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Aramis

Mais do que um sex symbol, a busca pela carreira-solo

Sexta-feira, 4, Paulo Ricardo terminou o dia extenuado vocalmente. Durante mais de 7 horas, do escritório de Verther Brunner, chefe da divulgação da CBS, no Rio de Janeiro, falou com mais de 40 jornalistas em dezenas de cidades. Numa estratégia econômica e simpática - iniciada quando do lançamento do elepê de João Bosco e que prosseguiu com o disco de Rosane - os artistas da multinacional gravadora mantém contatos telefônicos com jornalistas da área musical, espalhados pelo país - em entrevistas exclusivas a cada um, esclarecendo as propostas musicais dos novos trabalhos, numa integração produtiva para as duas partes. No caso de Paulo Ricardo, a CBS, aliás, tem sido generosa na atenção para com os jornalistas: em junho de 1987, quando o RPM fez um mix no qual havia duas parcerias de Paulo e Milton Nascimento ("Feito Nós" e "Homens Sapiens"), houve um encontro com o grupo e mais Bituca no Rio de Janeiro. A experiência musical, apesar de toda a cobertura, não deu certo: nem o público do RPM, nem o de Milton, adquiriram o disco. Nove meses depois, quando já se anunciava a separação do RPM, uma nova tentativa foi feita: em 24 de março do ano passado, o quarteto reuniu-se novamente com jornalistas para apresentar o elepê "Quatro Coiotes", o terceiro e último do grupo. Apesar de uma vendagem bem abaixo do esperado - apenas 200 mil contra os 600 mil de "Loiras Geladas" (lançado originalmente em novembro/84 e remixado em maio/85) e, especialmente, as 2.500.000 cópias de "Rádio Pirata" (gravado ao vivo, no Teatro Bandeirantes, lançado em agosto/86), não foi apenas este declínio de vendas que levou, finalmente, o RPM a total separação. Há muito que P.A. (Paulo Antônio) Pagne, 30 anos, baterista do grupo, insistia em ser vocalista (desejando inclusive fazer carreira solo), enquanto o destaque nacional que Paulo Ricardo obtia - transformado em sex symbol, provocava naturais ciúmes de seus parceiros. Enquanto deu para segurar a barra - apesar de todas as fofocas da mídia nacional - o grupo se manteve, mas chegou afinal a ruptura definitiva. Além do mais, experiências de se lançarem como produtores de novos grupos ("Cabine C", um fracasso) e mesmo um longa-metragem, que chegou a ter uma pré-produção, com roteiro e direção de Sérgio Rezende (na época, vindo do sucesso de "O Homem da Capa Preta") contribuíram para trazer maiores frustrações. Assim, como aconteceu com dezenas (centenas, pode-se até dizer) de grupos pop internacionais - e no Brasil com o Secos & Molhados, em 74) o RPM acabou. Paulo Ricardo e Fernando Deluch permanecem juntos, compondo e trabalhando, enquanto Luiz Schiavon, 30 anos, tecladista, e o baterista P.A. partem para novos caminhos. Como a CBS acredita em Paulo Ricardo, lhe deu condições de reiniciar uma carreira solo: um elepê que custou aproximadamente US$ 150 mil, todo um esquema de promoção acompanhando uma tournée que inicia dentro de algumas semanas, com apresentações em Santa Catarina (Curitiba fica para a segunda etapa), com Paulo e Fernando acompanhados pelo baterista Cláudio Infante, o baixista Bruno (ex-Lobão), Luiz Deboni nos teclados e Rogério na guitarra base e também vocais. xxx Carioca de longa vivência paulista, tendo permanecido em Londres entre janeiro/junho de 1983 - "quando pude aprender toda a técnica de marketing no lançamento de um grupo, acompanhando o início de Duran Duran e o Cult Club" - Paulo voltou para o Brasil decidido a deixar de ser apenas um fã do rock, sobre o qual escrevia em publicações como "Som Três", "Pipoca Moderna", "Fonograma" e "Canja" - em suas horas de folga do Colégio São Bento, para formar o primeiro conjunto - a banda "Aura", na qual o tecladista já era Schiavon. O grupo teve alterações, Fernando Deluch veio do grupo de May East e o baterista P.A. substituiria ao Júnior, nascendo o RPM, que com uma excelente estratégia de marketing e inovando em seus shows - efeitos de raio laser, excelente equipamentos e sobretudo, a experiência empresarial de Palodian (hoje o seu empresário é Mills & Niemeyer), fez com que o grupo se transformasse no maior sucesso durante dois anos. Foram mais de 15 meses com centenas de apresentações, muito dinheiro rolando e um desgaste natural. Já convidado para fazer televisão e cinema (Rezende pensou nele para o personagem Gabriel de "Louca Demais", que afinal coube a Paulo Betti), Paulo Ricardo, de amor novo (a atriz e modelo Lúcia Veríssimo) - e muitos planos, não descarta uma diversificação na carreira. Mas, de momento, preocupa-se agora basicamente na catituagem de seu elepê, fundamental para definir seu futuro profissional. Quanto ao RPM - cujo título foi por ele cunhado ("Inicialmente se pensou em Rotações por Minuto, mas depois assumimos Revoluções por Minuto) embora não tenha registro, duvida que seus ex-parceiros P.A. e Schiavon tentem reagrupá-lo - como fez (sem sucesso) João Ricardo, dos "Secos & Molhados". Duvido. Afinal, o RPM sem Paulo Ricardo seria o mesmo que o Natal sem o Papai Noel!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/08/1989

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