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Aramis

As aventuras da Mônica em terras estrangeiras

Maurício de Souza respira aliviado. Finalmente, "Mônica", "Cebolinha", "Cascão" e "Chico Bento" estão nas bancas, com numeração zerada. Isto é, começaram 1987 com o número um. Vida nova, casa nova! Agora, publicadas pela Editora Globo, após 17 anos de contrato com a Editora Abril. E por pouco que as revistas da turma da Mônica, que tradicionalmente todos os meses estão nas bancas de todo o País, vendendo dois milhões de exemplares, não saíam em janeiro. Foram dias de ansiedade e preocupações para Maurício e sua equipe, pois quando ele decidiu não mais renovar o contrato com a Editora Abril e passar para a Globo, agora pertencente às organizações Roberto Marinho, o grupo Civita jogou bruto. Ou seja: suspendeu a partir de janeiro, as revistas de Maurício - embora contratualmente devesse editá-las até março de 1987. Prazo suficiente para que a nova Editora Globo se estruturasse para assumir a produção. A Abril não só suspendeu as edições como reteve os originais das publicações. Dificilmente, se encontraria no Brasil um parque gráfico em condições de imprimir 2 milhões de revistas em poucas semanas. A situação estava pleta, como diria Cebolinha, um dos mais simpáticos personagens da turma da Mônica. Mas a estrela de Maurício é grande e a solução foi encontrada domesticamente. Sua esposa, Alice Takeda, diretora artística do estúdio, devido à gravidez - deu à luz, em dezembro, ao primeiro varão da família, Mauro - previdentemente havia antecipado um número extra de todas as revistas. Com estes originais, se pôde montar os fotolitos das publicações. Para imprimí-las, recorreu-se a uma das maiores indústrias gráficas da Europa - a Estella S/A, de Barcelona que, em poucos dias, imprimiu as revistas. Através de uma operação bem conduzida, toneladas de revistas desembarcaram no Galeão e, em poucas horas foram distribuídas a todo o País. Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento chegam assim nas bancas, sem mudança de formato das revistas, com uma qualidade de impressão até superior às anteriores, mas com potencialidades de crescimento. Maurício diz; - "Se pela Editora Abril já chegamos a 2 milhões de exemplares mensais, agora as possibilidades são maiores. Já constatamos junto aos jornaleiros uma demanda reprimida que fará com que, a curto prazo, nossas revistas ultrapassem os 3 milhões de exemplares. E, a médio prazo, acredito na duplicação da tiragem. Internacionalização Da publicação da primeira tira do cãozinho Bidu, há 27 anos, na "Folha de São Paulo", aos planos para 1987, Maurício de Souza já criou dezenas de personagens - "tenho mais de 200 registrados, embora atualmente só use cerca de 30" e viu suas revistas atingirem mais de 200 milhões de exemplares. Hoje, sua agenda inclui compromissos em vários países e não só ele, mas os executivos de sua empresa estão constantemente embarcando para a Europa, Japão e Estados Unidos, tal a internacionalização do grupo. Por exemplo, neste início de ano, um novo personagem em tiras de jornais e revistas - o Dieguito, baseado no craque Diego Maradona, da mesma forma como o Pelezinho se inspirou em Pelé, começa a ser publicado na Itália. Experiências isoladas já ocorrem há alguns anos. Os quadrinhos estão em Portugal, Espanha, Grécia, Dinamarca, Angola, Japão, Hong Kong e vários países da América Latina. A primeira tentativa de exportação global ocorreu no ano passado com a Argentina, onde foram lançados discos, filmes para tevê e cinema, revistas, teatro e feitos contratos de merchandising. Um dos principais executivos da empresa, Luiz Gonzaga Assis de Luca, 31 anos, ex-cineclubista, hoje diretor da Black & White - que operacionaliza o setor de cinema e, anteriormente dirigia a área de marketing - faz uma observação pecisa. - A filosofia é penetrar no mercado internacional e lá ficar o resto da vida. Para isso, a empresa está adotando uma política agressiva de cobertura, inicialmente da América Latina para depois projetar-se rumo à Europa. Se os lucros da Maurício de Souza são grandes, isto não significa que eles o beneficiem passoalmente. Luca diz: - Afinal, quando todos gastavam os lucros, nós investimos. Isto é possível porque Maurício detém 95% da empresa. Garibaldi Luciano Filho, 42 anos, diretor administrativo-financeiro, revela: - Maurício, até há poucos meses, nem possuía casa própria. E semanalmente eu é que lhe dou uma mesada para os seus gastos. Que só entrego às 21 horas, quando, às sextas-feiras, ele sai do escritório, pois senão ele dá todo o dinheiro aos que lhe pedem. Ele dá até a camisa... Para provar que não é uma força de expressão, Garibaldi conta uma história: há alguns meses, numa manhã fria, Maurício e seus filhos passeavam pelo Parque do Ibirapuera. Apareceu um mendigo, trêmulo e pedindo ajuda. Maurício, que no momento não tinha dinhero no bolso, não teve dúvidas: tirou o seu blusão de couro e entregou ao pedinte. O próprio Maurício explica sua preocupação em reinvestir sempre o que tem ganho. - O dinheiro entra e eu coloco no setor onde quero que cresça. Estamos caminhando para socializar a empresa, já que não tenho sócios e quero manter meus colaboradores. Formar bons profissionais - desenhistas, roteiristas, arte-finalistas, administradores etc. - leva tempo. Assim é importante que eles se integrem à empresa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
4
15/02/1987

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