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Aramis

Art, o concerto inglês de Duke, a volta de Eckstine, Isaac e Aretha.

Escrevendo sobre Art Blakey, aqui mesmo em O Estado, nosso colaborador José Domingos Raffaelli, usou uma expressão muito feliz "Um dínamo na bateria". E realmente Art Blakey hoje chamado de Buhaina, nome que adotou após sua conversão ao islamismo é um dos mais intensos drummers do moderno jazz desenvolvendo com seu grupo The Jazz Messengers, um trabalho altamente criativo e inquietante, como pode ser observado agora por este oportuno "Buhaina" (Prestige/RCA Victor), onde ele se apresenta em companhia do vocalista Jon Hendricks nas faixas "Moanin" (Hendrick-Fimmons) e "Along Came Betty" (Hendricks-Golson), do pistonista Woody Shaw, do sax-tenor Carter Jefferson (que executa sax-soprano em "A Chant for Bu", de Mickey Bass), do pianista Celder Walton, do guitarrista Michael Howell (nas faixas "A Chant for Bu", "One For Trane", "Mission Eternal"), Mickey Bass no baixo e Tony Waters na conga. Neste álbum produzido por Orrin Keepnews, gravado na Fantasy Studios, em Berkeley, Califórnia, um destaque especial é o vocalista Jon Hendricks. "Moanin", que abre o lp, foi um grande sucesso instrumental de Blakey há muito tempo atrás, e continua sendo o principal modelo de jazz, muitas vezes apresentado com as líricas escritas por Hendricks. Agora, pela primeira vez em disco, Jon tem a colaboração dos Messengers, dando à canção uma brilhante execução. Em complemento, Hendricks forneceu a letra para outra melodia do conjunto: "Along Came Betty" de Benny Golson. Outra faixa importante neste lp é "Mission Eternal", assim intitulada por Cedar Walson. Para Blakey foi algo como uma eterna missão de pesquisar talentos com as várias apresentações de seu conjunto e relacionar todos os artistas principais que foram "Mensageiros do Jazz". Assim, neste lp temos desde os veteranos e consagrados Walton e Woody Shaw, até o mais novo tenor de Art, Carter Jefferson ou o talentoso guitarrista de São Francisco, Michael Howell. Tudo isto dá um merecido destaque a este "Buhaina", que a RCA-Victor, iniciando uma importante coleção de jazz, em tão boa hora coloca no mercado brasileiro. O CONCERTO INGLÊS DE ELLINGTON Quase que simultaneamente ao "Yale Concert" (Fantasy/RCA-Victor, 2045012, abril/74), também a Copacabana colocou nas lojas do Brasil um dos mais recentes concertos de Duke Ellington (1899-1974) - e muito possivelmente um de seus melhores trabalhos. No mesmo nível dos antológicos "Second Sacred Concert" (2 lps. Fantasy 8407/8, edição importada, Cr$ 150,00), "New Orleans Suite" (Atlantic Records, SD 1580, edição importada, Cr$ 75,00) e o mais antigo e marcante "70th Birthday Concert" (Solid State, 2 lps gravado na Inglaterra em 1970), este "The English Concert" (United Artists Records, 11. 746, abril/74) oferece uma visão panorâmica da criatividade de Duke Ellington, ao longo de seus temas próprios - uma única suite no lado A e quatro outros temas recentes na segunda face. No lado 1 temos a "Togo Brava-Brava Togo Suite", dividida em quatro movimentos "Soul Soothiring Beach", "Natureliement", "Amour, Amour", "Right On Togo". No segundo lado, quatro faixas menos pretensiosas, mas igualmente antológicas dentro da obra ellingtoniana "In A Mellow Tone" (em parceria com M. Gabler), "I Got It Bad" (And That Ain't Good) (em parceira com Paul Franciscos Webster), "Good" e "Soul Flute". Com esta edição a Copacabana soube fazer justiça a um dos maiores gênios da música mundial neste século. Que agora saiam seus outros concertos para o público