Login do usuário

Aramis

Voz & Violão

O violão continua a ser o instrumento-base para acompanhar a emepebe, garantindo, sempre, aos nossos compositores-intérpretes uma segurança harmônica, que poucos outros [instrumentos] possibilitam. Três exemplos, em diferentes gêneros, estão em elepes que aparecem agora nas lojas. O TRADICIONAL - Francisco Petrônio (Francisco Petrone, 52 anos), desde janeiro de 1961 é um dos cultores mais populares de um gênero que necessita apoio: a Seresta. Ex-motorista de táxi em São Paulo, gravando um 78rpm para a Chantecler, "Agora" e "Não Me Fale Dela", que em pouco tempo vendia o suficiente para justificar a produção de um elepe ("Cantando no Ponto") e a partir de então não parou mais de gravar e a ser requisitado para "Bailes da Saudade". De seu encontro com o violonista Dilermando Reis (paulista de Guaratinguetá, 59 anos), surgiu uma das séries de maior aceitação, ("Uma Voz e um Violão em Serenata"), que a Continental, etiqueta em que os dois artistas se encontram há anos, dá uma natural regularidade. Agora, por exemplo, aparece "O Melhor De Uma Voz e Um Violão em Serenata" (1-01-404-114, outubro/75), que, salvo, engano, é formado de uma seleção de álbuns anteriormente produzidos. João Luiz Ferreti, o extraordinário produtor da série histórica da Continental, há muito pensa em fazer um elepe retrospectivo de Dilermando Reis, mas o violonista mantém-se em tamanha atividade que torna difícil a oportunidade desta homenagem. Para quem aprecia a música de seresta ou o samba tradicional, este volume não poderia ser melhor. Petronio, com sua voz [aveludada], ao som do violão (quadrado mas brasileiro) de Dilermando Reis, mostra um rosádio de clássicos que todos conhecem, mas que sempre se ouve com alegria: "Quem Sabe" (A. Carlos Gomes-F.L.Bittencourt Sampaio), "Carinhoso" (Pixinguinha-João de Barro), "Maringá" (Joubert de Carvalho), "Último Desejo" (Noel Rosa), "Última Inspiração" (Peter Pan), "Lágrimas" (Cândido das Neves - Índio), "Cabelos Cor de Prata (Silvio Caldas - R. Leite), "Rosa" (Pixinguinha - João de Barro), "A Voz do Violão" (Francisco Alves), "Lábios Que Beijei" (J. Cascata - Leonel Azevedo), "Ave Maria do Morro" (Herivelto Martins), "Boneca" (Benedito Lacerda - Aldo Cabral), "A Casinha da Colina" (João Portaro) e "Ave Maria" (Erothides de Campos). O BOM SAMBA - O Rio Grande do Sul não deu apenas Lupiscínio Rodrigues (1914-1974) em termos de compositor de Samba. É de Santiago, uma pequena cidade gaúcha, o compositor Tulio Piva, que há mais de 20 anos tinha um antológico samba cantado no Brasil inteiro: "O samba/Pra ser samba brasileiro Tem que ter pandeiro - tem que ter pandeiro O samba - prá ser samba na batata Tem que ter mulata/tem que ter mulata" Este samba teve muitas gravações, mas o seu compositor permanecia esquecido, de forma que é dos mais importantes o fato de Tulio fazer agora o seu disco de intérprete (Continental, 1-07-405-052), em que com sua voz afinada e, principalmente emparado em dois violões - um a seu cargo, outro nas mãos competentes de Fabrício Galeano, mais o cavaquinho de Lucio Araujo - mostra 12 excelentes composições, algumas já conhecidas, outras inéditas, além de uma sentida homenagem a Lupíscinio ("Um Poeta no Céu"). Hamilton Chaves, na contra de contracapa, chama atenção para o violão de Tulio Piva: "Outros violões, em matéria de samba, serão até mais ricos em harmonia ou execução. Mas, poucos, poucos, poucos mesmos darão um recado tão brasileiro". Ouvindo-se Tulio Piva nos convencemos, mais uma vez de quanta gente de talento existe neste nosso País a espera de ter sua chance de mostrar suas músicas. Pena, que poucos tenham a oportunidade que o gaúcho Tulio Piva merece agora. Produzido por Sidney Morais, cm boa qualidade técnica, um elepe digno e importante. Faixas: "Tem que Ter Mulata", "Endereço do Samba", "Sonho de Sambista", "Pandeiro de Prata", "Velhos Amores", "Foi de Madrugada", "Janela dos Olhos", "Quando Chega a Solidão", "Se Eu Errei!, "Bonito é o Samba", "Um Poeta no Céu" e "Gente da Noite". BEBETO OU BEN? - Bebeto é um jovem violonista e compositor que atua na noite paulista e faz parte de uma nova geração - que tem, por certo em Benito Di Paula, um exemplo de sucesso (comercial). Isso talvez tenha feito com que Bebeto se voltasse para um estilo de samba comercial na pior linha de Jorge Ben, compositor e intérprete ao qual sempre oferecemos várias reservas. Se o violão quadrado (mas brasileiro) de Dilermando Reis valoriza a voz de Petronio e o bom gaúcho Tulio Piva sabe dar um ritmo verde-amarelo ao seu "pinho"; o violão de Bebeto desaparece nos arranjos criados para este seu elepe de estreia (Copacabana, COLP 12003, outubro/75), em que teve a participação de um grupo de músicos paulistas. 11 das doze músicas do elepe são do próprio Bebeto (com parceiros: Rubens e Luiz Vagner), e apenas uma é de outro sambista da mesma linha, Wando ("Esse Criolo Por Você Se Fez Poeta"). Infelizmente, a presença de Jorge Ben é muito forte, inclusive nas temáticas de algumas faixas. Não somos contra influências, mas é lamentável quando alguém se deixa dominar tanto - em letra e interpretação - por um artista como Jorge Ben. A não ser por razões puramente financeiras, mas daí a coisa muda de figura. Faixas: "Pensar Pra Que", "Muito Amor e Liberdade", "Só Queria Saber", "Veja a Vida Como É", "Só Quero Sambar", "Poderoso Thor", "Gabriela", "Segura Nêga", "Morte da Sandália de Couro", "Adão Você Pegou o Barco Furado" e "Ela Vai Mostrar".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
32
02/11/1975

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br