a Nigéria, depois a Lagos e na República de Camarões. Esteve também na Jordânia e Teerã e, em 1972, deslocou-se para o Panamá para, finalmente, em 1978 chegar a Assunção, onde além de implantar a maior fábrica de cerveja daquele país, conheceu a encantadora Nair Ferreira, com quem viria a se casar. Juntos, decidiram partir para seu próprio negócio e, mesmo sem conhecerem Curitiba, acharam que a nossa cidade seria a opção ideal. A explicação de Artur é simplista mas simpática: - Curitiba me lembrou Munique. O projeto foi iniciado há quase dois anos, com a aquisição de uma ampla área de 27 mil metros quadrados, que, no ano passado, sediou a indústria de adubos Boutim, mas também ali já existiu uma das primeiras fábricas de cerveja do Paraná, no início do século. Aliás, uma idéia de dona Nair é criar uma espécie de "museu do chope", reunindo peças de antigas cervejarias, desde que consiga localizá-las - além de rótulos, garrafas, canecos e tudo mais que se relacione a esta bebida e sua tradição. O mestre Arthur, cumprimentado sempre pela qualidade da cerveja que vem fabricando - 30 mil litros por mês, estocados em seis grandes reservatórios de metal - garante que o diferencial na bebida que faz é evitar o uso de produtos químicos. - A fórmula da cerveja é uma só: lúpulo, malte, água e fermento." Mas a questão é saber fazer esta mistura - diz o jornalista Creso de Moraes, 45 anos, que além de assessorar seu amigo Arthur na área de relações públicas, integrou-se tanto ao projeto que, nas últimas semanas, ao lado de sua esposa, Christiane, vem desenvolvendo atividades extras, para suprir problemas de última hora. Até na portaria, nos momentos de maior pique, Creso já ficou - com sua tradicional habilidade. - "Mas é só em emergência, pois não tenho vocação para leão-de-chácara." - apressa-se em esclarecer.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/12/1987

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