brasileiro. SARAH & BILLY Sai finalmente o volume 13 da "Jazz-History" da Phonogram, desta vez com dois vocalistas: Sarah Vaughan e Billy Eckstine. O lançamento de mais um álbum duplo nesta extraordinária coleção da Phonogram, editada em seus 11 primeiros álbuns no ano passado, é fator dos mais otimistas para quem se interessa por jazz, pois confirma a disposição da Phonogram em dar continuidade a série, tal a repercussão que, com total justiça, obteve junto ao público classe A. Se Sarah Vaughan, mercê de suas três recentes visitas ao Brasil, a última, há 40 dias, apenas para descansar em Petrópolis, no sítio de amigos, tem merecido várias edições, com Billy Eckstine acontece o contrato há mais de 10 anos que estava esquecido por parte de nossas gravadoras, apesar de todo o seu prestígio nos anos 40/50. William Clarence Eckstein, que no próximo dia 7 de agosto completa os seus sessenta bem vividos anos, nasceu em Pittsburgh mas mudou-se ainda criança para Washington D. C., onde estudou na Armstrong High and Howard University. Também foi naquela Capital que começou como cantor, passando depois para Buffalo, Detroit e Chicago, onde após passar pela orquestra de Budd Johnson, começou a trabalhar com o pianista Earl Hines. Em 1944 voltou a trabalhar com Johnson, por cuja banda passaram instrumentistas como Charlie Parker e vocalistas como Sarah Vaughan. Entre junho de 1944 a 1947, Billy teve seu próprio grupo. Em sua longa carreira trabalhou com os nomes mais expressivos do jazz e, como poucos, pode ser considerado basicamente um homem do jazz. Pois afora excelente vocalista foi trompetista e trombonista (trombone de válvulas). Seu conhecimento de música sob o aspecto técnico lhe tem sido de grande valia como cantor "e basta falar com ele durante 5 minutos para perceber o quanto ele está interessado em tudo o que está acontecendo agora no jazz", como lembra a nota de contracapa no volume 13 desta Jazz History. Nesta seleção, gravada recentemente, com arranjos de Billy Byers e a benéfica supervisão de Quincy Jones, Billy Eckstine mostra estar em prefeita forma, cantando acompanhado por um excelente conjunto: Herbie Mann na flauta, Clifford Brown no trompete, Paul Quinichette no sax-tenor, Joe Benjamin no baixo. Jimmy Jones no piano, Roy Haynes na bateria e mais Ernie Wilkens regendo a orquestra. A seleção não poderia ser melhor, permitindo ao veterano cantor mostrar toda sua versatilidade, "Boulevard of Broken Dreams", "Stella By Starlight", "Babalu", "Zang! Went The Strings Of My Heart", "I Apologize", "Blue Moon", "My Foolish Heart", "Everything I Have Is Your's", "I'm Falling For You", "Coquette", "Guilty", "It Isn't Fair", "Stranger In Paradise", "There's A Small Hotel", "Tonight" e "On The Street Where You Live". Se Billy Eckstine justifica um breve registro biográfico pois seu nome pode ser desconhecido para as novas gerações, Sarah Vaughan, 50 anos completados no último dia 27 de março, dispensa maiores comentários. Hoje, após Ella Fitzgerald, é o maior nome entre as vocalistas de jazz. Para o crítico Leonard Feather ela tem em sua voz "o potencial que a firmou como o novo som vocal arquetípico da geração de pós-guerra". Nas faixas selecionadas para esta gravação histórica, Sarah apresenta um repertório iminentemente jazzístico, acompanhado pela flauta de Herbie Mann e pelo trompetista Clifford Brown (1930-1956), além de Paul Quinichette no sax-tenor. De Clifford Brown é bom que se lembre que ele partilhou a liderança do famoso quinteto Brown-Max Roach de 1953/56. Um acidente de carro na barreira de pedágio de Pensilvania acabou com