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Aramis

Jerry e as trilhas dos grandes filmes

É difícil entender por que a Warner, cujo catálogo é tão amplo com várias representações, não edita no Brasil a melhor trilha sonora do ano - a de "Cinema Paradiso" -, que Ennio Morricone criou para o filme de Giuseppe Tornatore. Sucesso de público e crítica, a música que Morricone fez para esta lírica poesia visual em torno do próprio cinema seria um êxito, como foi a trilha de "Amarcord", de Nino Rotta, para a obra-prima de Fellini, que até hoje é disputada pelos colecionadores. Ao menos em CD, produzido industrialmente na Alemanha, a trilha sonora de "Cinema Paradiso" saiu em alguns países europeus, e embora seja não facilmente encontrável vale a pena pedir ao amigo que viaja que tente localizá-lo. Pois, a curto prazo, não há nada que indique sua edição entre nós. Aqui, aliás, fica a sugestão a Beto Boaventura, que está deixando a presidência da EMI-Odeon para substituir a André Midani, que após dirigir a WEA do Brasil desde sua fundação está subindo para a direção latino-americana do grupo. Se a WEA não se liga para editar o melhor que dispõe em seu catálogo de trilhas sonoras, o pequeno e atento Estúdio Eldorado está dando atenção ao selo especializado Varese Sarabanda. Especializado em Soundtracks, esta respeitabilíssima etiqueta esteve na SBK Songs ligada ao grupo CBS, sua primeira representação no Brasil. Só que foi com pressa demais na fonte e quebrou o pote: acreditou exageradamente no mercado e lançou mais de 40 trilhas em menos de um ano, inclusive de títulos pouco atraentes e, como resultado, acabou acumulando encalhes e prejuízos. O Eldorado está sendo mais discreto: até agora lançou uma dezena de trilhas de filmes em evidência, espaçadamente, para garantir que os colecionadores - que continuam fiéis, mas que, naturalmente, também sofrem os impactos da inflação/recessão - possam se programar melhor em suas compras. Três dos filmes de melhor bilheteria do ano têm simultaneamente suas trilhas aqui editadas: a música que Jerry Goldsmith fez para "O Vingador do Futuro" (Total Recall), de Paul Verhoven, e para "Gremlins/The New Batch", de Joe Dante. Já o jovem Michael Camen foi quem criou a movimentada trilha para "Duro de Matar II" (Die Hard 2). Apesar de autor de mais de 50 trilhas sonoras para filmes importantes, entre as quais trabalhos de primeiro nível, Goldsmith tem sido injustamente ignorado, ao ponto de tanto em "La Musique à l'Écran", de F. Porcile (Editions du Cerf, Paris, 1969) como no recente "The Penguin Encyclopedia of Popular Music", editada por Donald Clarke (1.329 páginas, US$ 40, 1989) não se encontrar uma linha a seu respeito. Injustiça para quem consegue, numa época de fáceis concessões e na qual desaparecem trilhas com unidade, desenvolver trabalhos tão agradáveis como para "Gremlins 2" e "O Vingador do Futuro". Na comédia de Joe Dante, a banda de Goldsmith, mesmo com temas próprios, utiliza sutilmente músicas incidentais dentro da sátira contemporânea que realiza esta gozação em torno do retorno dos simpáticos monstrinhos. Ouve-se os seus temas musicais com imenso prazer, independente das imagens - o que testemunha a qualidade sonora. O mesmo acontece em "Total Recall", uma interessantíssima ficção-científica, que mesmo com excesso de violência, traz Arnold Schwartzenegger num personagem fascinante. A música de Goldsmith tem um elan, contribuindo ao longo das seqüências - e que se tem na distribuição dos 10 temas centrais -, aquela linguagem sonora como nos bons tempos da música para cinema. Para captar a grandiosidade musical necessária, Goldsmith usou a The National Philarmonic Orchestra, com regência de Arthur Moron. Da nova safra de compositores, Michael Kamen mostra-se também um compositor com visão de conjunto das imagens, estruturando os temas em seqüência, buscando, dentro daquela linha que fazia do falecido Bernard Hermann um mestre, casar o som ao suspense, à ação de cada fotograma. No caso, Kamen trabalhou com uma formação de músicos reunidos especialmente para os registros de seus temas, acrescidos a uma citação final de "Finlândia", do compositor Jean Sibelius (1865-1957).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
18/11/1990

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