a vida do maior trompetista do pós-bop. Suas brilhantes improvisações, a técnica impecável e a riqueza do som continuam, porém a influenciar muitos jovens músicos de jazz. Sua presença no acompanhamento das faixas deste lp tornam o álbum indispensável mesmo aos que já possuíam a maioria dos discos de Sarah. Faixas: "Lullaby of Birdland", "April In Paris", "He's My Guy", "Jim", "You're Not The Kind", "Embraceable You", "I'm Glad There Is You", "September Song" e "It's Crazy". BING & LOUIS Em sua coleção "Edição Histórica", a Phonogram incluiu ao lado das reedições de algumas das melhores produções de Aloysio de Oliveira na Elenco, dois excelentes lps internacionais: a gravação de Louis Armstrong (1900-1970) com o cantor Bing Crosby (Harry Lilis Crosby, Tacoma, Washington, 2 de maio de 1904) e uma das muitas gravações de Judy Garland, feitas para a MGM e aqui editadas originalmente pela Philips do Brasil. Sem ser o melhor momento de Armstrong como jazz-man, esta sua gravação com Bing Crosby não deixa de ser uma demonstração de versatilidade, espontaneidade e alegria musical, com momentos de alta comunicação com o público menos iniciado em jazz. Isto torna oportuníssima sua reedição, principalmente agora, que uma séria doença ameaça também levar Crosby para integrar a grande orquestra que São Pedro está formando, desfalcando a terra de alguns de seus mais criativos habitantes. O encontro Bing-Satchmo abre com um comunicante tema de Kid Ory - "Muskarat Ramble", prosseguindo com "Sugar" (That Sugar Baby O'Mile), "Preacher", "Brother Bill" (de Satchmo) e encerrando, em sua primeira parte, com "Let's Sing Like a Dixieland Band". Na face B, temos "Way Down Yonder In New Orleans" (Creamer-Layton), "Dardanella", "Little Old Tune", "At The Jazz Band Ball" e "Rocky Mountain Moon". ISAAC HAYES Demonstrando a cada novo disco que é muito mais do que o impressionante criador do nervoso tema de "Shaft", o vigoroso Isaac Hayes oferece em "Joy" (Stax/Phonogram, 2325111, maio/74), mais alguns momentos de uma música vibrante, atual, que tanto pode ser classificada de jazz como simplesmente se integrar as correntes do pop contemporâneo. Rótulos não importam. O que importa é o som comunicativo, sincero e pessoal que Isaac mostra nas cinco longas faixas deste disco como ele - "Joy" (15,55 minutos), "I Love You That's All" (6,14), "A Man Will Be A Man" (7,20), "The Feeling Keeps On Coming" (6,48) e "I'm Gonna Make It" (Without You) (11,11), onde se apresenta acompanhado por músicos igualmente notáveis, além de ter convocado para reforçar a seção de metais e cordas o Movement Horns & Memphis vocais. Um disco marcante. Uma jóia! ARETHA FRANKLIN Há 3 semanas lamentamos a ausência das grandes vocalistas de jazz neste primeiro semestre fonográfico em termos de edições brasileiras. Pois, ora viva! Aretha Franklin chega na praça em lançamento Continental ("Let Me In Your Life", ATCO-ATLP 0-70, maio/74) para começar a suprir esta deficiência. E a notável vocalista não poderia vir da melhor forma: com arranjos perfeitos e acompanhados por excelentes instrumentistas, executa piano e canta 12 músicas que rendem o máximo, "Let Me In Your Life". "Every Natural Thing", "Ain't Nothing Like The Real Thing", "I'm In Love", "Until You Come Back to Me", "The Masquerade Is Over", "With Pen In Hand", "Oh, baby", "Eight Days On The Road", "If You Don't Ghink" e "A Song For You". LEGENDA FOTO 1 - Bing LEGENDA FOTO 2 - Satchmo LEGENDA FOTO 3 - Aretha
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
aqui, jazz
62
09/06/1974

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